Estudados, analisados e reflectidos os resultados da gestão, por parte da Câmara Municipal de Caldas da Rainha, dos dinheiros municipais referentes ao ano de 2011 e, tendo o documento apresentado pelo executivo camarário merecido a aprovação do CDS, há algumas observações que devem ser feitas.
A contenção na despesa, a austeridade nos gastos, o rigor na dívida e a assunção, essencial para quem está no CDS, de que a economia real pertence aos cidadãos e às empresas, são ponto assente do nosso ideário e do projecto que temos para as Caldas.
Para nós, é o caminho do rigor nas contas, da boa gestão de fundos e do respeito pela bolsa dos contribuintes que vale a pena ser seguido, e não pomos isso em causa. Com efeito, ao contrário do que sucede com o resto da Oposição, não é a falta de despesa que criticamos, nem os benefícios fiscais para os munícipes que vemos com desconfiança – ou como algo negativo para o concelho. É a ausência de tudo o resto, de tudo aquilo que poderia fazer a receita funcionar e que, ou por inércia, por inépcia ou por desleixo, nunca foi feito, nunca foi pensado, nunca foi planeado.
Sem esse ponto essencial, determinante para o futuro do nosso município e parte integrante do sucesso da receita de controlo austero, sustentável, rigorosa, o actual caminho não levará a lado nenhum. De pouco vale uma taxação competitiva se, com isso, não se conseguir atrair investimento; de pouco vale a diminuição de dívida (com nota negativa para o aumento da dívida das associações da responsabilidade do município) e as contas controladas, se isso não servir para pôr o município no caminho do desenvolvimento e da prosperidade.
Olhando para o nosso passado recente, para o caminho que nas últimas décadas decidimos seguir, nota-se uma completa falta de ideia de um amanhã, de um rumo, de um destino.
O que se fez em 2011 não espelha mais que isso mesmo! Como nas décadas anteriores, a cidade – e com ela, o município – continua sem uma ideia de si mesma, sem saber que identidade assumir: se, como tentou fazer no passado, deve olhar para si mesma como uma cidade essencialmente cultural, ou se, pelo contrário, quer reconhecer-se e redescobrir-se como uma cidade de serviços em que o termalismo (que com apenas 1500 aquistas por ano já praticamente não existe) e o comércio (que mercê da inexistência de algo que atraia visitantes e turistas, está a morrer) sejam a base da sua vida social e económica.
No entanto, sem uma direcção e um rumo escolhidos e, pior que isso, com o falhanço, por parte da Câmara, em salvar os únicos dois subsectores que ainda vão, mal ou bem, permitindo a sobrevivência da cidade, o futuro das Caldas apresenta-se tudo menos risonho. Apagada do mapa e com uma identidade escondida, o município é um navio à deriva. E que ninguém se engane: novas calçadas e um ar mais europeu para a cidade não serão suficientes para alterar esse estado de coisas. Para mudar de futuro, necessário mesmo é perceber, debater e decidir a vida do concelho, o seu passado e, muito mais importante que isso, o seu futuro, perceber o que podemos ser e o que temos para isso, que potencialidades poderemos usar para preparar o nosso amanhã.
Para mudar de futuro, necessário mesmo é mudar de vida. Mas não só: igualmente necessário é perguntar, hoje, de que é que o concelho vive e como vai, no futuro, sobreviver.
Luis Braz Gil
Presidente da Comissão Política Concelhia de Caldas da Rainha