Grupos de teatro de escolas de todo o país estiveram nas Caldas entre os dias 30 de maio e 2 de junho
O XLIII Encontro de Teatro na Escola, organizado pelo Agrupamento de Escolas Bordalo Pinheiro, começou a 30 de maio, na sede do Agrupamento, com uma sessão que recordou como decorreu a apresentação de“Morte e Vida Severina” de João Neto que ali foi representada por jovens alunos daquela escola, em 1972.
Um dos convidados, Manuel Gil foi o encenador da peça, que tinha visto a ser representada por atores brasileiros em Lisboa. O convidado recordou que quem fez a música de “Morte e Vida Sverina” foi Chico Buarque e, segundo o encenador, o produtor foi José Luís de Almeida Silva. “Era uma peça dura que relata a viagem de um retirante até ao Litoral brasileiro. E termina com uma mensagem de esperança, com o nascimento de uma criança”, disse, contando que esta era acompanhada por música ao vivo.
“Éramos um conjunto de 20 pessoas e três já faleceram”, recordou Manuel Gil, acrescentando que uma das participantes, Laurinda Ferreira, enveredou pela carreira profissional de atriz numa companhia de Viana do Castelo.
Maria José Alves, Júlio Madruga, António Salvo e José Luís de Almeida Silva, ligados à representação de “Morte e Vida Severina” quiseram prestar homenagem ao encenador Manuel Gil, passado mais de meio século sobre a representação desta peça, que a própria direção da escola não queria que fosse representada noutros locais. Mas não conseguiu travá-la la, pois apesar da “Morte e Vida Severina” não ter podido ser apresentada na Escola de Peniche, depois de visada pela censura, pôde ser apresentada através do Conjunto Cénico Caldense em mais de uma dezena de localidades de todo o país. Marcou presença no Festival de Teatro de Évora, o que lhe valeu um relatório da PIDE/DGS, que comparava esta peça com o que se passava no Alentejo, antes de Abril. A peça foi considerada “perigosa”.
Nessa altura, o teatro “servia também como combate à ditadura”, disse José Luís de Almeida Silva.
António Salvo, por seu lado, partilhou que, mais tarde, a seguir ao 25 de Abril grande parte do grupo veio a participar na peça de teatro “O Canto do Papão Lusitano”, de Peter Weiss, que percorreu todo o país, com 62 representações , muitas integradas nas campanhas de esclarecimento do MFA. “Foi um contributo das Caldas para a Cultura e para o teatro, que é também uma forma de liberdade”, rematou António Salvo. Por seu lado, Júlio Madruga sublinhou o facto “do teatro ajudar a formar cidadãos”.
Nos quatro dias de encontro, a Escola Secundária recebeu 160 alunos e professores de escolas de todo o país, incluindo das ilhas. O programa contemplou várias peças de teatro e workshops ligados à artes do espetáculo. Segundo a responsável, Cecília Correia, houve também percursos orientados por alunos da ESAD.CR que passaram por pontos turísticos como a Piscina da Rainha, no Hospital Termal.
As peças de teatro foram diversas, do teatro de rua ao de sala e de vários géneros como drama, comédia e experimental. Estas foram apresentadas por grupos de diferentes regiões do país, mostrando a riqueza cultural e artística.
Estiveram no CCC, nos Pimpões e Secundária Bordalo Pinheiro.
A docente, que coordena o Projeto Cultural de Escolas no âmbito do Plano Nacional das Artes, afirmou que “foram quatro dias de alegria e muito boa disposição” e ainda salientou “a qualidade artística das peças apresentadas, tendo em conta que são trabalhos de teatro amador de alunos do ensino básico e secundário”.
Os workshops decorreram nos Silos, no Cinematic Studios, no Museu Malhoa e em espaços da escola. Além de Cecilia Correia, foram também responsáveis pela organização do evento, o diretor do Agrupamento, Jorge Pina, e a artista-residente do agrupamento, a atriz Amábile Bezinelli, além de outros professores do agrupamento, pais dos alunos do Clube de Teatro e Associação de Estudantes. ■