A Câmara das Caldas vai construir a sede do Teatro da Rainha, mesmo sem esperar por fundos comunitários e recorrendo parcialmente a um empréstimo bancário. A obra e o seu equipamento custam 1,5 milhões de euros, inteiramente suportados pela autarquia, cujo presidente, contudo, diz estar atento à possibilidade de eventuais candidaturas. Tinta Ferreira quer lançar a primeira pedra do edifício no próximo 15 de Maio.
Fora de questão está a ida do Teatro da Rainha para o CCC em permanência, dado que este equipamento não foi pensado para ter uma companhia residente. José Carlos Faria, porém, diz que o grupo só não vai para o CCC porque a Câmara “não quer”.
A construção da sede revela-se pacífica, mas nem todos concordam que a autarquia peça dinheiro emprestado para a financiar.
O edil Tinta Ferreira disse à Gazeta das Caldas que gostaria de lançar a primeira pedra da sede do Teatro da Rainha a 15 de Maio de 2017 e diz que a obra arrancará suportada apenas pela Câmara, sem contudo excluir a possibilidade de continuar a tentar a obtenção de fundos comunitários.
A Câmara cedeu ao grupo o uso do terreno onde vai ser construída a sede, uma obra que vai permitir “fechar” a Praça da Universidade.
O autarca diz que a obra deverá começar em meados de 2017 e deverá estar terminada em finais de 2018, o mais tarde até inícios de 2019.
“É uma obra para um ano e meio mas que possui alguma dificuldade de execução técnica”, disse o edil, explicando que “queremos que seja feita com alguma tranquilidade para que tudo saia bem”.
A obra e os equipamentos estão estimados em 1,5 milhões de euros. Meio milhão são agora oriundos do empréstimo bancário e o restante valor “será oriundo de fundos próprios da autarquia”, disse o edil.
O Teatro da Rainha tem estado sediado em instalações provisórias (ex-UAL) e divide o seu espaço com a Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste (EHTO). O presidente da Câmara considera que, quando este mudar para a nova sede, vai permitir o alargamento do trabalho daquela escola, com o novo edifício a “rematar” aquela praça.
A não construção desta sede poderia “colocar em causa a continuidade da companhia de teatro”, disse o edil. A nova sede permitirá uma reorganização do Teatro da Rainha, que está a apostar na vertente do ensino e formação e desta forma poderá alargar competências com escolas secundárias e até em interligação com a ESAD. “Será mais uma valência interessante num concelho onde há uma grande vocação para as artes”, acrescentou Tinta Ferreira.
Todos reconhecem qualidade do projecto
Desde que o Teatro da Rainha regressou às Caldas em 2003 (após ter estado alguns anos em Évora) que se fala da construção da sua sede. O grupo possuía então um projecto que, por vicissitudes várias, não obteve o financiamento comunitário necessário para o viabilizar.
“Este é um processo que já tem cerca de 13 anos”, disse José Carlos Faria, um dos elementos daquele grupo teatral, fundado nas Caldas em 1985 e que se transferiu para Évora em 1990.
O actor e encenador recordou que a proposta já passou, pelo menos, por seis governos e os elementos do teatro perdem a conta aos ministros e secretários de Estado a quem deram a conhecer o seu projecto. “Todos reconheceram que era de grande interesse e que ainda para mais aliava a prática artística do grupo com uma companhia-escola”, acrescentou.
O novo projecto, mais barato, prevê um espaço mais despojado, com uma sala de espectáculos com 14 por 18 metros que foi adaptado de um primeiro projecto que o mesmo arquitecto Nuno Lopes desenhou e que orçava o dobro do custo estimado agora. Ainda assim esta versão apresenta um lay out com 10 possibilidades de organizar o espaço entre o público e o palco, permitindo uma grande flexibilidade nas representações.
O actor conta que o trabalho do grupo tem uma forte vertente de serviço público por causa da área da formação. José Carlos Faria contou que, se a Câmara não resolvesse agora avançar, os projectos de arquitectura e da especialidade que custaram 100 mil euros “corria-se o risco de se perder por não ter concretização”.
Na última Assembleia Municipal ficou aprovado o pedido de empréstimo de dois milhões de euros mas apenas 500 mil euros se destinam para a sede do Teatro.
OBJECÇÕES NÃO EXPLICITADAS
E porque é que o Teatro da Rainha não se instala no CCC?
“Nós não vamos para o CCC porque a Câmara não quer”, disse o actor, acrescentando que o grupo não está “com birra de primadonas do espectáculo”. A autarquia não defende esta ideia e segundo José Carlos Faria na última reunião feita com a vereadora da Cultura, Maria da Conceição, quando se discutia se transitoriamente o grupo podia ocupar a sala de ensaios do CCC, a autarca afirmou que havia objecções à estada do grupo no centro cultural e que estas “não têm que ser explicitadas”, contou.
