“Ferreira da Silva. Obra em Espaço Público” foi lançado a 4 de Junho, no Museu Leopoldo de Almeida, numa sessão que contou com a presença de João Serra, o comissário da Festa da Cerâmica. Este aproveitou para fazer o ponto de situação sobre a iniciativa que vai incluir estudos sobre mais ceramistas contemporâneos caldenses e um festival com os autores que está ser desenhado para 2018.
A investigadora Rita Ferrão, que apresentou o novo livro dedicado à obra pública do artista caldense, referenciou a necessidade de dar a conhecer a sua obra para além da região Oeste.
“Estamos felizes por ter concluído com brio este desígnio e tristes por não poder contar com a presença aqui do homem que nos motivou e motiva. Mas a sua memória é inteiramente merecedora do testemunho que hoje colocamos à disposição da comunidade”, disse o comissário da Festa da Cerâmica, João Serra, depois de ter dado a conhecer o processo que antecedeu esta publicação, agora editada pelo Centro de Documentação de Cerâmica Caldense Contemporânea, uma iniciativa da associação Património Histórico, protocolada com a Câmara Municipal.
Trata-se pois de um projecto antigo que segundo o comissário se edita sete anos depois de iniciado. O volume de trabalho, contou o historiador, é proporcional à imensa obra pública que Ferreira da Silva legou.
Segundo o comissário, o fotógrafo João Martins Pereira percorreu 2500 quilómetros e fez cerca de 2350 novas fotografias para esta obra. Percorreu 14 cidades e visitou 45 locais diferentes (edifícios, estabelecimentos, ruas e praças) onde se encontram peças de Ferreira da Silva. Isabel Xavier, que coordenou esta obra, identificou 52 temas representados pelo autor na sua obra de escultura e azulejaria, na qual a cerâmica tem a primazia.
“Ferreira da Silva. Obra em Espaço Público” contém 417 imagens, 368 das quais realizadas para esta edição, a que se somam 39 recuperadas de registos anteriores e cedidas pelos respectivos autores. Algumas das peças que agora se incluem nesta obra “não tinham sido identificadas como da autoria de Ferreira da Silva. Outras eram mal conhecidas”, disse o historiador afirmando que agora se pretende ampliar o registo de imagem e o estudo da cerâmica contemporânea caldense, estendendo-o aos ceramistas contemporâneos de Ferreira da Silva, como Herculano Elias, Armando Correia e João Reis, iniciando igualmente o inventário de autores mais recentes, a começar por Eduardo Constantino.
João Serra revelou as várias edições, conferências e exposições já realizadas, trabalho feito em parceria com a ESAD, que terá continuidade, já que “pela primeira vez na história da ESAD há um projecto de investigação sobre cerâmica que pode vir a ser aprovado, entrando em execução já em Setembro deste ano”, disse João Serra.
Entre as várias iniciativas já realizadas pela Molda, o comissário sublinhou que serão reforçadas as condições de atracção das Caldas como centro de criação contemporânea das artes e do design cerâmico.
O investigador referiu que está a ser preparado um festival de cerâmica para Junho de 2018 onde “os ceramistas ocuparão a cidade, serão os seus guias e apresentarão à experiência e aprendizagem directas as suas criações”. A autarquia também está a iniciar um processo de aquisição de peças para ofertas institucionais junto dos ceramistas caldenses, para constituir uma nova colecção pública de cerâmica.
uma criatividade exuberante
Para Rita Ferrão, Ferreira da Silva, falecido em 2016, “foi um dos vultos maiores da cerâmica portuguesa do século XX, cujo trabalho alterou profundamente o curso desta disciplina”. Fez referência à alta exigência técnica dos seus trabalhos que esteve ligada à indústria e que se caracteriza por “uma criatividade exuberante, de efeito surpreendente na sua aspiração escultórica, arquitectónica e urbana”, acrescentou.
Segundo a investigadora, tal como acontece com a generalidade da obra dos maiores ceramistas portugueses, a obra de Ferreira da Silva “não é conhecida internacionalmente, nem pelo grande público, nem pelos estudiosos desta disciplina artística”. E mesmo em terras lusas esta é “escassamente conhecida”. Rita Ferrão sublinhou o empenho da Câmara das Caldas na divulgação do seu trabalho. Apesar do autor ter feito algumas incursões internacionais, durante a década de 1960, e realizado trabalhos fora das Caldas, Ferreira da Silva “é ainda um artista local”. A oradora acrescentou ainda que a data da sua morte foi dada apenas pela imprensa local. Não houve referência nos media nacionais. Por isso, esta autora considera que é necessário redobrar o empenho na divulgação póstuma da obra de Ferreira da Silva, fora das Caldas. É preciso distribuir os livros por pontos de venda do resto do país. A investigadora terminou a sua intervenção desejando que exista uma união de vontades na realização de uma exposição retrospectiva da obra de Ferreira da Silva, numa instituição com visibilidade nacional como, por exemplo, no Museu Nacional do Azulejo “contribuindo para o justo reposicionamento da sua obra no contexto da história da arte portuguesa”, rematou.
Para o presidente da autarquia, Tinta Ferreira, a obra agora editada é um importante “elemento de divulgação do trabalho de Ferreira da Silva” e enquadra-se, a par de outras acções, “no caminho dos nossos objectivos estratégicos”, que passam pela reafirmação das termas e das artes como factores de diferenciação e notoriedade. O autarca voltou a referir que está a ser preparado, com apoio de fundos comunitários, o projecto de requalificação da “Casa Amarela” – edifício à entrada do Centro de Artes – e que irá funcionar como “porta de entrada” deste complexo museológico, aumentando a oferta de serviços ligados à cultura e às artes. Presentes na cerimónia estiveram os filhos do artista caldense que agradeceram a todas as entidades o interesse e a divulgação que tem sido feita da obra do pai, Ferreira da Silva. N.N.