
Mais gente e mais pontos de interesse que o ano passado. A 21º edição do Caldas Late Night realizou-se de 1 a 3 de Junho e trouxe aos quatro cantos da cidade exposições, performances, música e instalações. Foram três dias em que a arte andou um pouco por todo o lado e atrás dela muitos jovens com mapas nas mãos e vontade em participarem no evento. Espalhados por casas de estudantes da ESAD, estabelecimentos comerciais e espaços públicos, este ano inscreveram-se no Caldas Late Night cerca de 100 projectos artísticos. Só foi pena aqueles que, à última da hora, cancelaram a sua participação.
Cabines telefónicas espalhadas pela cidade. Um jogo de pong projectado na parede da estação rodoviária. Uma luta de almofadas em plena Praça da Fruta. Pessoas vestidas com pijamas numa cama improvisada na Praça 5 de Outubro. Uma exposição fotográfica de nus masculinos num café. Parece-lhe improvável? No Caldas Late Night é possível. “Liberdade” é a palavra que descreve este evento e que só se esgota na própria criatividade dos artistas que nele participam.
As bandeiras pretas assinalam os locais em que existem coisas a acontecer e o mapa ajuda a encontrá-las. Podem ser concertos, performances teatrais, exposições colectivas ou festas. Há quem venha sobretudo para apreciar os desenhos, as pinturas, as esculturas e as instalações, outros preferem o copo de cerveja e a música alta. A maioria vem por ambas razões.
Curiosamente, as duas principais festas desta edição realizaram-se pela primeira vez em locais distintos. O Arraial (organizado pelo Grémio Caldense) saiu da Praça de Touros para o Céu de Vidro e a festa de encerramento transitou da Secla para o complexo desportivo entre o bowling e o campo de rugby. Relativamente à ultima, a organização do CLN recebeu várias queixas quanto ao afastamento do sítio ao centro da cidade, mas aquela zona periférica foi a única autorizada pela Câmara, que pôs de lado a hipótese da festa final decorrer nas antigas instalações da Fábrica de Faianças Bordallo Pinheiro ou no campo da Mata.
Também a direcção da ESAD recusou que a última actividade do Caldas Late Night se realizasse na escola, como aliás aconteceu durante várias edições.
Mas apesar dessas críticas, na noite de sábado havia uma multidão no recinto (ao ar-livre). A estrada foi fechada nos dois sentidos e foram criadas três pistas de dança. A pista principal, onde actuaram, por exemplo, Stereossauro e Holly, ficava na frente do complexo. Os dj’s actuavam em cima de uma carrinha e nas suas costas eram projectadas imagens. Além disso, o edifício do complexo foi, todo ele, uma tela para videomapping.
No mesmo alinhamento, mas mais ao fundo, havia um espaço para o reggae e do outro lado da estrada, perto da A8, havia uma pista dedicada à electrónica. Ainda dentro do recinto havia um insuflável, que foi palco de inúmeras brincadeiras, um espaço de restauração e bares.
Pelo recinto, além de apreciar a música e o videomapping, havia muitos jovens sentados a conviver, a conversar e a beber uns copos. Perto das 4h00 havia ainda dezenas de pessoas à porta para entrar.
ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS TAMBÉM PARTICIPAM
Mas nem só das casas de estudantes é feito o Caldas Late Night. Há muitos artistas que se inscrevem sem local para expor e nestes casos a colaboração dos estabelecimentos comerciais é essencial. Este ano aderiram o MyIced, Toca da Onça, Inapark, O Farol, Ilha Caffé, Caldas Bar, Demodé, Déjà Vu, Barbearia Don Dinis Barber Shop, entre outros.
Montar a exposição “Objectificados” num espaço público como o MyIced era precisamente o objectivo de Inês Magalhães, estudante de Design Gráfico da ESAD. “Queria que o máximo de pessoas visse e este café é frequentado por públicos muito diferentes, o que faz com que o meu trabalho tenha mais visibilidade”, diz a jovem, que se inscreveu no Caldas Late Night com uma exposição fotográfica em que explora o corpo nu de quatro amigos que convidou para o projecto. “Hoje em dia estamos habituados a ver imagens de mulheres nuas, mas se forem homens ainda há muitas reacções de estranheza e até nojo… daí eu ter tido esta ideia”, explica, acrescentando que atribuir carácter sexual às suas fotografias fica ao critério de cada espectador.
O Caldas Late Night também saiu à rua, com performances e concertos a acontecerem além das quatro paredes. Um exemplo foi o projecto Passa a Cabine, que regressou após três anos da primeira edição. Só que se em 2013 se realizou em Novembro e não integrou o CLN, desta vez Vera Gonçalves aceitou o desafio de fazer parte do evento e espalhou oito cabines da PT pela cidade.
