Os 50 anos do 25 de Abril são também assinalados com a publicação de duas obras, “Os cravos de Celeste”, de poesia, e “Rua 25 de Abril” que levam os leitores a refletir sobre a Revolução e a Liberdade
O escritor obidense Alexandre de Sousa foi convidado pela editora brasileira Rota Imaginária para escrever um livro sobre o que se recordava do 25 de Abril de 1974. Nasceu assim “Os cravos de Celeste”, uma obra de poesia onde conta a história do pai, e de tantos outros homens na altura, que nunca aprendeu a ler e escrever e a ideia que este lhe passou sobre a revolução e a liberdade. “Para ele a liberdade não foi o derrube do Antigo Regime, que já estava enfraquecido, mas a democratização do ensino”, explica Alexandre de Sousa que, no último poema do livro refere que “não há liberdade se não tivermos pensamento crítico e que este só se adquire na escola”.
O livro foi apresentado no dia 25 de abril na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Brasil), onde o escritor foi convidado a participar no Colóquio Internacional sobre Direitos Humanos, Censura e Resistência na Literatura. Nesse mesmo dia à tarde, lançou o mesmo título na Patuscada, um bar, livraria e biblioteca de São Paulo. No lançamento, entre os presentes, esteve a atriz brasileira Giulia Gam, que irá fazer um vídeo a declamar um poema do livro, que foi prefaciado por Laborinho Lúcio e Violante Saramago, a convite da editora portuguesa, Rota Imaginária Portugal em parceria com a Edições Esgotadas.
Em Portugal o livro foi apresentado no Latitudes – Festival de Literatura e Viajantes, em Óbidos.
Também no final do mês, o autor esteve no festival Flipoços, em Poços de Caldas, a apresentar o livro “Cantos da Terra”, numa parceria com o ilustrador Daniel Kondo, um dos mais prestigiados autores brasileiros de literatura infanto-juvenil. A obra resulta de um convite da editora Studio Plural para fazer um livro sobre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Foi categorizada como infanto-juvenil com o propósito de ser incluída no Plano Nacional do Livro e Leitura, que faz grandes aquisições de livros para entregar às escolas. Alexandre de Sousa já possui os livros “O mundo de corda”, nos editais dos estados de S. Paulo e de Belo Horizonte, e “O mapa da poesia” no Recife.
A editora brasileira está em conversações com congéneres portuguesas para ser lançado também deste lado do Atlântico e está prevista uma edição em espanhol para ser lançada no Uruguai em novembro. Ambos os livros são de poesia. “Acho que há que fazer um esforço muito grande para as crianças começarem a ler e a poesia, por causa da musicalidade que tem, acaba por ser mais atrativa”, explica o autor à Gazeta das Caldas.
Entre os vários projetos que tem em mãos estão um livro sobre os Lusíadas para crianças, para assinalar os 500 anos do nascimento do escritor, um outro livro para crianças e um terceiro dedicado à aeronáutica, sobre um dos seus pioneiros, Bartolomeu de Gusmão,
Alexandre de Sousa partiu ontem (22 de maio)para a Feira do Livro de Machico (Madeira), onde vai lançar o livro mais recente que envolve as escolas de Portugal (Óbidos e Machico), Brasil, Angola e Moçambique, no âmbito do programa Escolas que se Abraçam, do qual é coordenador. A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) já apadrinhou o projeto e este ano deverão integrá-lo também Guiné Bissau, S. Tomé e Príncipe e Cabo Verde. Falta apenas incluir Timor, o que deverá acontecer no próximo ano.
Uma especial rua de Abril na Biblioteca

Ana Faro e Dulce Nunes trabalham em conjunto há vários anos. A primeira escreve e a segunda ilustra e assim nasceu mais uma aventura literária “Rua 25 de Abril”, que alude à Revolução.
A obra, editada pela Alfarroba, foi lançada a 23 de abril, na Biblioteca de Samora Correia e será apresentada no próximo sábado, 25 de maio, pelas 16h00, na Biblioteca das Caldas.
Esta história surgiu durante a pandemia e Ana Faro apresentou-a a turma de Artes Visuais da secundária na Secundária Raul Proença e obteve boas reações dos estudantes. “Começámos a pensar em editar um livro”, disseram as autoras. Dulce Nunes começou logo a desenhar as ilustrações desta história que tem como personagem o Velho da Cadeira que controla tudo o que se passa na Rua 25 de Abril. Esta só tinha janelas fechadas e paredes cinzentas. Além de que silenciosa, é um lugar “onde não há conversas de adultos nem risos de crianças”. Esta personagem achava que mandava e que toda a gente tem que se sujeitar às suas ordens. Até que alguém decide abrir uma janela e, nos dias seguintes, colocar flores no parapeito.
Ora, o Velho da Cadeira mandou cortar as flores das janelas que tinham coloridos cortinados a esvoaçar. Cada vez que se cortavam as flores vermelhas, mais estas cresciam. E quando o Velho se preparava para discursar, para impôr a ordem, inspirou o perfume dos cravos vermelhos que eram cada vez mais usuais nas muitas janelas que agora se abriam naquela rua. Ele “ficou de olhos fechados e nunca mais teve vontade de resmungar”, conta a história dedicada à Liberdade e que traz consigo a mensagem que esta tem que ser diariamente alimentada, abrindo janelas e dando espaço ao outro.
“Rua 25 de Abril” foi feito com gosto, e com interessantes detalhes como as costuras no exterior – e recortes que salientam as ilustrações na capa. É também um verdadeiro elogio à Revolução e ao que esta trouxe ao país. ■