Bichinho do Conto em projeto internacional de promoção da língua portuguesa

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Mafalda Milhões
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Há um novo projeto cultural a unir Óbidos (Portugal), Caxias do Sul (Brasil) e Luanda (Angola) através da literatura. O Quintal da Língua Portuguesa pretende a partilha de conhecimento e divulgação da língua, na expetativa de diminuir fronteiras e aproximar pessoa

Um espaço comum onde se reúnem pessoas com afinidade a trocar ideias, num ambiente informal e próximo é a ideia subjacente ao Quintal da Língua Portuguesa, um projeto cultural que envolve a livraria e editora Bichinho do Conto, sediada na antiga escola primária dos Casais Brancos (Óbidos), o Instituto Quindim (Brasil) e a Kacimbo Produção Cultural (Angola).

Volnei Canônica, do Instituto de Leitura Quindim

O projeto “oportuniza encontros online sobre literaturas em língua portuguesa, para pensar e discutir as interfaces culturais e artísticas do universo das obras dos países falantes deste idioma”, explica Volnei Canônica, presidente do Instituto de Leitura Quindim, sobre o projeto criado em 2011, no Rio de Janeiro, por um grupo de artistas e que agora se estendeu a mais dois continentes.

Portugal, Brasil e Angola são os países unidos pelo projeto cultural Quintal da Língua Portuguesa

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“São encontros sistemáticos, que se realizam no segundo sábado de cada mês com um artista de cada país”, salienta o responsável, acrescentando que é essa participação dos autores e a diversidade cultural dos países que permite “ampliar os olhares” e torna o projeto do Quintal muito especial.

O primeiro encontro decorreu no passado sábado, 13 de fevereiro, via Zoom, com o escritor angolano Ondjaki, que é simultaneamente o responsável pela associação angolana, Kacimbo Produção Cultural. No final, reconheceu à Gazeta das Caldas que correu “muito bem”, dando nota da “muita emoção e cumplicidade” entre pessoas amigas e que partilham interesses culturais e sensibi

Ondjaki, da Kacimbo Produção Cultural

lidades sobre livros, leitura e palavras. Também o projeto lhe merece os maiores elogios: “é uma iniciativa bonita, com os salpicos de sal na água do mar atlântico e nesse resto de sal que sobram e se multiplicam os afetos”, declarou o também poeta e artista plástico angolano.
O próximo encontro será a 13 de março, com o escritor português Afonso Cruz, indicado pelo Bichinho do Conto, e em abril participará a poeta brasileira Cida Pedrosa.
Mafalda Milhões reconhece que a escolha do autor português não foi fácil e destaca que outros serão convidados para os encontros seguintes. A pandemia obrigou a que as conversas decorram online, mas a ideia inicial era que os três mentores do projeto se pudessem encontrar, em locais comuns devido ao calendário literário internacional, e mais tarde fazer uma publicação com o resultado desses encontros. “Não havendo essa possibilidade, pareceu-nos que não se justificava prolongar o seu início e decidimos fazer esse arranque em fevereiro, que é um mês de festa, especialmente no Brasil devido ao carnaval. Queremos que o projeto tenha também essa parte associada”, salienta Mafalda Milhões.
A também ilustradora realça que o quintal e ideia de espaço de rua é comum aos três parceiros e que pretendem potenciar relações humanas, fundamentais para o desenvolvimento da cultura das artes e da literatura e para o desenvolvimento humano. Mas este é também um projeto de amigos e parceiros por afinidade, que procuram dar visibilidade à língua portuguesa através do que fazem.

“[Espero um] Amplo debate de ideias que combatem as desigualdades, os desacertos e a ausência da leitura”

Ondjaki

Construir uma rede
O Quintal, que agora reúne projetos culturais do Brasil, Portugal e Angola, poderá crescer e juntar entidades noutros países, de modo a construir uma rede de colaboração em prol da divulgação literária e artística. “Neste formato de rede, poderemos apresentar escritores, ilustradores, estudiosos da área da literatura e projetos de leitura”, conta Volnei Canônica, acrescentando que pretendem “diminuir fronteiras e aproximar pessoas”. Também o escritor angolano Ondjaki espera que o projeto “multiplique ideias, impulsione outros projetos e que sirva de um quintal para um amplo debate de ideias culturais que, entre outras coisas, combatem as desigualdades, os desacertos e a ausência da leitura”.
Trata-se de um projeto em aberto, “não se pretende que se fechem as portas do quintal”, acrescenta Mafalda Milhões. Por agora funcionará em formato online e no futuro os organizadores esperam que possa ter uma presença física e até dar origem a outras iniciativas. “A ideia é não haver limites para essa difusão”, conclui a ilustradora. ■

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