28 O autor dedica-se a criar peças em porcelana onde reproduz as mais variadas expressões humanas. Faz tudo de memória, sem recurso a moldes, e as suas obras são um verdadeiro sucesso de mercado. Filipe Faleiro pretende ainda desenvolver parcerias com outros profissionais das ciências sociais, acrescentando novas funções às suas peças, para além da estética.
Filipe Faleiro, 26 anos, é de Sintra e decidiu trocar a engenharia informática pela cerâmica. Em 2016 estava no último ano do curso e decidiu mudar de vida. A sua namorada, estudava escultura nas Belas Artes de Lisboa e trabalhava em cerâmica e foi nessa altura que teve o primeiro contacto com o trabalho no barro. Depois quis aprofundar conhecimentos no Cencal para onde foi tirar o curso de Cerâmica Criativa. Aprendeu roda de oleiro e a trabalhar várias pastas até que decidiu trabalhar a porcelana.
Apesar de ter sido avisado sobre a dificuldade em trabalhar esta pasta, Filipe Faleiro insistiu e é com este tipo de matéria que desenvolve o seu trabalho. O autor cria expressões humanas, rostos de outros que faz de memória e sem recurso a moldes.
No último Caldas Late Night, este artista apresentou na Toca da Onça uma instalação constituída por 108 peças, que estiveram em exposição pelos três espaços deste bar. Filipe Faleiro contou que fazer mais de uma centena de expressões humanas em dois meses foi “um belo desafio e um trabalho árduo, feito de memória, sem moldes e com muito afinco” e que acabou por marcar uma nova fase na vida deste autor. Filipe Faleiro vive e trabalha nas Caldas e encara com naturalidade a possibilidade de ingressar na ESAD para aprofundar estudos artísticos.
“Correu tudo muito bem na Toca da Onça e a partir daí a receptividade foi tão boa que tive que pensar numa forma de continuar este projecto”, contou Filipe Faleiro que entretanto contactou com a Partnia, a incubadora de empreendedorismo, instalada nos Silos, que o ajudou a criar um projecto relacionado com a sua produção cerâmica.
“Esse projecto consiste em desenvolver a arte para intervir socialmente”, disse o autor acrescentando que nas suas obras, onde imita as expressões humanas, “não tenho preocupações com a simetria ou com a proporção pois não é esse o meu foco”.
Assim, tal como as pessoas, as suas peças são “únicas” e podem ser usadas nos mais variados tipos de trabalho social relacionado com a gestão e controlo de emoções. O autor gostava pois de desenvolver trabalho em parceria com sociólogos e psicólogos, aliando a cerâmica ao trabalho social.
Filipe Faleiro vai começar a realizar sessões em bibliotecas e escolas e a primeira vai ter lugar numa escola secundária em Mem Martins. Além de uma palestra sobre emoções, o ceramista pretende conversar com os estudantes sobre o papel da escola, da formação e da procura individual pela área “que mais nos realiza, tal como aconteceu comigo em relação à cerâmica”.
Sangue novo na cerâmica local
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As expressões humanas são algo que cativa qualquer pessoa, bastava ver a reacção dos visitantes que tiveram oportunidade de ver a mostra na Casa dos Barcos. Presente na exposição esteve uma peça que marca a nova série do autor.
Numa esfera de porcelana há duas expressões de dois rostos que pertencem a irmãos e que tanto podem ser “sinónimos como antónimos”, disse Filipe Faleiro que apresentou também uma outra série que une diferentes expressões de rosto com mãos. Presentes estiveram outras propostas onde há composições de várias máscaras onde se representam expressões humanas, decoradas com azul cobalto.
“Esta cidade já teve tanta fábrica e tanto atelier de cerâmica, muitos até no centro da cidade porque é que não podemos voltar a isso?”, questionou-se o jovem que acredita que há actualmente na cidade as condições necessárias para que quem quiser possa viver do seu trabalho artístico.
“Eu acredito nisso. Nos Silos há várias pessoas a trabalhar em cerâmica e há quem preste serviços que permitem, por exemplo, cozer as peças no local”, referiu Filipe Faleiro acrescentando que as suas peças são adquiridas por clientes que o procuram nas Caldas e que são de Lisboa ou de Leiria.
“As Caldas vive muito à sombra de um gigante que foi Bordalo Pinheiro mas é preciso que apareça mais gente, com novas propostas”, disse o ceramista, acrescentando que nas suas obras tenta não fazer nenhuma igual.
Como faz tudo de memória, aprecia ir de manhã bem cedo à praça da fruta e registar as expressões de vendedores e transeuntes. As peças deste autor custam entre os 20 e os 500 euros e são procuradas por lojas de peças de autor e por particulares que as levam para fazer composições para decorar as suas divisões.
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