Zé Povinho, que aprecia a pândega e os prazeres da boa vida, boa mesa e boa bebida, não pode deixar de simpatizar com estes cinco jovens apreciadores de cerveja que decidiram fabricar, eles próprios, o seu “sumo de cevada”.
Ricardo Azevedo, Pedro Azevedo, Miguel Morais, Paulo Bastos e Pedro Silva são cinco amigos que têm cada um o seu próprio emprego, mas que estão juntos num projecto que consiste em fabricar e comercializar cerveja artesanal. Zé Povinho regozija-se: a cerveja em questão chama-se Bordallo, em homenagem ao seu criador, ele próprio um degustador de tudo o que era bom.
Mas para além destas afinidades, às quais Zé Povinho não é indiferente, há que relevar uma coisa que hoje em dia está muito na moda e que até já se ensina nas escolas. Trata-se do empreendedorismo. Estes cinco rapazes, entre os 20 e os 40 anos, querem fazer da sua cerveja artesanal Bordallo uma marca de sucesso que possa ser tão conhecida no país como o são as cavacas e a loiça tradicional caldense.
Para este projecto empresarial, que deverá arrancar em Maio, Zé Povinho só pode mesmo desejar-lhes muita sorte e apelar aos caldenses que não deixem de provar esta cerveja das Caldas.
O criador de Zé Povinho nunca gostou muito dos ministros das finanças do seu país, sendo na época o ministro que lhe calhou em sorte, Barros Gomes, o mais caricaturado. Se Bordalo Pinheiro fosse vivo hoje provavelmente Maria Luís Albuquerque e o seu homólogo alemão, Wolfgang Schäuble, seriam as vedetas dos seus desenhos humorísticos.
Ora o ministro alemão, pior que a sua chefe, Ângela Merkel, que tem o bom senso de, mesmo que pense o mesmo, não o afirmar, não se tem cansado de fazer declarações de interferência directa em relação aos destinos da Grécia.
Ainda nos últimos dias acusou o governo grego, recentemente eleito, de “insultar aqueles que têm ajudado a Grécia nos últimos anos”, veiculando uma ideia que também tem sido aplicada aos portugueses em geral: “a Grécia, durante muito tempo, viveu acima das suas possibilidades”. Como se tem vindo a demonstrar com os portugueses, afinal são alguns apenas, como os homens do BES, do BPN, do BPP e outros, que viviam muito acima das suas possibilidades.
Esqueceu-se o ministro alemão que parte das compras dos gregos foram feitas – a descoberto – à Alemanha, como foi o caso dos submarinos e outros bens de luxo, como automóveis de gama alta produzidos naquele país, por conta de empréstimos dos bancos alemães, que foram os primeiros a serem cobertos pelos empréstimos da troika.
Mas o ministro Schäuble teve o despudor de fazer esta afirmação anti-democrática: “sinto muito pelos gregos, elegeram um governo que de momento se comporta de maneira bastante irresponsável”.
Mais irresponsável, porém, é deixar no desemprego mais de um quarto da população activa e metade da população jovem, ter mandado para a pobreza centenas de milhares de gregos e ter acabado com o serviço nacional de saúde para os desempregados há mais de um ano deixando sem assistência mais de 600 mil pessoas.
O que diriam os portugueses se a receita tivesse sido a mesma, quando aqueles que fugiam às responsabilidades e aos impostos certamente estavam a salvo em qualquer paraíso fiscal?
O ministro Schäuble podia pôr na carta mais alguma coisa, mas quer ser duro para dar razão à receita que impôs aos PIIGS – Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Spain (Espanha). Mas vai ficar para a História como um carrasco que está prestes a dar cabo de uma Europa unida que já foi um espaço de coesão, de paz e de solidariedade.