As mini-cabines foram colocadas na Praça 25 de Abril, Praça 5 de Outubro, no topo da Praça da Fruta, no Parque D. Carlos I, na Rua Dr. Leonel Sotto Mayor (junto ao CCC), na Rua Dr. Miguel Bombarda, no Largo Dr. José Barbosa e na Rua Dr. Leão Azevedo (ao lado da rodoviária). Foram transformadas em locais de cinema, restaurante, concertos, teatro e até de ginásio. Na cabine-jardim foi colocada uma árvore e uma gaiola com pássaros, enquanto a cabine-lounge foi transformada num espaço de lazer. Aos participantes foram distribuídos passaportes em que eram carimbadas as cabines por onde passavam.
“Nesta segunda edição quis convidar outros artistas a colaborarem, como o Ruy Otero ou o Alber Graal, e fazer das cabines espaços interactivos”, conta Vera Gonçalves, técnica-superior da ESAD, revelando que há já a possibilidade deste projecto ser exposto em Lisboa, a convite da Fundação PT.
Uma vez mais, locais como os Silos e o Parque D. Carlos I voltaram a ser dos pontos principais do Caldas Late Night, assim como o Centro de Artes.
DESISTÊNCIAS À ÚLTIMA DA HORA
Patrícia Pimenta, Guilherme Furtado, Flávio Lourenço e Diogo Lopes. Foram estes os estudantes da ESAD (dos cursos de Design Gráfico e Design Multimédia) que organizaram a 21ª edição do Caldas Late Night. “O evento não consegue ser feito apenas por quatro pessoas, contámos com a ajuda dos nossos amigos e pessoas sem as quais teria sido impossível organizar o Caldas”, disse Guilherme Furtado, referindo-se a José Elói, Anabela Monteiro, Vitor Valentim, Vítor Marques, Nuno Bettencourt e à associação Grémio Caldense.
Num balanço positivo desta edição, Guilherme Furtado lamenta apenas as desistências à última da hora, tanto de estudantes para os quais a organização teve que arranjar um espaço para exporem, como daqueles que se tinham comprometido a abrirem as suas casas com trabalhos. “Ao todo foram quatro casos, mas nós não conseguimos contornar a situação”, afirmou o jovem, relevando que foram impressos 4000 mapas, mais 1500 que o ano passado.
Outro senão deste ano foram os atrasos. É que muitos dos pontos com início previsto para a tarde de quinta-feira, primeiro dia do evento, acabaram por só abrir ao público horas mais tarde e, nalguns casos, apenas no dia seguinte. M.B.R. I.V.
“Podem descalçar-se. Estão em casa!”
Um dos objectivos da organização era voltar às origens do Caldas Late Night, trazendo para primeiro plano o lado artístico do evento. Conseguiram. Em comparação com o ano passado, foram mais os estudantes e artistas que se juntaram ao Caldas para expor os seus trabalhos. E também mais aqueles que o fizeram abrindo a porta de suas casas, convidando desconhecidos a entrarem e explorarem as divisões que dão lugar a pequenas galerias. Há quem o faça com maior atenção ao detalhe, mas também quem monte os trabalhos apenas algumas horas antes do Caldas Late Night começar.
Na Casa da Mona, por exemplo, os estudantes retiraram quase toda a mobília dos quartos, enquanto na Real República das Marias as fotografias, telas, desenhos e vídeos habitam em comunhão com os móveis. Já os moradores da Moustache House optaram por expor à entrada e no terraço da casa. Encontra-se um pouco de tudo.
“Temos aqui a oportunidade de expormos trabalhos que fizemos para a faculdade e que de outra forma ficariam na ‘gaveta’, mas também de dar a conhecer outras áreas em que gostamos de trabalhar”, conta Isabel Gomez, residente na Moustache House (Casa do Bigode, pelo facto das janelas terem bigodes pintados).
Embora seja estudante de Design, a jovem aproveitou o Caldas Late Night para dar a conhecer o seu talento para a fotografia. “Decidimos abrir a nossa casa porque o ano passado também gostámos muito de ir a outras casas, por isso esta foi a forma que encontrámos para retribuir”, acrescenta, realçando que o objectivo é que os visitantes se sintam tão bem-vindos como se estivessem na sua própria casa.
“Até se podem descalçar se quiserem! Só queremos que se divirtam e convivam, porque esse é o espírito do Caldas”, diz Isabel Gomez.
O convite a entrar estende-se algumas vezes ao convite para jantar, pois já há vários grupos de estudantes que se organizam para venderem refeições baratas nas casas onde têm expostos os seus trabalhos. Para Francisco Tomás, da Casa da Mona, “o Caldas Late Night é um evento único, que não se encontra em mais nenhuma outra parte do país e que consegue atrair todo o tipo de pessoas”. Não são apenas os estudantes de artes ou os jovens que participam, mas também pessoas mais velhas e famílias com crianças pequenas. “Sentimos que a cidade vive intensamente este evento e ao mesmo tempo também há muita gente que vem de fora de propósito”, acrescenta o aluno de Artes Plásticas.