Caldas da Rainha poderá vir a acolher um festival intercultural

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A reunião final do projeto SLYMS decorreu a 28 de junho em Barcelona

A ideia resulta do projeto internacional SLYMS, que terminou esta semana em Barcelona (Espanha) depois de três anos de trabalho entre associações e universidades de três países da Europa

Um festival intercultural, com o envolvimento das comunidades locais onde estas mostram a sua cultura, desde a língua, à gastronomia, passando pela música, teatro, dança e arte, poderá ter lugar nas Caldas da Rainha por altura da Páscoa em 2023. A ideia foi lançada pela CAI – Conversas Associação Internacional, a organização não governamental portuguesa parceira no projeto internacional SLYMS – Aprendizagem Sociocultural da Juventude nas Sociedades em Mobilidade, durante a reunião final, que decorreu a 28 de junho em Barcelona (Espanha).

No encontro – a que a Gazeta das Caldas assistiu a convite da CAI – o dirigente da ONG, Helder Santos, explicou que a ideia surge na sequência do festival de multilinguismo que se realiza em Salónica desde 2013. O objetivo é criar um movimento nas Caldas, que integre associações, escolas e outras entidades, para começarem a ter ideias de organização de um festival onde migrantes dos vários países possam mostrar a sua língua e cultura. “Estudámos estes três anos, pois não queremos fazer um festival que mostre a cultura aos outros mas não envolva as comunidades locais. Pretendemos envolver as comunidades para que, elas próprias, mostrem a sua cultura aos outros”, destaca.

“As Caldas tem uma história linda de acolhimento que hoje, mais do que nunca, tem que ser lembrada. Há gente que pensa que o outro, por ser diferente, deve ser eliminado ”

Helder Santos

Helder Santos é caldense e, embora a residir há muitos anos fora, o confinamento trouxe-o à sua terra natal. Vê as Caldas como um centro em que “há o pulsar de várias culturas” e lembra a sua tradição no acolhimento, sobretudo com os judeus durante a segunda guerra mundial. “Essa vinda dos refugiados, que tanto incrementaram as Caldas há mais de meio século, e que hoje também se verifica com os migrantes, deu-nos a ideia para a criação do evento”, diz, acrescentando que este visa a interculturalidade, “para que todos aprendamos quem é o outro, para o conhecer melhor”.
O objetivo passa pela criação de um pequeno festival na Páscoa do próximo ano, que funcionará como que um ensaio para um evento maior, a decorrer um ano depois. “Realizar-se-á na Páscoa porque é a altura que coincide com a primavera e a ideia de lançar sementes, rejuvenescer, de podermos criar coisas novas juntos”, defendeu Helder Santos.

SLYMS é um “grande projeto”
A integração dos jovens migrantes, através da sua cultura e da sua língua é o grande objetivo do projeto SLYMS, que tem como parceiros as universidades de Tessália e Salónica, a associação Arsis e o município de Salónica (Grécia), a Universidade de Pompeu/Fabra (Espanha) e a ONG portuguesa Conversas Associação Internacional. Durante três anos produziram trabalho académico e várias propostas, como uma plataforma online de recursos educativos abertos, com um curso de formação de formadores na área da formação intercultural, que já foi dinamizado pela associação portuguesa. Também a Educação pela Arte pode ser “uma boa ferramenta para educar nas escolas e nos espaços de educação não formal, como as associações e universidades seniores, para os ajudar a perceber melhor o mundo e a vida, assim como a educar-se a si próprios, participando em eventos artísticos de outros lados”.
O projeto foi “apanhado” pela pandemia e, alguns dos eventos previstos, como uma reunião internacional a decorrer nas Caldas, foram cancelados. As reuniões entre os membros dos vários países passaram a decorrer on-line, com perdas para os resultados, considera Helder Santos.
O responsável da CAI, realça, no entanto, que o SLYMS é “um grande projeto”, pelo montante envolvido, cerca de 300 mil euros (financiado pelo programa europeu Erasmus +) e pelo facto de ter uma parceria muito forte das universidades e uma componente prática.
Em Portugal, e antes da pandemia, houve uma visita dos parceiros à freguesia de Arroios, onde tiveram contacto com as escolas interculturais, e depois foram visitar a Cova da Moura, onde a CAI trabalha há vários anos com a associação Moinho da Juventude.

Pandemia com impacto negativo nos projetos internacionais

A impossibilidade dos encontros presenciais dificulta o trabalho ao nível da comunicação das emoções

A regressar da Eslovénia, onde participou num projeto internacional, Helder Santos, partilha que esta reunião foi o “plano E”, de um encontro que devia ter acontecido há mais de um ano. Inicialmente agendado para março de 2020, foi remarcado por cinco vezes até o conseguirem concretizar e, ainda assim, tiveram de trabalhar em “bolha”, ou seja, encerrados num hotel, onde mais ninguém entrava ou saía.

Helder Santos, coordenador da CAI, juntamente com o assistente de projetos, Tiago Souza

A associação que coordena dedica-se à realização de projetos internacionais, com uma parte de investigação e outra de ação, juntando o saber científico com a experiência e as boas práticas. Trabalha sobretudo com pessoas em situação de vulnerabilidade e a pandemia veio criar um impato muito grande essencialmente na realização da componente prática, impossibilitando as reuniões e atividades em grupo. “Ainda agora estava previsto um encontro para decorrer em Lisboa mas não se poderá realizar porque a situação piorou”, disse, destacando o impacto que a realidade atual tem na qualidade dos projetos, que fica aquém das expetativas iniciais por apenas poderem trabalhar à distância. “Na parte online é fácil trabalhar conteúdos, mas a comunicação das emoções, não verbal, que leva a que criemos coisas, é muito dificil de se conseguir”, conta à Gazeta das Caldas.

A CAI tem já aprovado um projeto para o setor cultural a desenvolver na região Oeste

O responsável salienta que há muitas organizações a trabalhar e bastante trabalho feito, mas que não é conhecido e acaba por não ser utilizado por profissionais a trabalhar no terreno, e que poderiam ali obter fonte de inspiração. Entre os projetos em que a CAI está a participar está o Key, que envolve também entidades da Eslovénia, Bulgária e Croácia, e procura arranjar soluções para jovens com idades compreendidas entre os 20 e os 35 anos, que se encontram em situação de desemprego ou de precariedade laboral. “Essa precariedade laboral está a fazer com os jovens se achem precários, ou seja, a precariedade passou do estatuto de caraterística deles perante o emprego, para uma auto afirmação de que afinal valem muito pouco”, destaca o gestor de projetos, acrescentando que pretendem dinamizar um conjunto de atividades para que estes percebam que estão precários, não o são.
Está também já aprovado um projeto para o setor cultural, que a associação pretende desenvolver na região Oeste, a partir das Caldas.