Arquiteto e enfermeira ambicionam levar arte urbana a todos

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Hilde e Lea desenvolvem projetos em campos de refugiados
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O casal Hilde Brando e Lea Camacho vive nas Caldas e tem o seu atelier nos Silos. Trabalham com arte em bairros sociais e em campos de refugiados

Chegaram às Caldas em fevereiro de 2020 com o objetivo de descansar. Com a pandemia, o casal Hilde Brando (arquiteto) e Lea Camacho (enfermeira) resolveram ficar por cá. Ele tem 34 anos, é de Cascais e ela, de 32, é natural de África do Sul, mas com ligação às Caldas, para onde veio morar com a família quando tinha apenas 5 anos. Trabalham com arte urbana e formam a dupla Hagaiel, tendo começado a laborar em bairros sociais na Grande Lisboa, a partir de 2010. Durante quatro anos desenvolveram vários projetos desde murais, exposições e workshops que contaram com a participação de jovens de zonas desfavorecidas. Em 2014 o casal emigrou para Inglaterra e, um ano depois, decidiu partir como voluntário para campos de refugiados.

Umas das intervenções que fizeram num acampamento de refugiados sírios, no Norte do Iraque

A partir de 2017 passaram a trabalhar com organizações não governamentais, como a ADRA, que se dedicam a dar respostas de emergência médica. Durante seis meses trabalharam num campo de refugiados na Grécia – perto de Atenas – e depois partiram para o Iraque, onde trabalharam ao longo de 14 meses, até ao verão de 2018.
“No Iraque éramos 120 voluntários de todo o mundo, ocupados em criar algumas infraestruturas com qualidade e que pudessem dar dignidade a quem vive no campo”, contou o arquiteto, explicando que as organizações para as quais trabalham conseguem também reunir nos países ocidentais material hospitalar usado, mas em bom estado que é doado para aquelas zonas.
“Não precisamos de muita coisa quando se trabalha nestes campos…”, disse o voluntário, acrescentando que se viver com menos dinheiro “há mais qualidade de vida”. Até porque Hilde Brando, que se ocupa da logística e da construção de infrastruturas, constata que há muita gente “disposta a colocar as suas competências a favor do bem estar dos outros”.
Depois do Iraque viveram nova experiência humanitária no Uganda, onde contribuíram para a construção de um hospital. Foi lá que nasceu o primeiro filho do casal, agora com 15 meses.
Lea Camacho, já chefe de enfermagem nestas missões, está a aproveitar a estadia nas Caldas da Rainha para tirar o mestrado de Saúde e Bem Estar, que abriu este ano letivo na ESAD.
Além da ajuda médica, o duo continua a levar arte a estas zonas e com ela pretende chamar a atenção “para as diferenças sociais, para os mais velhos e para os mais desfavorecidos”.
Com as intervenções de arte pública pretendem mostrar que “todos têm um lugar na sociedade”. E tornam a arte acessível ensinando a todos, explicando como se utiliza a técnica do stencil e até promovendo a arte urbana como “ganha-pão” a alguns jovens de zonas desfavorecidas.

Uma das intervenções que fizeram no Bairro Padre Cruz em Carnide
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“Gostamos ainda de partilhar o que sabemos com os outros”, disse o arquiteto, que leva cor e arte a sítios “cinzentos” que precisam de ser melhorados. O último mural que fizeram no Iraque teve tal sucesso que originou um movimento “de autores ocidentais, que se vão juntar aos locais, para pintar todo o campo”.
A dupla Hagaiel tem a decorrer uma exposição na Fábrica e Galeria Braço de Prata, na capital, onde mostram peças de arte urbana, feitas em material reciclável como o cartão. Nas Caldas a dupla tem o atelier de trabalho nos Silos e tem projetos de intervenção artística em bairros desfavorecidos em parceria com uma das uniões de freguesia da cidade. ■

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