O Festival de Arte Urbana tem mais duas intervenções terminadas: a primeira de Add Fuel que se dedica ao azulejo e à cerâmica local. A segunda é uma figura feminina que lembra uma rainha-marinheira, que também alude ao mercado do Peixe. A primeira está na Rua Capitão Filipe de Sousa e a segunda numa fachada, em frente ao CCC. Esta última resultou de um concurso, lançado localmente.
O Festival de Arte e Linguagens Urbanas (FALU) prossegue de vento em popa e já se vêem street art hunters (caçadores de arte urbana ) a fotografar as intervenções desta edição de estreia. Este é um tipo de turismo crescente e que é feito por pessoas que seguem as obras de determinados autores e que escolhem fazer férias em locais onde há forte presença de arte urbana e de muralismo.
A iniciativa da Associação Riscas Vadias, apoiada pelo município caldense, já tem mais duas intervenções de arte urbana. É na Rua Capitão Filipe de Sousa que pode agora ser apreciada a peça de Add Fuel que é uma homenagem, não só à azulejaria portuguesa mas também à cerâmica local. “As Caldas tem uma tradição artística muito forte, por causa da cerâmica e também da ESAD”, disse o artista à Gazeta das Caldas no final de mais uma jornada de trabalho. Diogo Machado surpreende-se até com o facto de um festival deste tipo “não ter surgido mais cedo nas Caldas”. O artista, que possui trabalhos em várias localidades portuguesas, tem também presença pelo mundo. Na verdade, há peças de arte urbana deste autor pelos cinco continentes Add Fuel é convidado para realizar peças em vários países e o autor, formado no IADE, leva por norma releituras contemporâneas desta arte cerâmica que também reveste paredes. Add Fuel sente até que tem a missão de dar a conhecer a azulejaria portuguesa pelo mundo fora. E constata que, para algumas culturas, a azulejaria “é uma arte algo exótica, que desperta muita curiosidade”. Add Fuel, que tem peças de arte urbana nos EUA, na China e na Austrália, nas intervenções que faz, além do azulejo procura incluir alguma característica local. Na sua opinião, a sua peça de arte urbana tem que “encaixar” no local pois quem lá vive deve ter algum elemento com que se identifique. “Tento por isso que haja sempre uma adaptação, seja em que país for”, contou o artista que optou por trabalhar o mosaico hidráulico em Paris ao passo que em Montreal preferiu retratar o mais tradicional azulejo azul branco português. Ainda não sabia mas foi informado, pela organização canadiana, que tinha feito uma óptima escolha, dado que na zona, se situava o bairro português daquela cidade.
O Covid-19 acabou por provocar grandes alterações na agenda do autor, que tinha por exemplo prevista uma exposição do seu trabalho em Los Angeles para Abril e que teve que ser adiada. Add Fuel aposta por isso em trabalho de estúdio e salienta que tem feito bastantes trabalhos a pedido de coleccionadores. Estas encomendas, diz, “têm um papel muito importante” nestes dias ensombrados pelo Covid-19. A pandemia acabou por trazer também grande receio no retomar as viagens internacionais e que fazem parte da agenda destes autores, dedicados à arte urbana.
Uma rainha-marinheira junto ao CCC
Numa das fachadas que fica em frente ao CCC, na Rua Dr. Leonel Sotto Mayor, está agora uma figura feminina que é “uma rainha-marinheira pois quisémos fazer uma ligação ao Mercado do Peixe”, disse a dupla vencedora da open call,“C’MARIE & EGRITO” que é constituída por Constança Bettencourt e João Margarido. A proposta do casal foi a escolhida entre as 28 propostas concorrentes.
Os autores consideram que o FALU é um festival que “já fazia falta na cidade” e concordaram com a realização deste concurso que acabou por “abrir a porta aos artistas emergentes e também da cidade”. O casal tem mais trabalhos na cidade pois fizeram as pinturas murais que decoram paredes na Secundária Rafael Bordalo Pinheiro e nos muros da EB do Bairro da Ponte. “Foi muito bom trabalhar com os alunos e não faltam paredes devolutas pela cidade para desenvolver mais projectos e com vários públicos, sejam crianças sejam seniores”, disse a dupla, satisfeita com a reacção do público caldense a esta iniciativa. “As pessoas gostam das intervenções e algumas pessoas até já perguntam qual é a técnica que estamos a utilizar”, contaram os autores que para criar esta rainha contemporânea – que tem como coroa um barco de papel – usaram técnica mista, pintando com rolo e a pincel nesta fachada.
Os dois artistas são de Lisboa, mas preferem viver nas Caldas da Rainha onde consideram que há melhores condições e mais qualidade de vida, sobretudo para quem está a dar início à sua carreira no mundo das artes.