Na Gazeta foram publicadas várias notícias sobre os filmes que Alfredo Tropa realizou nas Caldas da Rainha

Morreu o realizador Alfredo Tropa que, logo a seguir à Revolução, fez três filmes sobre as Caldas. Um deles incluiu imagens filmadadas de helicóptero, entre a cidade e a Foz do Arelho

Faleceu, a 5 de Julho, o realizador de cinema Alfredo Tropa. Este autor, que morreu aos 81 anos, foi director dos Arquivos e Documentação da RTP, depois de ter feito longa carreira na estação pública de televisão. Alfredo Tropa era amigo de vários caldenses, especialmente de José Carlos Nogueira vindo passar às Caldas para a sua casa vários períodos. “Tínhamos uma amizade cúmplice, não só política como cultural”, contou o caldense que trabalhou com Alfredo Tropa na RTP, durante os anos 60, pois o caldense era operador de videotape.
“Ele era um opositor passivo do regime”, acrescentou José Carlos Nogueira, recordando que o seu amigo fez filmes sobre todo o país, incluindo três documentários sobre as Caldas, logo a seguir ao 25 de Abril. Um deles “foi filmado de helicóptero. Recordo-me que saímos da Mata e fomos até à Foz do Arelho, registando tudo”, disse José Carlos Nogueira explicando que estes tinham como objectivo “engrandecer as Caldas e a região”. Alfredo Tropa entrevistou várias pessoas, indicadas por José Carlos Nogueira e que fizeram parte dos documentários “O Povo e o Barro”, “O Povo e a Arte” e o “O Povo e o Futuro”. Segundo a Gazeta das Caldas daquela época, os três filmes tinham a transmissão para a Eurovisão assegurada. A notícia dava a conhecer que tinham sido feitos pedidos para aquisição de cópias destes documentários, – onde trabalhou também o argumentista Álvaro Guerra – para Espanha e para o Brasil, através do Instituto de Cinema Catalão e da Globo, respectivamente. Dois anos após a Revolução, a RTP transmitia “O Povo e o Barro” sobre as Caldas, numa emissão especial dedicada às eleições e às comemorações do 25 de Abril de 1976, na primeira transmissão a cores feita em Portugal. “Nas Caldas dois estabelecimentos comerciais fizeram instalar dois aparelhos a cores, pelos quais algumas centenas de pessoas puderam ver a novidade”, conta a Gazeta das Caldas referente a este assunto. Devido ao elevado número de pessoas que rodearam os estabelecimentos foi necessário a PSP cortar o trânsito durante aquele período na Rua Almirante Cândido dos Reis. Não foi possível transmitir todos os filmes nas Caldas, cuja exibição esteve prevista para os dias 16 e 17 de Maio, no Teatro Pinheiro Chagas, com entradas livres para caldenses.
Foi também este realizador que trouxe às Caldas uma equipa de reportagem da televisão holandesa que fez um trabalho sobre o Golpe das Caldas em 1974 e que foi difundida ainda antes da queda do regime. A peça foi visionada em todo o mundo, com excepção do nosso país. Foram entrevistadas algumas pessoas, que aparecem disfarçadas, na reportagem holandesa, numa sessão gravada em casa do caldense Custódio João Freitas, também amigo de José Carlos Nogueira e de Alfredo Tropa. Era a informação que podia chegar ao mundo sobre os acontecimento das Caldas, que anteciparam a Revolução dos Cravos. Para a reportagem contribuíram familiares dos militares do RI5, que então se encontravam presos.