Faleceu na madrugada da passada terça-feira, 8 de Março, o artista Luís Ferreira da Silva (1928-2016). Estava internado no Montepio, com a sua saúde frágil e pereceu durante o sono. Ferreira da Silva deixa uma marca pessoal por toda a cidade em várias obras de arte pública e também no coração de muitos amigos com quem privou ao longo dos anos.
Luís Ferreira da Silva nasceu no Porto em 1928, mas há muito que pertencia ao Oeste e às Caldas da Rainha, cidade que escolheu para viver e trabalhar. Em várias entrevistas à Gazeta das Caldas afirmava que uma das razões para ter escolhida esta zona era luz, que o inspirava para o seu trabalho criativo.
Além da cerâmica, mestre Ferreira da Silva deu cartas em muitas outras áreas como o desenho, a gravura e a escultura nos mais diversos materiais desde o metal até ao vidro. É, aliás, na mistura de materiais que mais gostava de criar. Sempre irreverente, Ferreira da Silva continuava a propor obras de grande escala para a sua cidade, mesmo quando a sua saúde começou a deteriorar-se.
Este multifacetado artista foi agraciado com a medalha de ouro da Cidade em 2001 e, nove anos depois, com a Comenda da Ordem de Mérito pelo Presidente da República, Cavaco Silva (que agora deixa o cargo).
Em 2009 foi homenageado pela autarquia com uma exposição de obras que fazem parte do espólio autárquico e com a decisão da criação de uma Casa Museu que lhe será dedicada. Mas o próprio deixou o alerta em entrevista à Gazeta: “não suporto museus, acho que são sarcófagos, prefiro mil vezes realizar arte pública!” (edição de 23/12/2010). O então presidente da Câmara, Fernando Costa, apontava as antigas fábricas como locais mais prováveis para essa casa museu, mas o artista referiu à Gazeta das Caldas que preferia a Secla onde trabalhou várias décadas em vez da Bordalo Pinheiro com quem não tinha nenhuma relação.
Voltar à Secla seria para Ferreira da Silva uma forma de regressar ao “Curral”, o estúdio de inovação que ajudou a criar naquela fábrica. Um ano mais tarde falou-se na possibilidade de criar um espaço junto às instalações do Cencal, onde o artista poderia continuar a desenvolver o seu trabalho criativo. A crise deixou em suspenso estes projectos.
Peças cada vez maiores
“Desde 1953 quando vim para a Secla que me deixei influenciar pelas obras de Bordalo Pinheiro”, disse Ferreira da Silva à Gazeta das Caldas.
“Interessava-me toda aquela construção que ele fazia e todo aquele bucolismo…”, contava, por exemplo, quando inaugurou uma exposição com obras do início dos anos 90 e que o mestre gostaria que se destinassem a um eco-museu que muito desejava que fosse construído junto à Lagoa de Óbidos.
Sobre a homenagem que a autarquia lhe fez, anunciando a criação de um núcleo museológico dedicado à sua obra, é algo que o deixou “muito grato pois é mesmo muito importante para qualquer autor”, disse então. Vital para este artista, mestre no trabalho com vários materiais, era poder continuar a trabalhar porque “a minha paixão é execução das obras”.
Na passada terça-feira a Assembleia Municipal aprovou por unanimidade um voto de pesar pela morte do mestre, tendo cumprido um minuto de silêncio em sua homenagem. A Câmara decretou luto municipal durante um dia.
O funeral do mestre Ferreira da Silva estava previsto para a passada quarta-feira.