A Semana do Zé Povinho

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Num país com um elevado défice de cidadania e de participação cívica é com alguma simpatia que Zé Povinho assiste ao emergir de comissões de utentes que lutam pela defesa dos seus hospitais na região e combatem uma reorganização dos cuidados de saúde pouco democrática, conduzida de forma autista pelo governo, que prefere decidir envergonhadamente no silêncio dos gabinetes em vez de ouvir os principais destinatários daqueles a quem as reformas se destinam.
Sabendo-se que os principais partidos políticos são aquilo que são – entidades que visam unicamente o poder – estes movimentos cívicos são um bom exemplo do exercício da Democracia feito a partir das bases.
A marcha simultânea que decorreu no sábado passado nas Caldas da Rainha, Peniche e Torres Vedras prova que há espaço para a manifestação cívica e para o protesto fora dos partidos políticos.
A Comissão de Utentes Juntos Pelo Nosso Hospital, representada aqui pelo médico António Curado, ele próprio um reputado profissional, está, pois, de parabéns.

O senhor ministro Miguel Relvas conseguiu a proeza, em poucos meses do período em que o actual governo de Passos Coelho está em funções, de passar de bestial a besta, como diz o povo.
Foi o principal artífice da campanha interna no PSD para a eleição do actual primeiro-ministro para a liderança do partido, depois foi um dos seus suportes mais importantes na campanha eleitoral que levou os sociais-democratas à vitória no ano de 2011, e finalmente detinha uma das principais pastas do governo de coordenação e de centralização da respectiva actividade, bem como de coordenação da pasta da comunicação social.
Não contente com tudo isto, inicia o seu processo de queda e desgraça, com erros menores, como dos lapsos sobre a sua relação com os homens das secretas, que se haviam transferido (ou indirectamente se colocaram ao seu serviço) para a área dos interesses privados. Depois passou às ameaças em relação aos jornalistas que lhe haviam descoberto rabos de palha nas suas declarações públicas. E finalmente foi “apanhado” nas teias da vaidade “doutoral”.
Em países pobres ou remediados muitos políticos perdem-se geralmente pelos complexos do ter ou não ter (propriedades, veículos, andares, etc.) e pelo ser ou não ser (títulos emprestados ou conquistados por favor). Em Portugal Zé Povinho lembra-se da série de “figuras” ao longo das últimas décadas que sofreram com esta situação, nomeadamente o anterior primeiro-ministro.
Ora o Dr. Miguel Relvas, por mais que se justifique, não percebe que não conseguirá convencer ninguém. Zé Povinho ouviu o conhecido comentador Marcelo Rebelo de Sousa na sua crónica do passado domingo antecipar que certamente haveria relatórios de sustentação do reconhecimento de competências por cada uma das 32 disciplinas assinadas por dois doutos lentes. Vinte e quatro horas depois descobriu-se que há apenas um lacónico documento assinado por duas figuras da Universidade Lusófona, que não justificam suficientemente, como se impunha, a razão da atribuição desses créditos.
Para o Dr. Relvas este novo facto deverá ter sido a sua sentença de morte, mesmo que continue a arrastar-se em estado comatoso ao longo de mais alguns meses pelo país. Como dizia o conhecido Prof. Narana Coissoró títulos honoris causa só os conhecia para doutoramentos de personalidades de reconhecido mérito, agora licenciaturas…

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