Abriu ao público, a 20 de fevereiro, a mostra “Abel Salazar, o desenhador compulsivo” que marcou o início das atividades no museu caldense
Abel Salazar (1889-1946) foi médico, cientista, artista, ensaísta e crítico de arte. É numa monografia, que será editada em breve, que escreveu um texto, inédito, dedicado à obra de José Malhoa. A opinião de Abel Salazar sobre a pintura do caldense foi distribuída na inauguração da mostra “Abel Salazar, desenhador compulsivo”, organizada pela Liga de Amigos do Museu José Malhoa (LAMJM) e pela Casa-Museu Abel Salazar.
O bom tempo fez com que a inauguração da mostra tivesse lugar no exterior do museu onde os participantes ouviram os responsáveis da mostra, do museu e da cidade, a saudar o retorno às atividades culturais presenciais. A nova diretora do museu, Nicole Costa, sublinhou a sinergia que foi necessária entre várias entidades e que tornaram possível a vinda desta exposição às Caldas.
O presidente da Câmara, Vítor Marques, igualmente satisfeito com o retomar das atividades presenciais, salientou o facto de que a realização dos eventos, “é sempre mais fácil em parceria como comprova a vinda desta exposição às Caldas”, que conta agora com a exposição de de desenhos da Casa-Museu Abel Salazar, que fica em S. Mamede Infesta.
“Esta exposição está a ser preparada há, pelo menos, dois anos e marca o reinício das nossas atividades”, disse Margarida Taveira, a presidente da LAMJM que deu a conhecer que Abel Salazar, além de médico e cientista, foi um artista que expressou em gravura, pintura, cobre martelado e que desenhava muito sobre vários tipos de materiais. A responsável referiu ainda que a exposição “Abel Salazar – O Desenhador Compulsivo” contará com visitas guiadas que se vão realizar nos dias 5 e 6 de março de manhã e à tarde e que serão conduzidas por Luísa Garcia Fernandes, da direção da Casa-Museu Abel Salazar. Segundo a dirigente, a mostra, que é composta por 197 desenhos, permite conhecer a faceta deste artista que “desenhou durante toda a sua vida por vezes de forma compulsiva”.
Abel Salazar desenhou retratos, cenas de rua e retratou muito a mulher: seja a trabalhadora, seja a burguesa.
“Enquanto viajante desenhou muito e chegou também a participar em eventos internacionais como representante dos médicos”, disse a Luísa Fernandes. Em 1921, Abel Salazar “passou por um período difícil, ligado ao cansaço extremo, que durou quatro anos”.
Admiração pelo pintor caldense
Nessa altura, em que deixou de trabalhar, o médico aproveitou para escrever sobre artistas e “foi pioneiro a elogiar a obra de José Malhoa, um dos artista que ele muito admirava”,explicou.
No seu texto, Abel Salazar carateriza Malhoa como “o mais forte o mais caraterístico e o mais original dos nossos pintores contemporâneos”. Acrescenta ainda que se trata de “uma figura de primeiro plano do nosso meio artístico”.
O médico tece rasgados elogios às pinturas e aos desenhos do naturalista caldense. A todos menos a um. O famoso “Fado” não colheu opinião positiva do cientista. “O seu “Fado” é infeliz e dir-se-ia que o artista quis descer a cortejar a lamechice nacional, tomando como tema um assunto duma trivialidade que não tem o sadio colorido dos seus temas campestres, nem poesia ou interesse geral, nem pictórico”.
Abel Salazar, que a partir de 1918 foi professor catedrático de Histologia e Embriologia na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, criou o Instituto de Histologia e Embriologia da instituição. No entanto, em 1935 acabaria por ser afastado.
O regime da época não admitia vozes discordantes e, como tal, Abel Salazar foi afastado da sua cátedra, do laboratório, proibido de frequentar a biblioteca e também de se ausentar do país.
Entre outras atividades manteve-se como pintor, ensaísta, historiador e crítico de arte, tendo até lecionado cursos de História de Arte aos seus colegas. A mostra “Abel Salazar – O Desenhador Compulsivo” encerra a 8 de maio e conta com conferências sobre este autor multifacetado.