Ivo Andrade trouxe a ruralidade aos espaços do Centro de Artes

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Chão do Espaço Concas está coberto com giestas. Artista proporciona aos visitantes uma experiência global aos sentidos
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“Matéria Cíclica” designa a mostra de Ivo Andrade, patente no Centro de Artes

A mostra – que é composta por trabalhos de fotografia, pintura, instalação, desenho e vídeo-projeção – e que pode ser apreciada no Museu Leopoldo de Almeida e Espaço Concas, tem algo em comum: as ovelhas de raça autóctone e que vivem na região da Serra da Estrela. Foi nesta zona que cresceu Ivo Andrade, artista plástico que vive nas Caldas e que usa este animal como símbolo de de vida e de ligação à natureza. Já há poucas pessoas que se dedicam ao pastoreio destes animais, como a bordaleira da Serra da Estrela, se bem que esta espécie conta com um conjunto de medidas de proteção DOP (Denominação de Origem Protegida) por causa do seu leite, do queijo e da sua carne. Para o autor, esta ovelha está intrinsecamente ligada à comunidade e aos ciclos temporais, acompanhando o pulsar das estações.
Nas fotografias podem ser vistas retratos de um rebanho de bordaleiras onde as luzes dos olhos dos animais se confundem com as iluminações da cidade.
“Usei imagens sobrepostas do rebanho e do concelho das Caldas, ligando os dois mundos, o urbano e o rural”, referiu o artista, mostrando que há retratos noturnos de localidades como Mosteiros, Tornada e da cidade das Caldas, com, por exemplo, com o Campo da Mata em destaque. São pois paisagens urbanas que servem de cenário aos rebanhos das ovelhas bordaleiras.
Nas pinturas, este autor usou estrume das ovelhas e cinza de zonas que sofreram grandes incêndios. “Não utilizo qualquer tinta”, disse Ivo Andrade, que recolhe vários tipos de estrume, ossos de animais e pedras nas incursões que faz desde 2004, na Serra da Estrela. E são esses materiais que transforma para dar vida aos seus trabalhos.
Os ciclos da natureza, em eterno movimento infinito é algo que interessa a Ivo Andrade. “ Quer o estrume quer a cinza simbolizam o fim de um ciclo, no entanto ,as suas caraterísticas permitem preparar o crescimento de nova vida, fertilizando o solo”, disse o autor que tanto retrata elementos da paisagem serrana como animais míticos.

No Museu Leopoldo de Almeida estão fotografia e pinturas deste autor

Presente, no Espaço Concas, está a segunda parte desta mostra. A surpresa é que todo o chão do espaço está coberto de giestas, dando ao visitante a ideia do que são feitas as “camas” das ovelhas nos currais. “Esta é uma exposição multisensorial pois todos os sentidos são despertados, quer pelo uso das giestas quer pelo som do documentário da romaria que se realiza na zona de Sernancelhe”, disse o autor, explicando o vídeo mostra uma prática ancestral.
No início de maio, os rebanhos de bordaleiras são treinados pelos seus pastores e têm que circundar uma capela “num ciclo infinito que é difícil de quebrar”, contou o autor. Terá que ser novamente o pastor a quebrar esse ciclo pois,caso contrário, os animais continuam a correr, até à exaustão. É uma prática que está a cair em desuso e que inclui o embelezar dos animais com adereços feitos de lã colorida, algo que também pode ser visto no documentário presente nesta mostra e que dá ao visitante várias leituras.
Ivo Andrade formou-se em Artes Plásticas na ESAD.CR. A não perder, a mostra “Matéria Cíclica” vai estar patente até 30 de janeiro de 2024. ■

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