Designers financiam projectos através da Internet

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Os designers formados na ESAD estão a utilizar novas formas de financiamento para conseguirem levar avante os seus projectos pessoais, nomeadamente através do “crowdfunding” (incentivo colaborativo).
O crowdfunding é uma forma recente de angariação de financiamento para um projecto através de uma comunidade de pessoas em que cada uma contribui com a quantia que quiser. Em troca, recebem uma “recompensa”.
A ideia é conseguir concretizar projectos (em qualquer área), através de pequenos apoios de muitas pessoas. Os projectos são divulgados pela Internet em sites como Kickstarter (www.kickstarter.com), Mobilize (www.facebook.com/mobilizecf) ou as plataformas nacionais Redebiz (redebiz.net) e Massivemov (massivemov.com),
A possibilidade de financiamentos de projectos criativos através da Internet foi divulgada durante mais uma sessão de conversas do FICAS que decorreu a 28 de Março, nos antigos silos da Ceres.
O FICAS é um evento que se realiza sazonalmente naquele espaço criativo, em que são convidadas seis pessoas para comunicarem experiências que potenciem o trabalho criativo.
As sessões começaram em 2011 com uma lotação limitada de pessoas, mas esta última decorreu na galeria dos silos, o que permitiu acolher mais interessados.
A sessão começou com Natanael Gama, licenciado em Design de Multimédia na ESAD, que começou a trabalhar como free-lancer e entretanto fez um estágio profissional de nove meses na Holanda, através do INOV-Art. Foi na Holanda que descobriu que o seu futuro profissional seria na tipografia (desenho de tipos de letra).
“Em Design Gráfico incomodava-me o facto de ser tudo muito descartável. Fazíamos um cartaz, por exemplo, e passado uns dias este ia para o lixo porque já não tinha utilidade”, explicou. Procurava, por isso, algo que pudesse criar e que permanecesse no tempo.
Outro motivo que o levou a seguir este caminho foi “a beleza e a funcionalidade dos tipos de letra porque é necessário ser funcional para ser utilizada e ser bela para as pessoas quererem usar”.
Quando ainda estava a estudar na ESAD, o designer começou a desenvolver a Exo, um tipo de letra que demorou dois anos até estar completa. “É uma fonte muito versátil” e que está disponível gratuitamente, porque contou com o apoio do “crowdfunding”. Através do site Kickstarter conseguiu receber cerca de seis mil euros.
Na Holanda, Natanael Gama criou o tipo de letra “Intimacy”, destinado a um vestido interactivo com o mesmo nome e em que se queria criar uma ligação entre a alta tecnologia e a sensualidade.
O segundo orador foi o ilustrador Luís Favas, licenciado em Design Gráfico pela ESAD, que já fez vários trabalhos para o jornal “i”, um dos quais era uma foto-montagem em que misturava a cara de José Sócrates com a de Pedro Passos Coelho para a notícia “Pacote de austeridade a quatro mãos”.
Luís Favas começou por fazer grafitis, mas cedo se apercebeu que não seria a melhor forma de se expressar. Optou por colocar stencils (técnica usada para aplicar um desenho) pela cidade, que poderiam ser facilmente removidos das paredes, e chegou a fazer alguns trabalhos pagos em estabelecimentos comerciais da cidade.
Acabou por desistir de fazer as intervenções urbanas porque às vezes bastava passar um dia para estar tudo rasgado. Ainda tentou fazer projecções de imagens nas paredes, mas era também demasiado efémero.
A ilustração acabou por ser o caminho mais acertado para a sua carreira profissional. No jornal “i” fez alguns trabalhos que foram publicados, mas quatro meses depois de ir para lá acabou por ser dispensado. No dia em que foi despedido, ainda lhe pediram um último trabalho, com o Papa, que seria capa na edição seguinte. Agora trabalha como “free-lancer”.
O terceiro orador, Paulo Costa, é actualmente funcionário da ESAD, onde se formou em Design Gráfico. O antigo aluno fez parte da turma que em 2003 iniciou o evento Comunicar Design, que ainda hoje se realiza anualmente. Como elemento da associação de estudantes também produziu vários cartazes que apresentou durante essa sessão.
Acabou por ficar a trabalhar na Oficina Digital da escola, onde continua a produzir elementos gráficos para eventos da ESAD. Paralelamente, trabalha também como free-lancer como designer gráfico. Um dos trabalhos que fez foi um cartaz para a festa da sua aldeia natal (Monte do Bispo), na Serra da Estrela, onde procurou fazer a ligação entre o tradicional e o moderno.

