José Aurélio abre ciclo de exposições no Museu Leopoldo de Almeida

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José Aurélio foi o artista escGazeta das Caldasolhido para abrir o ciclo de exposições no Museu Leopoldo de Almeida, no Centro de Artes. Aberto há um ano, aquele espaço passará agora a contar com  exposições periódicas de outros artistas. A primeira mostra, designada “O homem pensa porque tem mãos”, reuniu muitos amigos e familiares do escultor alcobacense no dia 18 de Maio, assinalando também o dia Internacional dos Museus.

 

O escultor alcobacense foi aluno de Leopoldo de Almeida e antes da abertura do museu homónimo, deu uma ajuda à restauradora Arlinda Ribeiro na recuperação de alguns modelos daquele que foi seu mestre de Desenho nas Belas Artes de Lisboa. Fê-lo de forma altruísta.
O convite para expor nas Caldas já vem de longe, tal como ficou expresso na intervenção da inauguração quando o artista afirmou à vereadora da Cultura que finalmente se concretizou o convite que lhe tinha sido feito há vários anos.
José Aurélio nasceu em Alcobaça em 1938 mas ao longo da sua vida foi deixando marcas em todo o país e no Oeste. A partir do final dos anos anos 50 e até meados dos anos 60 trabalhou na Secla e entre 1969 e 1974 concebeu, construiu e orientou a Galeria Ogiva em Óbidos onde divulgou os maiores nomes da arte contemporânea. De regresso às Caldas, em 1986, o escultor marcou presença no primeiro Simpósio Internacional de Escultura em Pedra (Simppetra) onde realizou a primeira obra de arte pública para o concelho caldense.

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Em modo menor

O curador convidado da exposição, Nuno Faria, que além de docente na ESAD é director artístico do Centro Internacional das Artes José de Guimarães, explicou que esta é uma mostra “em modo menor pois procura a origem do trabalho de José Aurélio e que propõe um olhar renovado sobre a obra”. À Gazeta acrescentou que a exposição – que é acompanhada por um catálogo contando com design do caldense Pedro Falcão – não procura a monumentalidade, que também é uma característica do trabalho do escultor natural de Alcobaça, mas sim as suas pequenas peças, as suas maquetas e inclusivamente pedaços de coisas que o artista vai recolhendo no seu atelier. Ao todo, são 54 peças – que datam entre 1958 a 2018 – e que foram escolhidas pelo curador e pelo director do Centro de Artes, José Antunes.
No entanto, Nuno Faria assegurou que não se trata de uma mostra antológica nem retrospectiva do trabalho de José Aurélio. Tem como objectivo “dar a ver o trabalho de um artista, numa terra de jovens autores”, afirmou achando que Aurélio é um autor que ao longo dos anos “soube manter a juventude e a curiosidade ao longo da sua vida artística”, rematou.

“Ver-me nas peças, 60 anos depois”

Feita uma visita guiada onde o artista explicou cada uma das suas obras aos presentes, José Aurélio disse à Gazeta que achou graça olhar para estas peças, algumas 60 anos depois, e ainda “ver-me nelas. O mais interessante é que me reconheço”, disse o escultor enquanto corresponde ao pedido de se fotografar junto a uma das peças de cerâmica que fez na Secla. “Naquele tempo a fábrica trabalhava para vários países mas sobretudo para a EUA”, recordando que passou por aquele unidade fabril na década de 50 e 60. Deu a conhecer que era chamado às reuniões que tinham lugar com o administrador Pinto Ribeiro e com os clientes estrangeiros, para mostrar os seus desenhos só que na maioria das vezes “eles já não queriam ver nada. Os clientes traziam o desenho que queriam nas peças e também ditavam o preço…”, lembrou.

Design na era da pedra lascada

José Aurélio tem a sensação de que foi para a Secla numa altura em que “a vida não era fácil”. Explicou que já tinha decidido que iria seguir escultura de qualquer forma, mas quis experimentar o design que já havia na fábrica das Caldas e que em Portugal “ainda se vivia na altura da pedra lascada”. A estadia na fábrica caldense ensinou-lhe que o seu caminho não estava na cerâmica e desde então deixou de criar naquele material.
Estar no Museu de Leopoldo de Almeida é algo que lhe dá muito gozo dado que, enquanto aluno, acabou por se tornar seu colaborador e amigo, apesar de Leopoldo de Almeida ter mantido uma certa distância, algo que era coerente com ele. “De qualquer modo nunca tive conflitos com ele”, disse o artista que, no início da sua carreira, foi colaborador de vários escultores. Aurélio relembrou nomes da escultura que gosta como Martins Correia, Lagoa Henriques (que era melhor pedagogo do que escultor), João Fragoso e Jorge Vieira, que para o alcobacense é o melhor escultor do panorama nacional. Sobre a mostra, Aurélio está satisfeito porque, de qualquer modo, esta é uma exposição “que eu nunca faria”. Até porque o escultor diz que “demorei vários anos a compreender o meu próprio percurso artístico”, rematou.

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