“Preso por ter cão, preso por não ter cão!” é um dito popular que se pode bem aplicar ao primeiro-ministro de Portugal, Dr. António Costa, na sequência dos resultados da última Cimeira Europeia que foi concluída na passada terça-feira em Bruxelas. Nessa magna e prolongada reunião, a partir do orçamento da UE a longo prazo e do Fundo de Recuperação, Portugal “arrecadou” 15,3 mil milhões de euros em transferências a fundo perdido para a recuperação à covid-19, bem como 29,8 mil milhões de euros em subsídios do orçamento da UE a longo prazo 2021-2027. A estes valores acrescentam-se ainda 10,8 mil milhões de euros em empréstimos, ainda no âmbito do Fundo de Recuperação, a juros razoáveis. Parece mesmo um bom Plano Marshall do século XXI para um país que não beneficiou cabalmente deste nos anos 1940 a seguir à II Grande Guerra. O bom Zé Povinho faz as contas à moda do Porto e dirá que lhe deverão caber cerca pelo menos 5600 euros em subsídios e empréstimos ao longo deste período…
Por mais que o Dr. António Costa se esforce em demonstrar o profundo e autêntico esforço que teve de fazer neste fim de semana prolongado, muitos portugueses o que querem ver próximo do seu bolso são os resultados destes euros, esquecendo-se por vezes que só uma aplicação cuidada e inteligente deste dinheiro pode trazer o retorno em emprego, riqueza, saúde e futuro para todos.
Zé Povinho saúda o Dr. António Costa pelo êxito que parece ter obtido, mau grado os avejões, aves de mau agoiro que sobrevoaram a reunião, mas teme que outras aves e animais de rapina, se abalancem a subtrair parte do bolo para os seus discutíveis projectos de interesse pouco interessante e popular. Será que desta vez quebramos a regra tradicional dominante nos países pobres e de gente invejosa?

Zé Povinho acompanhou atentamente a longa reunião magna em Bruxelas, entrecortada por pequenas reuniões bilaterais ou de grupo de pressão, que se desenrolaram nos últimos dias para a decisão europeia de salvar a União de tão grave crise que se abate, especialmente sobre os países do sul menos prósperos e conhecidos ou acusados pelas suas prodigalidades.
Apesar do eixo franco-alemão da Sra. Merkhel e do Sr. Macron, se terem batido por uma decisão provavelmente mais justa, o eixo dos frugais (formado pela Holanda, Áustria, Suécia e Dinamarca), tudo fizeram para empatar e reduzir a dimensão dos apoios aos países do sul, esquecendo que são eles também com a Alemanha, que são dos mais beneficiados com o Mercado Único Europeu.
Mas à frente deles, por vezes, com alguma razão, esteve o símbolo desse rigidez da Europa do norte, o primeiro ministro holandês Mark Rutte, que para fazer valer a sua argumentação interna contra a extrema direita populista, exerceu uma dureza argumental que quase deitou a perder o esforço da maioria dos países europeus.
Ainda para mais quando é a Holanda um dos países que beneficia mais com o Mercado Europeu e mantém no seu país funciona como uma espécie de offshore no seio da União, que permite “desviar”, para não utilizar outro termo mais agreste, milhões de euros das empresas europeias que para ali desviam as suas sedes fiscais. Daí a nossa condenação pelo cinismo do Sr. Rutte, esperando que a UE possa a prazo anular ou minorar os efeitos deste offshore nas barbas do projecto europeu. Pena tem ainda o Zé Povinho que a Suécia do respeitado sr. Olof Palme, um europeísta e solidário com os países com mais dificuldades, se tenha juntado a tais companhias….