Aproveitar o tempo de estudante

Henrique Vassalo é aluno do 3º ano do curso de Som e Imagem da ESAD e está auxiliar um professor numa disciplina do 2º ano. Embora ainda esteja a estudar já é produtor musical e tem gravado algumas bandas.
No FICAS apresentou os trabalhos que produziu através de software de som e imagem, com uma concepção feita através da programação. Esta tecnologia permite que sejam realizados projectos complexos através da electrónica e da programação. Henrique Vassalo salientou que o facto de ser estudante na ESAD lhe permite ter acesso a software que poderia ser incomportável adquirir enquanto profissional.
Essa é também uma das vantagens destacadas por Bruno Carnide durante a sua intervenção, embora também ironizasse, dizendo que a ESAD “é muito boa para aprendermos a nos desencascarmos”. Só que a verdade é que, destacou, “enquanto andamos aqui a estudar não damos valor a isso, mas tudo é à borla”.
Henrique Vassalo optou por falar sobre a experiência que é deixar de ser estudante e passar a estar no mercado de trabalho. Depois de terminado o curso de Som e Imagem na escola caldense, aproveitou os contactos que fez ainda enquanto estudante e foi fazendo trabalhos como free-lancer. Através de uma agência de Lisboa, começou a fazer spots televisivos para Cabo Verde.
Embora tivesse ganho dinheiro com estes trabalhos, sentia-se angustiado porque queria arranjar um emprego. “Queria sentir-me útil. Fazia estes em dois ou três dias e depois estagnava”, comentou. Aproveitou então para fazer uma curta-metragem. “Tento sempre produzir e enriquecer o meu portfólio”, explicou, até porque foi com os trabalhos de vídeo que tinha feito, enquanto estava parado, é que conseguiu um emprego numa empresa da área. “Pode ser mais importante ter um bom portfólio do que um bom currículo”, considera.
“Nós temos muito tempo enquanto andamos a estudar e não o aproveitamos”, referiu, aconselhando os estudantes a gerirem melhor o que podem fazer enquanto ainda não entraram no mercado de trabalho.
A sessão terminou com a apresentação de Loïc Pedras sobre as viagens que costuma fazer pelo mundo como “backpacker” (sozinho e de mochila às costas).
O caldense falou das suas viagens, salientando que “os piores momentos são as melhores histórias para contar aos amigos” e fez um resumo do workshop que irá realizar em Junho no Museu do Oriente sobre o equilíbrio entre a sua paixão e a profissão (trabalha no Comité Olímpico de Portugal).
Nesse workshop (cuja informação pode ser encontrada em www.museudooriente.pt/1459/viajar-para-quem-trabalhaequilibrar-paixao-e-profissao.htm) Loïc Pedras vai abordar questões como a preparação da viagem desde a ideia inicial até ao dia do regresso ao trabalho, passando pela organização e criatividade necessárias ao seu financiamento, a escolha criteriosa do calendário da viagem, os sistemas de milhas e a negociação das férias com o chefe.
“Quando viaja, Loïc Pedras transforma-se num misto de embaixador ambulante, através das histórias que conta de Portugal e dos portugueses, e de ‘maluco’ que viaja à boleia, que conduz tudo o que é transporte público e que não resiste a roubar um sorriso ou uma gargalhada com as suas aventuras”, refere a apresentação.

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Pedro Antunes
pantunes@gazetadascaldas.pt

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