Ricardo Campos enverga a camisola de Moçambique e segura a do U. Madeira com a camisola, as botas e as luvas com as quais defrontou o FC Porto

Lesão estragou a estreia no principal escalão e condenou o resto da carreira do guardião, que pendurou as luvas esta época ao serviço do Torreense. Com uma carreira construída de baixo para cima, Ricardo Campos destaca ter cumprido todos os seus sonhos no futebol

12 de Março de 2016. A data pouco dirá à maior parte dos leitores, mas para Ricardo Campos é um dia que nunca esquecerá. Foi nesse dia que cumpriu um dos sonhos de qualquer profissional de futebol, jogar na 1ª Liga e logo no Estádio do Dragão, contra o FC Porto. “Foi a estreia que ambicionava há muito”, afirma o guardião com saudade. Raul Gudiño estava com a titularidade na baliza, mas, emprestado pelo FC Porto à U. Madeira, não podia jogar. Sentiu-se bem durante o jogo e, apesar dos três golos sofridos, o jogo correu-lhe bem. Foi mesmo um dos destaques do Goalpoint, ao deter seis remates para golo. No entanto, o remate de Tecatito Corona ao minuto 87 fixou o 3-2 para os dragões e condenou a carreira do guardião. O guardião tinha acabado de regressar após seis meses de paragem com uma lesão no ombro direito. Na tentativa de defender o remate Corona, fez uma lesão idêntica no esquerdo. “Provavelmente já teria algum problema, quando toquei na bola perdi a força no braço e senti algo a ceder”, conta Ricardo Campos. Quando o jogo terminou, já nem conseguia mover o ombro. “Fui sozinho para uma das salas do estádio, sentei-me no chão e comecei a chorar, sabia que ia enfrentar nova paragem longa”, recorda. Foi um novo suplício de seis meses sem treinar. Um novo arranque de época perdido. E a pressa de voltar a jogar não foi boa conselheira. “Errei. Quando se pára tanto tempo é preciso fazer muito trabalho de recuperação da massa muscular, muita fisioterapia. Quis voltar o quanto antes e dei cabo do resto”, lamenta. Depois desse jogo no Dragão, em quatro temporadas fez apenas mais quatro partidas. Sempre que voltava a jogar, surgiam novas lesões. A última, um edema ósseo num joelho, fê-lo terminar a carreira de forma precoce, já esta época, aos 34 anos.

“CUMPRI TODOS OS MEUS sonhos”

Ricardo Campos acredita que ainda tinha para dar ao futebol dentro do campo. Mas as lesões ditaram o final de carreira e o início da de treinador de guarda-redes. “Era algo que queria para o meu futuro e por isso estou agradecido ao Torreense por me ter dado a oportunidade, é um clube com um projecto ambicioso”, afirma. A carreira de Ricardo Campos começou na ARECO, com 8 anos, nos torneios concelhios. Era avançado e até recebeu dois prémios de melhor marcador. Daí foi para o Caldas, onde jogou em todas as posições até parar na baliza. Num jogo de treino pelos iniciados, convenceu o Benfica a contratá-lo. Aí fez a restante formação e chegou a internacional Sub18 por Portugal. Regressou ao Caldas para poder jogar no primeiro ano de sénior. De resto, dar um passo atrás para poder voltar a subir foi algo de que nunca teve medo. “Acreditei sempre que podia chegar ao topo, trabalhei muito e consegui”, diz Ricardo Campos, que ainda cumpriu o sonho de ser internacional A, por Moçambique, onde destaca o entusiasmo com que se vive o desporto-rei. “Podia ter estado mais tempo no topo, mas, com o apoio da minha família nos bons e maus momentos, cumpri todos os sonhos que tinha no futebol”, conclui.