“Queremos mudar a governação e os alvos da governação em Óbidos”

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Com a candidatura à Câmara de Óbidos, o socialista Paulo Gonçalves pretende alterar o estilo e a governação no concelho

Paulo Gonçalves, de 55 anos, é natural de Leiria. Professor, foi eleito em 2017 como vereador pelo PS na lista de Vítor Rodrigues, e agora é o cabeça de lista dos socialistas para tentar acabar com 20 anos de maiorias do PSD em Óbidos.

O candidato socialista considera que a existência de sete candidaturas é sinal de que há um cansaço da governação PSD em Óbidos

O que o leva a ser candidato?
Temos dois objetivos com esta candidatura: mudar o estilo de governação e os alvos da governação. Queremos mudar o estilo de governação, que nos parece demasiado centrado no presidente, com excessiva delegação de competências dos órgãos nas pessoas. A maior parte das decisões mais importantes não passam nem à mesa da Assembleia Municipal nem à mesa da Câmara. A outra mudança são os alvos da governação. Nos últimos anos tem havido a ideia de fazer obras emblemáticas, na área do desenvolvimento comunitário, e esperar que delas venham retornos financeiros para o município. Com a pouca disponibilidade financeira da Câmara, que tem um orçamento de 13 a 15 milhões de euros (mas os custos com pessoal, bens e serviços e toda a estruturação consomem 13 milhões de euros) mas sobrará 1 ou 2 milhões de euros de investimento, a questão é onde aplicar. E só estou a falar destes executivos porque a candidatura do PSD surge numa linha de continuidade, não só nas pessoas, mas também na figura. O candidato apresenta-se com o presidente de Câmara ainda em funções nas suas costas. Passados estes anos o que vemos é que as obras vão-se fazendo com muita dificuldade, não há verba para as pagar, foi preciso recorrer a empréstimos e as questões essenciais não estão resolvidas. Óbidos é uma terra de turismo, mas não temos um terminal rodoviário ou um posto de turismo em condições, temos estacionamentos com pó, não temos casas de banho que possam acompanhar as pessoas, as praias estão quase abandonadas…

Depois de 20 anos do PSD na Câmara, poderá agora o PS recuperar o poder?
Sim, creio que temos francas possibilidades. Há quatro anos fazia parte da lista encabeçada pelo Vítor Rodrigues, perdemos e perdemos bem, porque as pessoas votaram e não houve fraude. Esperemos que seja desta. Sinto que já há uma expressão do cansaço e somos das pessoas que melhor conhecem os assuntos que se passam na autarquia. Somos os únicos, além das pessoas dos serviços que os apresentam, que conhecemos os pontos todos que vão às reuniões de Câmara. Durante estes quatro anos fizemos um trabalho de aprofundamento das questões e, mesmo sabendo que as nossas propostas raramente foram aprovadas, sempre tentámos que fossem aprimoradas. Se votamos contra por uma qualquer razão, damos sugestões de melhorias daquela que é a proposta que vai ser aprovada, o que não é muito normal em política.

Nunca houve tantas candidaturas. Qual o significado político?
Primeiro é que as coisas não estão bem, há um cansaço, um esgotamento. É um dado muito interessante. Alguns analistas dizem que isto vai dispersar os votos e que vai desaparecer a eterna dualidade PS/PSD e dos 4 contra 3. Se assim for é porque a população quis mas, se eleitos com quatro contra três, nunca trataremos isto como o PSD fez.

Nesta campanha ficou conhecido por ser o “marido da Lara”, um cartaz que se tornou viral. Qual o objetivo deste slogan?
Já era conhecido como o marido da Lara. A ideia foi a da proximidade, ao elegerem-me como presidente de Câmara vão eleger aquela pessoa que já conhecem de outras dimensões, que já tinha. Sou professor em Óbidos desde 2009 e sou conhecido por muita gente como o marido da Lara, que é uma questão muito gentil, comum em Portugal. Recebi milhares de contactos sobre esta matéria e apenas o PSD e a JSD de Óbidos foram capazes de fazer um comunicado oficial sobre a minha opção de campanha gráfica.

