Aniversário de Bordalo

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Gazeta das Caldas
Isabel Castanheira

Daqui a uma semana celebramos 174 anos do nascimento de Rafael Bordalo Pinheiro. São raras as personalidades que passados tantos anos após o seu nascimento ainda são recordadas como Bordalo é; não há duvida alguma: Rafael era um espirito muito especial.
A fotografia que acompanha esta crónica mostra-nos Bordalo a brincar com um macaquinho de origem brasileira. Já reparou no à vontade que o macaco manifesta pondo com toda a confiança as suas patas no braço do artista? Amizade antiga…
Transcrevo o texto constante de um folheto intitulado “Falaram os Portugueses – Páginas Escolhidas de Autores Portugueses, 5ª. Série”; esta publicação omite o editor, a data, assim como os autores.
Passamos a transcrever parte do texto:
«A caricatura movimenta duas forças essenciais: a realidade e o símbolo. Não é abstrata. Não paira acima das misérias humanas vivendo no mundo do sonho. É objetiva, e a sua objetividade violenta, desce à terra, penetra-a profundamente. Da deformação faz uma força e estabelece uma harmonia nova. Quando exagera, acusa a insignificância ou a mesquinhez. Quando deforma, exprime com angústia a saudade de belo ideal. Assim nasce o símbolo.
É este o espírito das caricaturas de Bordalo.
O seu desenho impecável não serve para exaltar a beleza ideal de uma pátria grande e livre. As suas caricaturas exprimem o horror da deformação duma pátria que, sendo possuidora da mais bela das epopeias, se contorce e vegeta na condição de escrava duma nação de piratas e traficantes.
A visão de Bordalo é de todo insuspeita.
A sua formação intelectual não autoriza a supor que as suas simpatias ideológicas pudessem inclinar-se para a doutrina das Potências que lutam contra o liberalismo plutocrático e maçónico.
Bordalo era um grande artista. Como artista tinha sentimento. Bordalo era verdadeiramente português, e como português não podia ignorar quem era e tem sido o maior inimigo de Portugal.»