José Santa-Bárbara é o capista de Zeca Afonso

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O autor das capas e designer sente-se “caldense” pois a nossa terra é onde se tem amigos e se aprendeu a andar de bicicleta

Santa-Bárbara fez nove capas para Zeca Afonso e o material gráfico está patente no CCC. Exposição seguirá para a ESAD.CR e dará origem a um livro

“Estou contente por estar aqui na minha terra, nasci em Lisboa por acidente e a nossa terra é onde se tem amigos, se aprende a andar de bicicleta e a jogar ao pião!”, disse José Santa-Bárbara, a 6 de abril no CCC, na abertura da exposição “Nove capas para Zeca” que tem curadoria de Abel Rosa e design de João Morais.
Para o artista a época que viveu com ligação a Zeca Afonso “foi uma época muito feliz e da qual que tenho saudades”. Contou que pedia ao cantor para lhe dizer se tinha alguma ideia para as capas dos seus álbuns e que este respondia-lhe: “tu é que sabes, lê os poemas…”. Acha ainda que a mostra tem interesse para os artistas gráficos de hoje para que estes vejam que antigamente “tínhamos que fazer tudo à mão”, contou Santa-Bárbara, que juntou uma série de materiais gráficos e fichas técnicas a complementar o trabalho das capas dos álbuns.
“Fico muito contente por estar entre vós”, disse o artista que passou parte da infância e juventude nas Caldas e também da vida adulta, pois lecionou não só no Colégio Ramalho Ortigão como também na Escola Comercial e Industrial, além de ter feito parte do Estúdio Secla. O artista fez questão de sublinhar a presença de alguns antigos alunos na inauguração da mostra.
Foi num artigo do Jornal Musicalíssimo que o jornalista Fernando Assis Pacheco designou José de Santa Bárbara como “o capista de Zeca” em 1972, nome que foi agora dado como título a esta exposição.
A mostra tem como curador Abel Rosa, que afirmou que esta testemunha uma ruptura artística importante pois na obra do Zeca, e a partir da intervenção de Santa-Bárbara, a capa passou a fazer parte da mensagem política e social. “Quem diria que o menino que ia à olaria do senhor Milá nas Caldas viria ser artista e fazer capas de álbuns!”, disse o curador, acrescentando que a mostra também integra esboços de fichas técnicas, faturas, estudos das próprias capas e as fotografias originais de Patrick Ullmann, usadas para os álbuns.
José Santa-Bárbara é o autor das capas dos álbuns Cantares do Andarilho (1968), Contos Velhos Rumos Novos (1969), Traz outro amigo também (1970), Cantigas de Maio (1971), Eu vou ser como a toupeira (1972), Venham mais Cinco (1973) Enquanto há Força (1977), Fados de Coimbra e outras canções (1981) e Como se fora seu filho (1983). Estas estão todas presentes na galeria de exposições do CCC, assim como também marcam presença as edições internacionais destes discos de Zeca que usaram o desenho do interior de alguns para a capa exterior.
Estão patentes edições de discos feitas nos PALOP e também em Espanha. Nas vitrines da mostra estão também algumas capas de outros artistas, desenhadas por Santa- Bárbara para autores como Travadinha, Daniel Filipe ou Paulo de Carvalho.
Abel Rosa recordou que, em relação ao álbum “Eu vou ser como a toupeira” (1972), Santa-Bárbara colocou uma imagem do animal, retirada de dicionário ilustrado, onde se pode ler que toupeira “é uma pessoa que trabalha para subverter as instituições”. E foi reproduzida na capa do álbum, tendo assim uma frase destas conseguido escapar à censura daquela época em que ainda estava presente o Estado Novo.
A vereadora da Cultura, Conceição Henriques, sublinhou o facto desta iniciativa de homenagem a Zeca Afonso mostrar que as Caldas tem “uma sociedade civil ativa e devemos, por isso, acarinhar este tipo de ações”. Também o diretor do CCC, Mário Branquinho, deixou nota que esta nova fase do CCC pretende “continuar a atrair vários públicos a este equipamento”. Depois do CCC, a exposição seguirá para ser apresentada na ESAD.CR. “Também gostaríamos que esta fosse vista pelas escolas secundárias, sobretudo pelas turmas ligadas às artes”, disse Élia Mendonça, do núcleo caldense da AJA.
A sessão, que contou com elementos do núcleo de Santarém da AJA foi animada com música pelo cantor Zé Guia e o Copo de Três.
A próxima iniciativa decorrerá a 27 de maio no CCC e terá como convidado o musicólogo Rui Vieira Nery.
“Nove capas para o Zeca – José Santa-Bárbara “Capista do Zeca”que vai estar patente até ao dia 28 de abril no CCC e, segundo o curador, vai dar origem a um livro que será lançado até ao final do ano. ■