Que comentário lhe merece o SMS que um colaborador do município enviou de um número de telemóvel de serviço a convidar para uma iniciativa partidária?
Tenho dois comentários: o primeiro é de que isso não é novo, já há quatro anos aconteceu e o segundo é de que isso não é exclusivo do PSD nem é exclusivo de Óbidos. Acontece por esse país fora. É também por isso que me candidato, quero que as pessoas percebam que essa confusão entre público e privado, entre partido e câmara tem de ser estancado. Já o dizemos há quatro anos, mas acho que as pessoas agora apercebem-se e estão indignadas, por isso é que digo que o cansaço está a vir ao de cima porque as pessoas indignam-se com esta questão. É, de todo, imoral que isso aconteça, mas a publicação da Revista Rio há cinco dias é nessa linha e o presidente da Câmara faz uma publicação a expensas do município a dizer quais foram todas as suas obras e que apoia este candidato porque até aparece no cartaz com ele. Isso é misturar coisas. Também a retirada das competências dos órgãos para as entregar a outras pessoas é uma coisa um bocadinho estranha, como acontece por exemplo no Espaço Ó e na Óbidos Criativa. A empresa municipal é gerida por um não eleito, nada das coisas importantes que lá decorrem são do conhecimento da Câmara e há lá muita coisa absolutamente decisiva para o concelho. Detestamos esta forma de fazer política porque é, no fundo, ludibriar o sistema.

Como resolver os problemas da Lagoa de Óbidos?
O problema é que a Lagoa pertence a demasiadas entidades. O que defendemos é que, pela via do exemplo, a Câmara consiga pressionar para que muitas daquelas pequenas obras, como criar espaços de lazer e zonas de piquenique, assim como um parque de campismo. Esta ideia de uma pretensa elite, de que Óbidos pertence a uma determinada esfera, que depois não aceita coisas tão simples como um parque de campismo ou que um parque de autocaravanas é terceiro mundista… Depois, temos as pessoas a acampar de forma selvagem, as autocaravanas no parque de estacionamento e praias que não têm sítio para as pessoas terem algum conforto.

“O candidato do PSD apresenta-se com o presidente da Câmara nas suas costas”

 

Como analisa a política cultural de Óbidos?
A nossa primeira ideia é trazer de volta à Câmara a competência da cultura, que neste momento está entregue à Óbidos Criativa. Queremos que essa matéria, que tem uma importância enorme, seja regulada pelos eleitos.

Extingue-se a Óbidos Criativa?
Não se extingue a Óbidos Criativa, que tem uma capacidade instalada na produção de eventos, mas não no seu design. Não é à Óbidos Criativa que incumbe decidir que atividades são mais ou menos relevantes e onde vão ser feitas. Queremos a Óbidos Criativa como um instrumento operacional, e não só na área da cultura mas também eventos desportivos, na área do ambiente, na lagoa. Vemos a Óbidos Criativa como um excelente instrumento para operacionalizar, agora o desenho não tem de ser feito na empresa municipal porque não foram eleitos, não se apresentaram a sufrágio com nenhuma ideia. Queremos trazer para a Câmara essas decisões e apostar no turismo também ao nível das questões das tradições, questões etnográficas, pensá-lo de uma forma integrada. Queremos também olhar para o património religioso, dialogar e sermos parceiros. Há roteiros que podem ser criados, há um turismo religioso muito forte, pois estamos perto de Fátima. Queremos que traga gente mas que nos ajude a requalificar o património, que está muito abandonado.

