O casal de designers, Rute Rosa e Sérgio Vieira, de 38 anos, são os mentores da empresa Laboratório d”Estórias. Ambos formaram-se na ESAD em 2000, ela em Design de Cerâmica e ele em Design Industrial, e dedicam-se a criar peças em cerâmica sobre iconografias nacionais, sem esquecer as técnicas caldenses. As suas propostas dão também muita atenção aos textos e às ilustrações que acompanham as obras que actualmente se vendem em lojas de norte a sul do país e que até já começam a ser exportadas. A última peça que criaram é uma varina contemporânea, que é também um bule e que pode ser apreciada no Museu de Lisboa–Palácio Pimenta (Campo Grande).
Tudo começou na altura dos Santos Populares de 2013 com a criação de um manjerico. O casal criou todo o conceito e a peça foi modelada por Viriato Graça que foi, durante vários anos, modelador da Secla. E assim nascia a primeira parceria dos designers com técnicos especializados ligados às unidades industriais caldenses.
Medusa e o Manjerico é como se designa a primeira peça, um verdadeiro sucesso que se mantém em produção e venda. Seguiu-se a Alfacinha dos Caracóis, a partir de uma folha de alface e que se destina a levar aqueles e outros petiscos à mesa. Esta última foi modelada por Fernando Silva (também chefe de modelação da Secla) e a sua produção foi entregue à empresa Olifaire, que labora na estrada da Tornada. Seguiram-se outras peças, sempre ligadas à cultura portuguesa e prontas a narrar uma história: o ouriço, uma taça destinada a comer castanhas que se designa Martinho e as Estrelas, e ainda o Corvo Malandro, ligado também à iconografia lisboeta. Há também castiçais que se intitulam Pilhas de Luz e lembram os “montes” de fruta e frutos secos que encontramos na Praça da Fruta.
Cedo surgiu a ideia de fazer uma varina dos nossos dias até porque já se previa para 2015 uma grande exposição ligada ao tema.
A mostra sobre este ícone está patente no Museu de Lisboa–Palácio Pimenta (Campo Grande) e poderá ser apreciada até ao próximo mês de Maio. Desta mostra fazem parte outras varinas feitas na Secla, na Bordallo Pinheiro, na Vista Alegre e na Fábrica de Sacavém.
As varinas eram vaidosas e elegantes
Da pesquisa do Laboratório d’Estórias feita sobre a história destas mulheres foi possível saber que “eram vaidosas, elegantes e que até produziam a sua própria roupa”, contou o casal, acrescentando que a varina chegou a ser considerada um grande símbolo de Portugal.
E como eram personagens ligadas à moda, os designers resolveram convidar os Storytailors para “vestir” a peça que, que é também um bule. Em produção estão agora várias peças na Fábrica Molde “pois procurámos uma fábrica que nos garantisse a produção com qualidade”, dizem.
As varinas chamam-se Georgina, Ana, Madalena, Hermínia e Maria da Conceição e cada uma tem a sua personalidade e cor associada. A Georgina, por exemplo, traja de negro e alude a Catarina de Bragança, a rainha portuguesa que levou o hábito do chá para Inglaterra. Ana, por seu lado, representa o sol da capital e por isso traja de amarelo. A série é limitada e serão feitas 250 peças de cada uma das cinco varinas.
“No fundo nós cruzamos elementos da cultura popular com a cultura erudita”, contam Rute Rosa e Sérgio Vieira, explicando que é por isso que esta série se designa “A Varina e o chá das cinco”, aludindo às cinco personagens, amigas de infância e que tinham esta profissão, mais tarde considerada ícone do próprio país e da cidade de Lisboa.
Tal como nas restantes peças, o destaque não vai apenas para a cerâmica. Também o texto, a ilustração e a junção de outros materiais, como o metal ou a madeira, fazem parte das restantes propostas deste Laboratório que não descura o mínimo detalhe.
A designer ainda estudava na ESAD e já trabalhava na Secla, e conta que a sua paixão pela cerâmica já se constata desde que frequentava o ensino secundário.
Em qualquer caixa de uma peça do Laboratório d’Estórias indica-se cada uma das pessoas que fez parte do processo criativo e produtivo da peça, informação que também é disponibilizada no site da empresa.
Um projecto caldense
O Laboratório d’Estórias é um projecto caldense já que as peças surgem devido “a um conjunto de técnicas específicas de trabalhar o barro e que se mantiveram e evoluíram até hoje”.
Neste momento a Laboratório de Estórias vende para lojas de todo o território continental e ilhas) e já começou a exportar para outros países como Espanha, Inglaterra, Holanda. Os designers contam que as suas peças são adquiridas tanto por turistas como pelo público português.
E o que se segue? “A implementação da própria marca sobretudo a nível externo”, disse o casal de designers que vai continuar a dedicar-se a pequenas séries de peças, apostando sempre na qualidade e no aliar de artes. Pretendem também dar-se a conhecer na área da restauração e da hotelaria.