Leciona desde 1998 na ESAD, onde coordena o curso de Som e Imagem e continua a realizar curtas-metragens
Há quatro anos que Isabel Aboim Inglez coordena o curso de Som e Imagem da ESAD. “É o segundo curso com mais alunos, só suplantado por Design Gráfico e Multimédia”, contou a docente, que coordena 40 professores que têm a seu cargo 350 alunos. Começou a dar aulas aos 23 anos, tendo começado na secundária António Arroio, em Lisboa. Também dava formação no CITEN (Centro de Imagem e Técnicas Narrativas) na Fundação Calouste Gulbenkian, relacionadas com o cinema de animação, quando foi convidada para vir dar aulas para a ESAD.
Antes, a doutorada em Cinema foi diretora de fotografia, argumentista e assistente de realização em vários filmes de ficção e animação.
“A vida é feita de opções e desde cedo que vou tentando equilibrar as minhas escolhas”, disse à Gazeta a docente que, aos 50 anos, se divide entre a escola de artes das Caldas e o cinema.
“Fui fazendo trabalhos de imagem real”, contou a autora, que, mesmo ligada à docência, continua a dedicar-se a outras áreas como a fotografia e o cinema. Atualmente, já não tem a disponibilidade necessária para realizar longas metragens, mas continua a dar cartas no cinema de animação, área a que se dedica com afinco desde os 14 anos.
“É um território que domino, gosto e que vou gerindo consoante o meu tempo disponível”, observa.
A animação, contou, combina duas coisas fundamentais: o cinema e o desenho. “É uma investigação que faço de forma permanente, pois dedico-me ao cinema de animação autoral”, referiu a autora de “Idade Óssea – Um filme em sete quadros” 20 minutos que está a ser terminado.
“Trata-se de uma reflexão contemplativa, um trabalho artístico sobre a inevitabilidade do tempo”, revelou.
Em simultâneo, Isabel Inglez dedica-se também à fotografia. “Hiato” foi o última projeto comunitário no Bairro das Colónias, em Lisboa, onde participou. Juntaram-se fotógrafos e artistas para retratar. O projeto teve o apoio dos comerciantes e por isso “foram colocadas imagens de grande formato nas montras”, contou a participante. Está também prevista a edição de um livro.
Alunos-pais que já são docentes
O curso que Isabel Aboim Inglez dirige nas Caldas, dedicado ao Som e Imagem, vai assinalar duas décadas de existência. A docente explicou que o curso possui quatro áreas: o cine-vídeo, o som, a fotografia e a animação. E todas comunicam entre si, dando multidisciplinaridade aos seus estudantes.
“Permite-lhes ter uma ideia global sobre as matérias do audiovisual”, afirmou a responsável. Um dos projetos que está ligado ao curso é o Festival Impulso, que conta com a colaboração de alunos de vários cursos da ESAD e que desde o início teve “uma grande adesão do público e da comunidade”.
Isabel Aboim Inglez refere que “já tem antigos alunos com filhos e, outros, que atualmente já são também professores na ESAD”.
Quando começou a trabalhar, nos anos 1990, conta que escasseavam as mulheres a trabalhar na área da imagem, fosse nos teatros ou nas equipas de cinema. “Tínhamos sempre de provar que éramos boas nas nossas tarefas”, conta acrescentando que as coisas estão um pouco diferentes e dá como exemplo o curso que dirige, no qual as últimas contratações foram de mulheres.
De resto, lecionam nas Caldas autoras de renome das áreas do cinema e da fotografia como Inês Oliveira, Catarina Mourão, Margarida Cardoso e Cláudia Fischer.
“Os seus olhares e presença são muito importantes”, disse a coordenadora acrescentando que ainda há muitos departamentos nas escolas e na sociedade onde ainda “é mais fácil confiar num homem do que numa mulher”. Como tal, a responsável é totalmente a favor das quotas e da paridade e defende que terá que surgir “uma nova mentalidade”, onde oportunidades e salários devem ser paritários.
Neta de ativista antifascista
No início do século XX, a avó, Maria Isabel de Aboim Inglez, foi uma ativista antifascista importante. Foi a única mulher dirigente do MUD e perseguida pela Pide.
“Era uma pedadagoga, tinha uma escola e tiraram-lhe a licença de lecionar”, recordou a neta, acrescentando que os seus cinco filhos têm formação universitária. Todos à exceção de Carlos Aboim Inglez, pai da coordenadora, que seguiu a política tendo-se tornado um destacado elemento do PCP.
Com tais exemplos, a docente cresceu no “esplendor da Democracia” e, por isso, nunca perde as oportunidades que lhe dadas para intervir. “Nunca me passou pela cabeça não votar”, rematou.