Veio estagiar para as Caldas em 2021 e decidiu ficar. Autor brasileiro integrou o mapa “À Descoberta da Cerâmica”
É na Travessa da Água Quente, junto à Rainha, que Heráclito Lima tem o ateliê, onde antes trabalhou a ceramista Bolota. É lá que o novo inquilino pinta as telas e também se dedica à cerâmica. Tem 44 anos, é natural de São Paulo, mas há sete anos que resolveu atravessar o Atlântico e tentar a sorte em Lisboa.
Formado em Cozinha, trabalhou em vários restaurantes, incluindo vegetarianos. “Gosto de comida!”, afirmou o autor, que é fã da dieta mediterrânica e aposta cada vez mais nos pratos vegetarianos. Como tal, “sou um verdadeiro fã da Praça da Fruta”.
Mas é na arte que Heráclito Lima mais se revê, seja na pintura, seja a trabalhar no barro.
Este artista já expôs trabalhos em galerias em Lisboa e é autor de um documentário sobre um despejo que sofreu na capital. Neste seu último trabalho, aproveitou para dar a conhecer as dificuldades de quem emigra e também para abordar temáticas que estão na ordem do dia, como a gentrificação urbana e a especulação imobiliária a que está sujeita a capital.
Uma das mostras de pintura que apresentou em Lisboa designou-a “Auto”, pois para Heráclito Lima é importante tudo o que se relaciona com a própria auto-construção.
“No Brasil, em várias zonas periféricas, são as próprias pessoas que vão construindo as suas casas”, disse o autor, que já provou que não há trabalhos manuais que não experimente, sentindo essa vontade férrea de se expressar, de forma artística.
À Gazeta das Caldas revela que tentou entrar para os cursos do Cencal, mas como não conseguiu, a formação em Cerâmica e Vidro foi obtida no Cearte (Centro de Formação Profissional do Artesanato), em Coimbra.
Contudo, o estágio já foi feito com o Atelier 19, no centro das Caldas, e que pertencia aos ceramistas Miguel Neto e Paula Violante.
“Eles são dois mestres, aprendi mesmo muito!”, contou o Heráclito Lima, fascinado com a escultura dela e com a olaria dele. “A seriedade que eles colocam nos seus trabalhos também passou para mim”, disse o autor, que quer chegar ao mais perto possível desse ponto. “Foi uma aprendizagem que fica para a vida e ainda hoje vêm cá dar ‘dicas de ouro’ e que ajudam a ‘desemperrar’ os projetos cerâmicos”, disse.
O brasileiro já integra várias iniciativas culturais da cidade, como “Montra de Rua”, “Bazar à Noite” e fez parte da Mostra de Mercado de Cerâmica que teve lugar, em junho, no Parque.
Na sua opinião, este evento deveria acontecer de forma regular e em locais no centro da cidade. Heráclito Lima está interessado em melhorar as pastas com que trabalha, misturando o barro que compra com algum, natural, que vai buscar à zona da praia do Rio Cortiço.
Por agora, o artista divide-se entre a gastronomia e o trabalho artístico e precisa deslocar-se não só a Lisboa como ao estrangeiro para realizar eventos de gastronomia. O próximo trabalho previsto é na Alemanha.
Ao ceramista não faltam ideias para projetos colaborativos entre autores nas Caldas da Rainha e também quer fazer eventos, nos quais pretende unir a gastronomia a peças de cerâmica, executadas pelo próprio chef.
Pôr as mãos no barro
Do programa de “Mapa à descoberta da cerâmica” também houve espaço para a experimentação, nomeadamente com nomes como Francisco Correia, que orientaram workshops sobre olaria de roda no seu espaço de trabalho, situado na Zona Industrial.
A iniciativa da autarquia que pretende valorizar a cerâmica termina na sexta-feira, 29 de julho, com o Dia Aberto nas Cerâmicas do Moinho, em Salir do Porto que terá lugar entre as 15h00 e as 18h00, e permitirá conhecer o processo criativo e as obras de cerâmica de António Mendes e Paula Monteiro. ■