Crónicas de Bem Fazer e de Mal Dizer – LX

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Gazeta das Caldas
Isabel Castanheira

Revolução nas Caldas

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Gazeta das Caldas
A Revolução de 14 de Maio – Cesar da Silva

“Como se vê, às perseguições da ditadura, demitindo, suspendendo e abrindo devassas contra republicanos, correspondiam as violências d’uma malta que, protegida pelas autoridades, não recuava perante nada.

O caso das Caldas da Rainha é concludente. No dia 2 d’abril, após uma briga na rua, entre beatos e livres-pensadores, de que resultou a morte d’um daqueles.
Existia na vida, (vila ?) desde muito, uma profunda antipatia entre o grupo democrático, que tem por chefe o farmacêutico Maldonado Freitas, e os assalariados dos caciques evolucionistas, entre os quais avulta um toireiro amador bastante conhecido. Meses antes tinha sido o sr. Amândio de Carvalho velho republicano, assaltado por uma turba de bandidos, que o maltrataram rudemente e lhe roubaram o dinheiro que levava.

Apesar de tudo, porém, o que se passou após a referida briga, foi tão pasmoso, que chega a ser inacreditável. Um bando de sicários, dirigindo-se para a residência do sr. Maldonado Freitas, assalta-lha. A vítima que nada tivera com a desordem antecedente, busca defender-se e assim consegue salvar-se com sua mulher e um filhinho, mas a malta, entrando-lhe em casa, despedaçou tudo. Os frascos da farmácia vieram parar em cacos à rua; o mobiliário foi desfeito e as roupas convertidas em caos.

Gazeta das CaldasA pessoa que estas linhas escreve viu os estragos e ficou horrorizada. Nem as vidraças das janelas escaparam.

O mais afrontoso foi que a autoridade administrativa, protegendo descaradamente os autores da infâmia, foi de inaudita severidade para com a vítima que veio para Lisboa no meio de uma escolta de soldados, sendo internado sem fiança no Limoeiro.

Ali perto, na Nazaré e em Alcobaça, também houve lutas, sendo os republicanos maltratados.”

Este acontecimento revolucionário passado nas Caldas da Rainha, tendo por protagonista um conceituado e muito respeitado cidadão caldense conhecido pelas suas ideias republicanas, é relatado por César da Silva, no seu livro “A Revolução de 14 de Maio”, impresso pela empresa Editora “O Recreio”, em 1915, em 27e editado por “João Romano Torres & C.ª Editores”, foi disponibilizado ao preço unitário de 300 réis.

Curiosamente, o exemplar que me foi dado consultar contém a fatura do comprador caldense do livro: o sr. João Daniel de Sousa.

E com este relato de um acontecimento pouco vulgar na história da nossa cidade, me despeço.

Gazeta das Caldas
Fatura de aquisição do livro