Os jovens caldenses fizeram uma festa ao ar livre e foram tomadas todas as medidas de segurança

A pandemia veio alterar, de um modo geral, o quotidiano de todos. Uma “ameaça” que se tornou acrescida quando se trata de iniciativas como os casamentos, cujos preparativos começam muito tempo antes e os noivos querem ver todos os familiares e amigos reunidos. O casal de caldenses Madalena e Tiago Frade dos Santos viveu esse dilema, mas optou por seguir o planeado e deu o “nó”, em inícios do mês, em Avis e com uma festa ao ar livre, num monte alentejano. Garantiram todos os procedimentos de segurança

Ficaram noivos em Abril de 2019 e três meses depois escolheram o local do copo de água, um monte alentejano com hectares de oliveiras, no Ervedal. No entanto, a poucos meses da realização da cerimónia, Madalena e Tiago Frade dos Santos tiveram que tomar uma difícil decisão. A pandemia causada pelo novo coronavírus obrigou a novas regras de segurança e procedimentos na vida quotidiana e, também, na cerimónia do casamento.
A primeira decisão que tomaram e que os ajudou “a libertar da pressão e ansiedade” de não saberem com o que poderiam contar, foi a de casarem, independentemente de poderem realizar, ou não, a festa e de ter todos os convidados que gostariam. “Tomada esta decisão, fomos quase diariamente avaliando a evolução da situação e das medidas que iam sendo aplicadas”, recorda Madalena Morgado Frade dos Santos à Gazeta das Caldas.
O facto de se tratar de um local ao ar livre pesou na decisão de manter a cerimónia. O jovem casal de caldenses começou, então, a estudar toda a legislação que existia para este tipo de eventos e, como sentiram que não que existiam medidas suficientemente explícitas, elaboraram o seu próprio plano de higiene e segurança. “Tivemos várias reuniões com todos os fornecedores do nosso casamento e, conforme a legislação em vigor, aplicámos todas as medidas previstas para a área da restauração, bem como tentámos perceber todas os cuidados adicionais que poderíamos adoptar”, conta a jovem. Os noivos encetaram contactos com as autoridades competentes (município, GNR e Direcção Geral de Saúde), não só para poderem receber algum feedback sobre como actuar, como também para informar que o evento se iria realizar e dos cuidados que estavam a ser adoptados.
Também começaram a informar os convidados da decisão de manter a cerimónia e partilharam todo o plano de higiene e segurança que iriam implementar, para que estes tivessem acesso a todos os momentos do casamento e, também eles, tomarem uma decisão mais ponderada e esclarecida do risco que iriam assumir.
“Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para diminuir ao máximo a possibilidade de transmissão do vírus mas, infelizmente, nunca iríamos conseguir extingui-la na totalidade pelo que também esta realidade teve que ser abertamente transmitida a todas as pessoas que iriam estar presentes”, explica Madalena.

REGRAS DE DISTANCIAMENTO E SEGURANÇA

A festa contou com uma centena de convidados, sendo que apenas alguns presenciaram a cerimónia sendo que não tiveram que diminuir o número por imposição. Na cerimónia religiosa foram tidas as regras aplicáveis em celebrações da eucaristia, que prevêem o distanciamento de dois metros entre os agregados familiares e o uso de máscara. Para ter um maior controlo e garantirem lugares sentados para todos os convidados dentro da igreja, elaboraram um “sitting plan”. “Pedimos a dois dos padrinhos e duas das madrinhas que nos ajudassem no dia com esta tarefa, tendo eles o papel de receber as pessoas, pedir para que desinfectassem as mãos e colocar a máscara. Estas foram depois encaminhadas para o lugar que já lhes era destinado, cumprindo deste modo o distanciamento de segurança”, resumiu.

ADIADA VIAGEM AO ESTRANGEIRO

Relativamente ao inicialmente previsto, apenas os buffets tiveram que ser suprimidos, sendo substituídos por buffets assistidos em que o serviço de catering se disponibilizava a servir cada um dos convidados.
“Mesmo com todo o nervosismo, trabalho adicional de preparação do grande dia e todas as contingências que tiveram que ser adoptadas, acabámos por ter um casamento que superou todas as nossas melhores expectativas, e um dia muito feliz”, resume o casal que reside actualmente em Lisboa.
Adiada ficou apenas a viagem para o estrangeiro em lua de mel. A gestora de exportação, de 26 anos, e o advogado, de 25, optaram por aproveitar os dias da licença de casamento para umas férias em Portugal.

MAIS DE 90% DE ADIAMENTOS

Na vila de Óbidos, um dos locais preferidos dos noivos de todo o país e até mesmo estrangeiro, para casar, desde que começou a pandemia ainda só se realizou um casamento. Este decorreu em finais de Junho e estão previstas mais algumas cerimónias em Agosto.
Durante o ano passado foram celebrados 21 casamentos na Igreja de S. Pedro e 17 na de Santa Maria, num total de 38 enlaces. Para este ano estavam previstas várias dezenas destas celebrações, mas que devido à pandemia foram adiadas para 2021. O pároco de Óbidos, Ricardo Figueiredo, já celebrou casamentos, mas fora da vila medieval. Destaca que as indicações de segurança são as mesmas das eucaristias, definidas pela Conferência Episcopal Portuguesa, acrescido do facto de apenas os noivos poderem manipular as alianças para não haver contacto. “Os casamentos podem ser efectuados desde que decorram as regras que estão estipuladas”, disse, acrescentando que muitos deles foram adiados, não por causa da cerimónia na igreja, mas porque as quintas e outros locais onde decorre a festa estão impedidos de trabalhar.
O pároco diz que aguardam que a situação volte ao normal, “com toda a responsabilidade que devemos ter”.

MAIORIA DOS NOIVOS ADIOU CASAMENTO

A maioria dos noivos decidiu adiar a data de casamento para o próximo ano, de acordo com um inquérito realizado pela Zankyou, a plataforma internacional que ajuda a planear casamentos. Através do inquérito feito, ao qual responderam 350 noivos – alguns que se encontravam já na fase final de organização do seu casamento – cerca de 60% afirmaram ter decidido adiar a data do casamento, sendo que uma grande percentagem aponta a mudança para os meses de Setembro e Outubro. Seguem-se os dois primeiros trimestres de 2021, com maior preponderância para a Primavera e, ainda, Junho do próximo ano. Os meses de Verão continuam na preferência dos noivos, sendo que um dado importante é que 13% dos noivos afirmam ainda não ter nova data. “De salientar que 84% dos casais que adiaram a data dizem estar preocupados com a eventual ausência de convidados”, refere a Zankyou.
Entre os noivos inquiridos, 32% dos casais decidiu manter a data do casamento, pelo menos numa fase inicial, sendo que 69% dos noivos dizem terem tido o apoio total dos seus fornecedores, que compreendem as suas inseguranças e oferecem soluções adequadas, nomeadamente flexibilidade para uma mudança de data.
A opção por dias alternativos para celebrar o casamento, nomeadamente a uma sexta-feira e ao domingo, também tem sido tida em conta devido à procura que tem crescido para os últimos meses deste ano. O inquérito mostra ainda que apenas cerca de 5% dos casais decidiram cancelar a sua celebração, quer pelas suas “próprias inseguranças, quer pelo receio de não terem convidados ou pela pressão de poderem estar a por em risco a sua família e/ou amigos, sobretudo todos os que pertencem aos grupos de risco”.
Entre Março e Maio deste ano, realizaram-se em Portugal 1775 matrimónios, menos 2993 do que em igual período de 2019. No entanto, as datas para o próximo ano começam a ficar lotadas.