De qualquer modo, para o actor, é sempre preferível a criação de um espaço próprio para o grupo, até porque as actuais condições de trabalho “são insustentáveis”. O novo edifício, refere, “será um teatro contemporâneo de raiz que creio que é um espaço único em Portugal e até na Península Ibérica”.
CCC ESTÁ OPTIMIZADO A 100%
Carlos Mota, o director do CCC, considera que um novo espaço teatral para a cidade será sempre legítimo até porque o grupo trabalha a vertente formativa. Considera que é um direito que assiste ao grupo ter o seu próprio espaço para apresentar as suas produções. Desta forma “pode planear, gerir e optimizar o seu próprio espaço”, disse. Sobre a possibilidade do grupo ir para o CCC, o director explicou que esta estrutura “não foi desenhada para acolher uma companhia de teatro residente. Nunca foi esse o seu intuito”.
Aquele responsável afirmou também que sazonalmente o Teatro da Rainha já ocupa o CCC para apresentar as suas produções. Além do mais, explicou que o espaço do centro cultural já está todo otimizado com protocolos que já estabeleceu com outras entidades tais como a Escola Vocacional da Dança. Para aquele programador qualquer novo espaço cultural da cidade “será uma mais-valia e um investimento no desenvolvimento da cidade”.
Todos de acordo com a sede
Todas as forças políticas locais estão de acordo quanto à necessidade de uma sede para o Teatro da Rainha, apesar de considerarem que esta decisão já tem um pendor pré-eleitoral.
Vítor Fernandes, do PCP, considera que o grupo é uma mais-valia para cidade “e deveria contar com mais consideração por parte da autarquia”. O deputado comunista acrescentou que a Câmara deve construir a sede pois as promessas “são para se cumprir”. Não estão é de acordo com o pedido do empréstimo para a concretizar. “Já há anos que está previsto e afinal foi preciso pedir dinheiro emprestado quando deveria fazer parte do orçamento”, disse Vítor Fernandes.
Teresa Serrenho, do Movimento Viver Concelho, considera que é óbvio que uma instituição como o Teatro da Rainha possa ter o seu próprio espaço, digno, para apresentar os seus projectos. Considera que o novo edifício vai dignificar a cidade e assim o grupo “poderá fazer melhor o serviço público, ligado à formação de públicos”. Além do mais “será um edifício estruturante que vai harmonizar aquela zona da cidade”.
Para a presidente do MVC é importante que o grupo, apesar de contar com a construção do edifício por parte do município “continue a manter a sua independência”. Quanto à passagem do grupo para o CCC, Serrenho afirmou que este não tem vocação e “não foi construído para ter uma companhia residente”.
Já Manuel Nunes, deputado municipal do PS, considera que é longa a tradição teatral nas Caldas e que, já quando se elaborava o caderno de encargos do CCC, nos anos 90, os deputados do PS queriam que tivesse sido contemplada a existência de uma companhia teatral, entre outras valências ligadas à Dança e à Música.
“Mas não fomos ouvidos!”, lamenta, acrescentando que o ex-presidente Fernando Costa tinha outras prioridades para o CCC como o parque de estacionamento e o bloco de apartamentos (que afinal ainda não estão acabados). Segundo Manuel Nunes, também caiu por terra a questão da realização de congressos que não tem dado indícios de grande concretização nas Caldas pois continuam a concentrar-se junto das grandes cidades.
O PS questionou a Câmara se foram esgotadas todas as hipóteses de instalar o Teatro da Rainha no CCC, mas foi-lhes dito que tal não era possível. Daí concordar então com a construção da nova sede, tendo contudo votado contra o empréstimo, na Assembleia Municipal.
Margarida Varela, presidente da concelhia do CDS, considera que o grupo deve ter a sua nova sede e que o projecto de arquitectura de Nuno Ribeiro Lopes vai dignificar aquela zona da cidade.
Com o que aquele partido não concorda é com a forma de financiamento pois votou contra o empréstimo para a construção da sede do Teatro da Rainha por entender que deveria estar previsto no orçamento da Câmara. Também não percebe por que não se dão condições dignas ao Teatro da Rainha no CCC, pelo menos enquanto a sede não está construída.
O CDS acha “estranho” que não haja um melhor entendimento entre “a nossa grande sala de espectáculos, construída de raiz para albergar todo o tipo de apresentações, e o Teatro da Rainha, com a nossa marca de qualidade nacional e internacional das artes cénicas”, rematou.