Junho das Artes em Óbidos para criar algum alvoroço “numa vila super tranquila”.

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Artistas contemporâneos e criadores emergentes conceberam trabalhos para as ruas, praças e miradouros de Óbidos, com o intuito de incitar um diálogo entre as obras de arte e os visitantes. O Junho das Artes arrancou no passado dia 5 e estende-se até ao final do mês, com muita arte, música e conversas entre e com os autores.

“Entre muros” dá tema à quarta edição do Junho das Artes, com os artistas convidados para pensarem “o dentro da muralha” e a redescoberta que os visitantes podem fazer desta fortificação.
Participam no evento 11 artistas convidados que expõem os seus trabalhos desde a Porta da Vila, ao Centro de Design de Interiores, passando pelo Oratório da Senhora da Graça, Praça de Santa Maria, auditório de S. Tiago. Miradouro do Jogo da Bola e diversas ruas. Este ano foram também abertos, pela primeira vez, os Armazéns da EPAC, para acolher diversas instalações, conversas com jovens criadores e um concerto com os Monte Lunai.
De acordo com a comissária convidada, Filipa Oliveira, a maior parte dos trabalhos foram criados e produzidos especificamente para este evento. Outras eram obras que já existiam, mas que a responsável achou que fazia sentido constarem da exposição, como é o caso da “Casa Meridional”, de Ângela Ferreira, que nunca tinha sido vista em Portugal, mas que representou o país na última bienal de Veneza.
Também a exposição de Fernanda Fragateiro é um “momento muito importante”, destaca Filipa Oliveira, que já trabalhou com a artista plástica. Na mostra, patente na galeria novaOgiva é possível apreciar sete dos projectos que Fernanda Fragateiro fez ao nível da intervenção publica, não só com a sua documentação, como também com a recriação dos mesmos.
Esta é a primeira vez que é apresentado publicamente o trabalho de Fernanda Fragateiro que embora tenha alguns projectos bastante conhecidos, como o Jardim das Ondas, na Expo, a sua obra é desconhecida do público. “Para nós fazia sentido mantê-los mais tempo porque é uma exposição muito importante na carreira dela”, justifica Filipa Oliveira sobre a mostra que estará patente até meados de Outubro.
Este ano participam também no Junho das Artes 18 project rooms, seleccionados entre mais de 80 candidaturas. “Acho que alguns jovens criadores responderam tão bem ao que tínhamos pedido que resolvemos trazê-los para fora dos armazéns da EPAC e da galeria da Casa do Pelourinho, distribuindo-os também pela vila”, contou a comissária.
Considera que conseguiram criar uma relação muito forte com a própria vila e com a sua matriz e fazer as pessoas redescobrirem-na como algo contemporâneo e que provoca “não só os visitantes como os próprios moradores, que questionam porque é que isto é arte e o que está a fazer na vila”. O objectivo, sintetiza, é uma maneira positiva de destabilizar e criar algum alvoroço “numa vila que parece “super tranquila”.
Para a comissária convidada desta edição foi também uma maneira de “redescobrir a vila e re-olhar para uma coisa que sempre vi como muito pitoresca, muito turística”.
No decorrer do evento será possível aos visitantes interagir com alguns dos artistas, trocando ideias sobre arte contemporânea. Já no próximo dia 12, pelas 18 horas, decorrerá na galleria novaOgiva, uma conversa entre Delfim Sardo, Filipa Oliveira e Inês Lobo. No dia 19 estarão em tertúlia Fernanda Fragateiro, Filipa Oliveira e João Maria Trindade. Por último, no dia 26 de Junho, os artistas do project rooms estarão reunidos nos Armazéns da EPAC.
Os espaços fechados que integram a Junho das Artes funcionam de domingo a quinta-feira entre as 10 e as 13h00 e as 14 e as 18h00, e à sexta-feira, sábado e vésperas de feriado, entre as 10 e as 13h00 e as14 e as 23h00.

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Anúncios de jornais regionais dão mote a intervenção artística

“Procura-se” dá título à instalação de Sara Fernandes, de 25 anos, actualmente a residir em Londres (Inglaterra) e que participou este ano pela primeira vez no Junho das Artes. Uma vez que estava longe quando soube da candidatura “brincou” com a ideia que tinha da vila, “de um sitio maioritariamente turístico” e com a sua curiosidade em saber que interacções e comunicações reais aconteceriam entre os residentes da vila e as suas vivências.
“Queria ampliar esse tipo de intercomunicação interna e pô-la dentro dos muros, que é a zona turística”, disse a artista plástica que utilizou anúncios da internet e de jornais, entre eles da Gazeta das Caldas, para o seu trabalho.
O resultado pretendido era fazer “uma coisa menos bonita para contrastar com as paredes caiadas e com azulejos de Óbidos”, conta a jovem artista que faz exposições tanto em Portugal como em Inglaterra.

Um jornal de Óbidos

“Não fazer coisas boring sobretudo no verão” enche a primeira página do Jornal de Óbidos, criado por Hugo Canoilas para a quarta edição do Junho das Artes.
Trata-se, de acordo com o artista plástico, de 33 anos, do melhor veículo para uma intervenção urbana e aspira ser “uma escultura social”. Para a sua realização contou com a participação de artistas plásticos, escritores, pedagogos, agricultores e médicos. “É uma forma de intervenção que poderá estar ligada ao que poderá vir a ser o futuro de uma certa forma de estar na arte, porque em principio a ideia vai prevalecer como veiculo, não se terá a despesa que se tem com a arte”, refere.
O artista, que se formou na ESAD em 2000 sabia que Óbidos não tinha nenhum jornal, e gostaria que este tivesse continuidade. Considera que há um trabalho que tem que ser feito por todas as pessoas do campo das artes, pois “os intelectuais estão divorciados do grande público e nós temos que criar público, temos que criar ferramentas para criar um confronto directo com as pessoas”, afirma.
Na opinião de Hugo Canoilas Óbidos está a tentar “resgatar“ um passado que teve e que foi importante no campo das artes. “Enquanto estudei na ESAD estive privado da galeria novaOgiva, que é um dos espaços mais bonitos para a arte contemporânea que há em Portugal”, diz, referindo-se ao edifício que até há alguns anos albergava a Casa do Povo e outros serviços  públicos. “Tínhamos imagens do que tinham sido as intervenções de grandes artistas e agora está-se a retomar outra vez, mas não pode ser uma coisa que acontece uma vez, tem que se criar público”, defendeu à Gazeta das Caldas.

 

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