Alcobaça teve festival de teatro com 1200 espectadores em 15 dias

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2016-04-22 Primeira.inddTerminou no passado domingo o Ao Teatro! Festival, onde foram apresentadas nove peças de nove companhias nacionais (cinco delas profissionais), durante 15 dias, em Alcobaça, Benedita, Cela-Nova e Maiorga. Entre 2 e 17 de Abril cerca de 1200 espectadores apreciaram muitas (e boas) horas de teatro naquelas quatro localidades.
Isaque Vicente
É sexta-feira, 15 de Abril. Pouco passa das 21h30 quando entramos no Cine-teatro João D’Oliva Monteiro que se encontra praticamente cheio. Hoje está em cena “O Bem Amado”, pelos Gambuzinos com 1 Pé de Fora. Em palco toda a peça se desenrola à volta de Odorico Paraguaçu, um Prefeito de uma cidade imaginária chamada Sucupira, que fica no litoral brasileiro. A cena inicial retrata o transporte de um defunto natural de Sucupira para outra terra, onde seria sepultado, uma vez que ali não havia cemitério. Odorico sobe ao poder ao prometer um. “Votem num homem sério e ganhem um cemitério” era o slogan da campanha. No entanto, o tempo passa e ninguém morre em Sucupira. “Só vejo uma solução: arranjar um defunto”, diz Dorotéia, a cúmplice, a Odorico, propondo comprar um cadáver em Salvador, onde se vendem para estudos científicos, mas a ideia cai porque a oposição iria descobrir. E nem o mar “ajuda”: “todos os anos morre alguém afogado, mas este ano o mar parece uma lagoa…Nunca vi tanto azar”, queixa-se o Prefeito. A coveira procura pela cidade, mas “há uma grande carência de defuntos”, explica, ouvindo uma valente reprimenda de Odorico, que a culpa. Depois de “encomendar” um doente para falecer em Sucupira e ver o mesmo curar-se, decide permitir o regresso de Zeca Diabo, famoso fazedor de defuntos. Porque “na política os finalmentes justificam sempre os não obstantes”, argumenta. O assassino é nomeado delegado da Polícia e a sua primeira missão é invadir a redacção de Neco Pedreira, jornalista e principal opositor do Prefeito. Ouve-se um disparo na cidade… Mas, para desespero de Odorico, a ordem e a imprensa uniram-se. Neco Pedreira conta em A Trombeta a história do assassino que se reabilita e que promete não matar mais ninguém. Agastado o Prefeito tenta ainda encenar um romance entre Neco Pedreira e Dulcinéia, mulher do seu secretário, Dirceu Borboleta. Odorico convence Dirceu a vingar-se e este acaba por matar a esposa com seis tiros. Quando tudo está preparado para o enterro e consequente inauguração do cemitério, descobre-se uma carta da família de Dulcinéia onde se lê que esta deve ser sepultada perto da família e, portanto, longe de Sucupira. Entretanto aparece a mais recente edição de A Trombeta que anuncia o plano do Prefeito que levou à morte de Dulcinéia. Odorico, enfraquecido politicamente, decide simular a sua própria morte, pedindo a ajuda de Zeca Diabo, que entretanto havia destituído de delegado da Polícia. Mas o fazedor de defuntos acaba por atirar mesmo no Prefeito, que, ironicamente, é o primeiro inquilino do cemitério, que é inaugurado com discurso de Neco Pedreira. No tom leve da comédia, foram feitas críticas aos políticos (por exemplo, por pensar as cidades na óptica do turista e não do cidadão e por não olharem a meios para atingir fins), à igreja, aos jornalistas e à sociedade, num texto que, escrito há mais de 50 anos, continua actual. A jovem Rita Santos já conhecia o festival. Decidiu vir a Alcobaça “porque não tinha visto a peça na Benedita”. Gostou bastante e destacou a performance de Rafael Serrazina (Odorico). Margarida Marçal veio com seis jovens do CEERIA (Centro de Educação Especial e Reabilitação e Integração de Alcobaça). “Gostei muito, a peça é muito interessante, os actores surpreenderam-me e a história estava muito bem feita”, disse. Fátima Jorge, uma das utentes do CEERIA, contou à Gazeta  das Caldas que o seu sonho é ser actriz. “Gosto muito de teatro”, disse, antes de elogiar a peça: “foi muito bonita! Fez-me rir!”. Beatriz Morgado também quis dar a sua opinião: “foi muito engraçado, estiveram todos muito bem”, afirmou, antes de notar que “deu para perceber que era uma peça do século passado”.
TRÊS ANOS EM CRESCIMENTO
Na Benedita desde 1999 que existia o grupo de teatro Os Gambuzinos. Mas para “ir além do teatro”, foram criados Os Gambuzinos com 1 Pé de Fora, que nasceram em Outubro de 2012. José Saramago, vice-presidente da associação, explicou à Gazeta das Caldas que o Ao Teatro! Festival está na génese da criação da associação, para além  da “possibilidade de fazermos produções próprias e de trazermos outras companhias à região”. Actualmente fazem parte dos Gambuzinos com 1 Pé de Fora cerca de 40 pessoas. Em O Bem Amado participaram 13 actores, sendo a peça encenada por Mariana Ferreira. A trama, escrita por Dias Gomes em 1962, inspirou a novela da Globo com o mesmo nome, 11 anos depois. O Ao Teatro! Festival este ano custou cerca de 7500 euros a organizar, sendo que a associação contou com o apoio da Câmara de Alcobaça (3500 euros) e de patrocinadores, para além da receita de bilheteira. “Até agora temos sempre conseguido pagar as contas”, esclareceu José Saramago. “É importante sair da Benedita e levar o teatro a mais localidades do concelho”, defendeu, apontando às peças no Cine-teatro João D’Oliva Monteiro, no Centro Cénico da Cela e no Centro de Bem-Estar Social da Maiorga. A terminar afirmou que o facto de o festival estar associado ao Mês da Juventude do Oeste é uma mais-valia e esclareceu que “de ano para ano o número de espectadores tem aumentado”, o que o leva a afirmar que têm conseguido “criar novos públicos”.
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