Caldas da Rainha podia dar a conhecer que o escritor “maldito”viveu na cidade e que por cá escreveu uma das suas obras mais importantes
António Cândido Franco é docente da Universidade de Évora e um dos biógrafos de Luiz Pacheco (1925-2008). O académico esteve recentemente na cidade e visitou os locais onde o escritor viveu. Uma das habitações onde o escritor “maldito” viveu situa-se no atual Beco do Quartel, um gaveto inicial da Rua Rafael Bordalo Pinheiro.
“No momento da recuperação do conjunto, hoje muito degradado, faz todo o sentido assinalar o espaço com uma placa dizendo que ali viveu o escritor Luiz Pacheco nos anos 1965-1966”, disse António Cândido Franco à Gazeta das Caldas. Na sua opinião, trata-se “de um escritor de primeiro plano, que faz parte de um dos movimentos culturais carismáticos da literatura portuguesa do século XX português – o surrealismo”. E não crê que a própria cidade das Caldas da Rainha “tenha assim tantas figuras com a dimensão de um Luiz Pacheco, que ainda por cima consagrou vários textos marcantes às Caldas”. Para o biógrafo se mais não houvesse, “bastava o texto como “O Caso das Criancinhas Desaparecidas” para a cidade ter uma dívida certa para com este escritor”.
Para o também escritor, as cidades”têm obrigação de guardar e preservar a memória dos seus escritores – tanto os que nelas nasceram como aqueles que por elas passaram, deixando marcas escritas e vividas da sua passagem”. António Cândido Franco foi um dos convidados do ciclo de poesia Diga 33 que se realizou em junho no CCC. Da iniciativa do Teatro da Rainha, o convidado salientou a leitura do ator José Carlos Faria de passagens do texto O Caso das Criancinhas Desaparecidas. “Uma leitura em voz alta é sempre uma novidade, que nos revela aspetos desconhecidos de um texto”. E também destacou a intervenção de Pedro Maldonado, familiar do advogado caldense António Maldonado de Freitas, “que nos deixou um testemunho comovido e comovente sobre a interação da sua família com o escritor, esclarecendo mesmo involuntariamente alguns pontos obscuros e mal iluminados – como o período em que o escritor viveu no Casal da Rochida, na estrada do Coto”.
O docente diz que será sempre leitor do escritor Luiz Pacheco e seu intérprete e que por isso continuará a escrever sobre ele e sobre a sua obra. Neste momento, está dedicado à biografia de Júlio Henriques, refractário ao serviço militar antes do 25 Abril e atual diretor e editor da revista “Flauta de Luz”.