João Serra está preocupado com a gestão e manutenção da obra de Ferreira da Silva.

Maria dos Cacos, a primeira mulher que se dedicou à cerâmica das Caldas, chamava-se Maria Póstuma, assim baptizada por o seu pai já ter falecido quando esta nasceu. [/showhide]O historiador João Serra descobriu, através de registos paroquiais, que Maria dos Cacos nasceu em 1797, sendo filha e neta de oleiros. Mas não crê que esta tivesse abraçado a profissão do pai e avô pois esta era essencialmente masculina. A famosa Maria dos Cacos terá sido, afinal, uma empresária e dedicou-se à venda de cerâmica caldense por todo o país, tal como a tradição oral já o afirmava. Esta foi uma das revelações feita no curso Colecções de Cerâmica Caldense, organizada recentemente pelo Centro de Formação de Formação de Professores Centro Oeste (CFAE) e que contou com mais de meia centena de participantes.

Maria Póstuma era filha, neta e afilhada de oleiros, profissão que, em finais de setecentos, era apenas masculina. Pertenceu à família Fausto de Sousa tendo  herdado a olaria do pai. Dado que fazer cerâmica estava reservada aos homens, Maria dedicou-se a vender fora das Caldas. “É esta a característica inovadora pois permite que a cerâmica caldense contacte com as de outros locais”, disse o investigador.
A partir de Maria dos Cacos, todas as oficinas com três a quatro operários “tinham que ter um sistema de distribuição: uma loja e um processo de colocação das peças em mercados externos à cidade”, disse o investigador. O tradicional oleiro vai continuar a vender a sua produção no mercado das Caldas pois, por norma dedicado à produção, “e não tem tempo nem logística para vender fora”. Esta “empresária”, com 25 anos, teria naquela época 15 a 16  empregados, “uma estrutura com alguma importância em 1820”, afirmou João Serra.
“Chamar-lhe oleira não é rigoroso pois não creio que tivesse sido uma executante, embora pudesse  até conhecer a técnica”, disse o historiador. No entanto, sendo ela filha e neta de oleiros e, como não teve a hipótese de ter a profissão, “acabou por ficar com a distribuição pensando na loja e na venda em feiras pelo país”, acrescentou o historiador.
Entre as feiras mais famosas, que se realizavam de norte a sul do país contam-se algumas das mais antigas que decorriam em Barcelos, Porto e nas zonas limítrofes de Lisboa, tal como foi confirmado pela tradição oral aos estudiosos da cerâmica caldense. É ali que, em 1825, Maria dos Cacos vai vender a produção das Caldas e é de lá que também traz produção de outros pontos. Tanto que, no final do século XIX, início do século XX, quando os etnógrafos foram ver as casas portuguesas, “descobriram que em todas havia louça caldense, então descrita por Leite Vasconcelos como quinquilharia das Caldas”. O ceramista Manuel Mafra, foi empregado de Maria dos Cacos e adquiriu-lhe a estrutura comercial por volta de 1853.
Esta revelação relacionada com recentes investigações nas memórias paroquiais por parte de João Serra foram feitas durante o decorrer do curso Colecções de Cerâmica Caldense: Património e História que tiveram lugar entre os dias 4 e 8 de Julho. As inscrições esgotaram e mais de meia centena de pessoas (na maioria, professores) aprendeu mais sobre vários aspectos da cerâmica local.

Quem cuida do Jardim d’Água?

Além das aulas teóricas, a acção de formação Colecções Caldenses  incluiu várias visitas a colecções – públicas e privadas – e também  se realizaram vários percursos pela cidade para apreciar e conhecer melhor a arte pública cerâmica.
O coordenador da acção mostrou alguma preocupação com a intervenção “Jardim d’ Água” de Ferreira da Silva. Esta foi iniciada nos anos 90 e actualmente, por causa da   fase de transição que se vive da passagem do património do CHO para a Câmara Municipal, não está definido quem cuidará desta obra que une cerâmica, vidro, ferro e betão, numa alegoria às quatro estações. Além de inacabada, está exposta à degradação e já há grafittis nalgumas peças de cerâmica.
“Sendo uma obra pública, na definição do seu destino tem que se saber quem é a entidade proprietária”, afirmou João Serra, acrescentando que, em nome do interesse público,aquela intervenção artística deve ser mantida e protegida. Por duas razões: a primeira por segurança e a segunda por uma questão de fruição pública. A obra “deve estar nas melhores condições” e portanto aquele património “tem que ser acautelado enquanto resolvem a questão da gestão”. Caso contrário, a obra degrada-se e o abandono “é o pior convite à não preservação”.  Para o coordenador de Colecções de Cerâmica Caldense, da mesma maneira que a Câmara se preocupa com a segurança dos bonecos bordalianos que introduziu na cidade, também tem o dever de cuidar do Jardim d´Água, já que “ambos fazem parte do espaço público caldense”, rematou. [/showhide]