Jack Broadbent: o músico que toca guitarra com a ajuda de um cantil de whisky surpreendeu no Caldas Nice Jazz

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Gazeta das Caldas
Antes de actuar em grandes palcos, Jack Broadbent tocava na rua
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Uma guitarra e uma garrafa de bolso para whisky (daquelas pequenas e metalizadas). A combinação é improvável, mas nas mãos do inglês Jack Broadbent, estes dois objectos ganham vida e sentido. Aclamado pela crítica como o “novo mestre do slide guitar”, o músico foi o primeiro nome do cartaz do Caldas Nice Jazz a actuar no CCC, no passado dia 26 de Outubro. A avaliar pela reacção do público – que aplaudiu de pé, gritou “bravo” e comprou CD’s no final – os concertos no grande auditório não poderiam ter tido melhor arranque.
O jazz continua nos próximos dias com a dupla Jacqui Naylor e Art Khu, Sarah McKenzie e os portugueses Afonso Pais e Rita Maria.

Jack Broadbent sobe ao palco sozinho. Cabelo comprido e despenteado, camisa branca com as mangas arregaçadas. Estilo descontraído. Tem à sua espera duas guitarras, um banco e uma cerveja. O aparato não é muito, mas também não é necessário. E o público é o primeiro a perceber isso.

A presença de Jack Broadbent chega para todo aquele auditório e a sua música de estilo blues chama desde logo a atenção pela diferença. É que, embora também toque guitarra da maneira que é mais comum, o músico distingue-se por utilizar a técnica do slide guitar. Mas nem aqui o faz como é habitual. O slide guitar consiste em utilizar o dedo médio para tocar, no qual é colocado um pequeno cilindro de metal, vidro ou cerâmica, que depois desliza pelas cordas da guitarra e provoca modificações no som que sai do instrumento. Só que Jack Broadbant não utiliza este cilindro, mas sim uma pequena garrafa de whisky. Daquelas metalizadas que cabem num bolso. Isto não só lhe confere originalidade como lhe permite criar um conjunto de sons completamente único.
A rapidez com que toca é impressionante, influenciado pelo facto de ter aprendido bateria, antes até de ter escolhido a guitarra. Em miúdo, também chegou a tocar piano, mas como compositor e cantor, Jack Broadbent viu na guitarra o instrumento mais adequado para agarrar o sonho da música. E acertou.
“She Said”, “On The Road Again”, “Don’t Be Lonesome” e “The Wind Cries Mary” são temas originais que conquistam os espectadores. Assim como as suas versões de “Willin” (Little Feat) – uma canção que costuma tocar com o pai, que também é músico – e “Hit Road Jack” (Ray Charles). Há ainda tempo para o guitarrista apresentar algumas músicas que farão parte do seu novo álbum, que será gravado já no próximo mês. “This Town” e “If” são dois exemplos.
Entre as músicas os aplausos são fortes, ouvem-se assobios de elogio e há até quem se atreva a gritar “Bravo!”. Jack Broadbent não é o artista mais conversador do mundo, fala pouco, mas é espontâneo. E chega até a ser engraçado. Isso vê-se especialmente quando é apanhado de surpresa por um contratempo: rompe-se uma corda e Jack Broadbent é obrigado a substituí-la em palco porque não há nenhuma guitarra suplente. Embora a tarefa leve apenas alguns minutos, é o suficiente para manter uma conversa informal com o público, que se mostra bastante responsivo. Principalmente os espectadores ingleses, que eram muitos,  grande parte residentes na região.
“Este é capaz de ter sido a coisa mais estranha que fiz em palco, mas quero agradecer-vos por serem uma plateia tão paciente e agradável”, afirma Jack Broadbent, que no final do concerto recebeu o público numa sessão de autógrafos.

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DA RUA PARA OS PALCOS

Jack Broadbent foi o ano passado um dos nomes do Montreux Jazz Festival (o mais importante festival de jazz da Suiça), que o aclamou como “o novo mestre do slide guitar”. Antes disso, já tinha sido convidado para tocar em concertos de artistas como Lynyrd Skynyrd, Johnny Hallyday, Robben Ford e Tony Joe White. Mais recentemente lançou-se nos espectáculos a solo, numa digressão internacional que já passou as fronteiras da Europa e chegou aos Estados Unidos, Canadá, Japão e Nova Zelândia.
Mas não foi nestes palcos que Jack Broadbent ficou conhecido. As suas canções e a forma única e cativante como toca guitarra tornaram-se virais na internet, pelas mãos de um fã que publicou um vídeo de uma actuação sua numa rua em Amesterdão. Foi a tocar na rua que Jack Broadbent começou o sonho da música e foi assim, através de um vídeo no Youtube, que o músico inglês chamou a atenção para o seu talento.
Na brincadeira, costuma dizer: “Sou um bom exemplo dos tempos modernos, porque sem a Internet nada disto teria sido possível. Mas aquilo que mais me agrada é que aconteceu tudo de forma natural, sem ser forçado. Foi a minha música que tocou alguém que depois resolveu partilhá-la, eu não tive que fazer nada senão tocar”.
Jack Broadbent foi o primeiro artista do Caldas Nice Jazz a actuar no CCC. Já subiram ao mesmo palco Hailey Tuck, Club des Belugas (com Brenda Boykin) e Patrícia Lopes. Hoje o jazz continua com Jacqui Naylor e Art Khu, e amanhã com Sarah McKenzie, ambos os concertos às 21h30. No domingo, dia 5 de Novembro, actuam os portugueses Afonso Pais e Rita Maria, a partir das 17h00. O custo dos bilhetes para estes espectáculos varia entre os 12,50 e os 22,50 euros.

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