Hoje, sexta-feira, 16 de Março, vai ser apresentada a banda desenhada de José Ruy sobre o golpe das Caldas que ocorreu há 44 anos. A apresentação do livro terá lugar pelas 10h00 no CCC. No sábado, 24 de Março, pelas 16h00, será inaugurado o monumento evocativo do 16 de Março, da autoria de José Santa Bárbara, que está a ser instalado em frente ao antigo RI5 (hoje Escola de Sargentos do Exército).
A saída da coluna de militares do RI5 (ver caixa), um mês antes da Revolução de Abril, está agora registada ao pormenor pelo mestre de banda desenhada, José Ruy. Foi com a preciosa ajuda do coronel Vítor Carvalho e coronel Otelo Saraiva de Carvalho que o autor de BD conseguiu ir desenhando, dando a devido atenção a pormenores importantes como a forma que estavam vestidos ou quais eram as marcas e os modelo das viaturas usadas na revolta do RI5. Estas são informações indispensáveis para um autor que “quer fazer um trabalho com rigor”, explica José Ruy, autor que se dedica à BD desde os anos 40 e que soma dezenas de álbuns, muitos sobre a História de Portugal.
José Ruy já nos anos 90, tinha contado a história da fundação das Caldas, no livro também de BD, Nascida das Águas. Agora há uma nova edição desta obra, dedicada ao 16 de Março. “Há nesta narrativa gráfica muitas revelações não divulgadas antes, que me dão o privilégio de as apresentar em primeira mão”, contou o autor que colocou, por exemplo, Otelo Saraiva de Carvalho a fumar, numa vinheta e quando a enviou ao autor este respondeu-lhe que na altura não fumava. “Alterei logo o desenho”, disse.
A pesquisa para contar o 16 de Março incluiu ainda uma visita ao Quartel das Caldas, que a Gazeta das Caldas também acompanhou em Outubro. Essa visita “foi muito útil para a reconstituição das instalações na época, como os dormitórios, o refeitório e outros recantos, bem como as partes exteriores”, referiu o autor que também a agradeceu à Gazeta por lhe terem sido facultadas fotografias tiradas no próprio dia da saída da coluna militar do Quartel em 1974. “Estas foram-me muito úteis para as cenas em que reproduzi as situações dramáticas do cerco à Unidade Militar revoltada”, contou José Ruy dando a conhecer mais um pormenor: o Brigadeiro Serrano usava óculos e assim pôde ser fielmente retratado na nova obra. “O meu sistema de trabalho é esboçar as vinhetas e colocar-lhes o texto respectivo, que vai para aprovação dos consultores científicos”, disse José Ruy confirmando que depois passa a definitivo, mas ainda a lápis, em formato maior para poder ser reduzido fotograficamente. São os consultores que se certificam que está tudo correcto em relação a temas como as patentes dos militares e as fardas que vestiam ou o ambiente dos locais onde as reuniões secretas se realizaram. Na fase seguinte, o autor cobre os desenhos a tinta-da-china, na arte final.
No dia 24 de Março, pelas 16h00, será inaugurada a peça que está a ser instalada em frente à ESE e que é da autoria de José de Santa-Bárbara.
16 de Março em síntese
No dia 16 de Março de 1974, uma coluna de militares “revoltosos” que queria acabar com o regime saiu do então RI5 nas Caldas rumo a Lisboa, julgando que a eles se iriam juntar militares de outras unidades. O golpe falhou. Os militares tiveram que voltar ao quartel das Caldas, onde foram cercados pelas forças afectas ao antigo regime. Mas a tentativa de revolta foi uma espécie de ensaio para o que aconteceu no mês seguinte, com a Revolução dos Cravos, após 40 anos de Estado Novo.