EdiNos primeiros anos do século XX, a “Livraria Aillaud e Bertrand”, publicou uma coleção que se tornou muito popular: a Biblioteca de Instrução Profissional. Com mais de 50 títulos publicados, abrangia desde a carpintaria, à química, da aritmética, à construção de navios, passando pela arte, técnica de fundição e não esquecendo a “Indústria Cerâmica”, o livro que temos agora entre mãos. O responsável por esta coleção era Thomaz Bordallo Pinheiro [1861-1921], irmão do nosso Mestre Caldense. Livro datado de 1907, é da responsabilidade do professor Joaquim de Vasconcelles o texto preliminar.
E é desse texto, que vamos reproduzir parte do que o ilustre professor nos ensina sobre a história da cerâmica.
Ora então aqui vamos:
[…] “As necessidades da vida quotidiana obrigaram o oleiro a fabricar primeiramente uma louça singela, lisa, para uso doméstico, resistente, portanto esmaltada, excepto aquela que tivesse de ir ao fogo. Para os consumidores mais remediados começou a aparecer a primeira decoração, a pintura numa e depois mais cores, com um desenho ornamental em harmonia com o estilo de arquitetura então em voga. Os tipos mais antigos do vasilhame doméstico que conhecemos não se encontram nas coleções públicas ou particulares. Vimo-los cerca de 1870 entre as relíquias do Convento da Madre de Deus, instituição da Rainha D. Leonor, esposa de D. João II [1481-1495]. Esta princesa, que fundou as Misericórdias e protegeu poderosamente a Arte Tipográfica em Portugal, instituiu também o hospital das Caldas da Rainha. É muito provável que as preciosas e abundantes peças de vasilhame do convento houvessem saído das oficinas das Caldas. Eram mais de cem objetos, reunidos por diligentes esforços do falecido arquiteto Nepomuceno; formas arcaicas pesadas, em barro grosso, geralmente lisas, cobertas de esmalte verde. No decorrer dos anos fomos encontrar peças parecidas na região das Caldas. Outros exemplares podem vêr-se nos quadros da Escola portuguesa do último têrco do séc. XV e primeiro têrço do séc. XVI. A decoração é ora em azul, ora em verde sôb esmalte branco, e geralmente muito apurada com lavores da Renascença. Representam esses produtos uma faiança mais delgada, mais perfeita e mais bem cosida do que as peças que vimos no convento da Madre de Deus. Alternam nos quadros citados com peças de louça popular, vermelha, não vidrada. A coleção Nepomuceno desapareceu ou foi destruída por incúria, quando o arquiteto abandonou a direção das obras de conservação do convento”. Ora que novidade! Todos nós sabemos que quando há modificações há quase sempre descaminhos…