Caso Rafael Bordalo Pinheiro fosse vivo, Zé Povinho está seguro que ele não perderia a oportunidade de se associar ao evento organizado pelos alunos da ESAD e aberto a todos os que quiseram participar no Caldas Late Night.
Na semana em que na maior parte das cidades universitárias os alunos organizam os seus desfiles e bailes estudantis para os finalistas darem a despedida aos seus cursos e urbes onde viveram nos anos anteriores, nas Caldas da Rainha inovou-se e lançou-se uma iniciativa que pode parecer estranha para os hábitos dos portugueses: os estudantes abrem algumas das casas onde vivem, bem como se socorrem de alguns espaços na cidade (na rua ou no interior de espaços comerciais) para apresentarem as suas criações artísticas, ou mais simplesmente acções de intervenção no espaço público.
Ao observador menos atento, algumas dessas manifestações criativas podem parecer demasiado ousadas ou estranhas, podendo fazer crer que a arte e a criação assumem, por vezes, formas menos ortodoxas da expressão artística mais convencional.
No mundo a arte é cada vez mais de intervenção e de provocar controvérsia para suscitar reacção ao público menos erudito, mas esta é uma tendência que teve no século passado alguns protagonistas que são hoje artistas consagrados. Quem se lembra de algumas das performances de artistas altamente conceituados a nível mundial, como Salvador Dali ou Pablo Picasso, só para recordar dois nomes fundamentais da arte moderna do século XX nascidos no pais vizinho?
Zé Povinho não quer significar que nas Caldas da Rainha estará a germinar obrigatoriamente uma geração de artistas que se vão afirmar no mundo artístico (mas porque não poderá tal acontecer?) Daí que se congratule com a experiência do Caldas Late Night que se realiza há 16 anos e que já atrai alguns milhares de pessoas, não esquecendo a adesão que muitos caldenses já dão a esta iniciativa, quer cedendo espaços e apoiando a realização, quer percorrendo as várias apresentações que se espalham por toda a cidade.
Zé Povinho está certo que o seu criador, Rafael Bordalo Pinheiro, seria o primeiro a avançar ao lado destes jovens.
Zé Povinho admira gente que gosta de conhecer em pormenor a vida dos outros, especialmente de jornalistas, mais ou menos conhecidos do panorama mediático português.
Fosse apenas para conhecer aspectos da sua vida íntima, talvez demonstrasse um voyeurismo doentio, mas seria pouco, de acordo com as funções desempenhadas antes por um alto quadro da polícia secreta portuguesa.
O ex-espião Jorge Silva Carvalho, antigo director do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), que está na origem de várias polémicas que têm alimentado a informação política nos últimos meses, foi apanhado recentemente com muita informação sensível, mas também com dois relatórios sobre a vida pessoal (e íntima) do fundador do semanário Expresso, militante nº 1 do PSD e ex-primeiro ministro, Francisco Pinto Balsemão, bem como do actual director do mesmo jornal, Ricardo Costa.
É caso para perguntar o que vai na cabeça de pessoas como o ex-chefe das secretas externas para se dar ao dislate de mandar fazer relatórios, utilizando os seus conhecimentos e serventuários nessas polícias, sobre pessoas que estão em disputa com o seu ex-recente patrão e confrade da mesma loja maçónica?
Zé Povinho recorda que o seu criador não perdeu no seu tempo a oportunidade de desancar no polícia da secreta que satirizou numa figura detestável, pelo que Silva Carvalho, mais anafado e buliçoso, não perde a marca que Bordalo não prescindiu.
Mas tal como no século XIX, afinal as secretas em Portugal não perderam o seu estilo pequenino e mexeriqueiro, que perante as ameaças externas que podem ser poderosas, preferem a intriga interna para se promoverem ao pé de algum capitalista que lhe dará mais sustento.