“Somos os únicos que conhecemos todos os pontos que vão às reuniões”

Paulo Gonçalves

 

Qual a visão do PS para a saúde no concelho?
Estou preocupado com os nossos centros de saúde e o acesso aos mesmos. Preocupa-nos o estado de degradação do Centro de Saúde de Óbidos, que vai entrar em obras, mas é essencial saber onde vai funcionar o centro nesses 12 meses. Colocámos a questão e não houve resposta, se calhar vão ter de ser distribuídas pelas outras extensões de saúde, mas como? Preocupa-nos que não esteja a ser preparada uma solução enquanto a obra não se faz, mas também é essencial a questão da proximidade, pelo que queremos reforçar os meios de transporte junto das juntas de freguesia. É possível fazer um serviço a pedido: tenho uma dificuldade e vou à junta de freguesia e esta garante o transporte. Preocupa-me, por outro lado, que não tenhamos um centro de vacinação no concelho. Porque é que temos de ir às Caldas ou ao Bombarral? Há concelhos mais pequenos no país que têm centro de vacinação. Também não temos um sítio onde fazer testes e, assim, evitar que as pessoas tenham de sair do concelho. ■

Cabeça de lista do PS em Óbidos durante a entrevista nos estúdios da 91FM

“Gostávamos de retornar aos básicos na atividade municipal”

Concentrar no executivo, que foi eleito, as competências fundamentais é o objetivo do PS

O candidato do PS à Câmara de Óbidos gostava “de retornar ao básico na atividade municipal”, concentrando-se nas competências fundamentais e para as quais os eleitores elegem os autarcas. “Estão relacionadas com os equipamentos sociais, a limpeza urbana, o apoio social, a educação”, explicou Paulo Gonçalves, concretizando: “queremos melhorar a qualidade básica da mobilidade das pessoas”, quer a nível concelhio, quer a nível da vila. Por exemplo, ao nível dos jovens, que no final do 9º ano procuram as escolas das Caldas, o candidato socialista defende que “a questão é que o mundo de um aluno de Óbidos está circunscrito ao autocarro que o leva da sua freguesia às 7h30 e o coloca no mesmo sítio 12 horas depois” e que se este “quiser fazer desporto ou fazer uma ação de voluntariado, por exemplo, não pode, porque se ficar em Óbidos depois não tem como regressar à sua terra”. Esta questão coloca “pressão sobre a família, que ou tem transporte próprio e o pode ir levar ou trazer, ou não tem e aí entram fatores socio-económicos na presença: quem mais dificuldade tem, mais dificuldade encontra e não conseguimos dar o salto deste ciclo”. Paulo Gonçalves defende que “não precisamos de ter vinte autocarros, mas não podemos ter um. O Obi é um autocarro e as pessoas não o usam. Sabemos que tem custos, mas é um custo social. Como as piscinas municipais, que custaram três milhões de euros com apoio de fundos europeus e o seu custo anual é enorme, não é com o preço dos bilhetes que vamos suportar”.

PS propõe a existência de um veículo elétrico para fazer a ligação entre a estação e a vila

Relativamente aos quatro problemas crónicos (Linha do Oeste, Hospital do Oeste, Lagoa de Óbidos e desertificação da vila), o candidato realça que se passaram décadas a discutir “e não resolvemos nada que estava na esfera da nossa competência”. Nesse sentido propõe um shuttle, um veículo elétrico, que espere as pessoas à saída da estação ferroviária e as leve para a entrada da vila. “Não vamos levar dinheiro por isso, não faz sentido. Tem um custo, mas tem um benefício”, faz notar, esclarecendo que o mesmo modelo poderia ser adotado para levar turistas e pessoas com mobilidade reduzida da entrada da vila até ao seu interior e até poderia ser replicado para os moradores, que dessa forma deixariam os carros à porta da vila, num parque vigiado, mas tinham essa facilidade no abastecimento das mesmas. “As pessoas não sentem isto porque não usam”, aponta Paulo Gonçalves. “Quem está no poder executivo não vai à praia, não anda de autocarro ou de comboio. As pessoas não têm esta proximidade ao território que dizem ter, têm do ponto de vista empírico, mas não do ponto de vista real”, aponta. Relativamente aos serviços, nota que não é admissível ter serviços a funcionar em segundo e terceiro andares, sem elevador. ■