Artista que vive nas Caldas terá peças em três exposições do evento dedicado à joalharia contemporânea em Lisboa
Luís Torres é um dos joalheiros que foi convidado a participar na 2ª Bienal de Joalharia Contemporânea.
É um dos artistas que vai ter peças em três exposições deste evento que abre ao público na próxima quarta-feira, 17 de abril.
Segundo o autor, a joalharia contemporânea está entre os dois mundos: da joalharia e das artes plásticas. Faz as suas peças de forma artesanal mas não está interessado em produzir peças em série ou de forma massiva. Interessa-lhe sim o conceito e só depois é que se preocupa com o tipo de material que quer usar.
“Todos os materiais são válidos dos nobres aos mais simples, como a borracha ou o fio de nylon”, referiu o autor que trabalhou em design editorial durante vários anos. Luís Torres acrescenta ainda que trabalha muito sobre as memórias e ainda que tem sempre como ponto de partida “o corpo humano”.
O joalheiro chegou a criar acessórios para moda, tendo feito vários trabalhos em Portugal e no estrangeiro, para o criador de moda, Dino Alves.
Na segunda Bienal, o autor vai ter uma peça na exposição “Joias para a Democracia” que tem curadoria de Marta Costa Reis e que vai estar patente no Museu do Tesouro Real e que vai distinguir o percurso de várias mulheres.
Uma medalha e uma tiara para a bienal
Luís Torres participará com uma obra que dedica a Cesina Bermudes, pioneira do parto sem dor.
“Ela ajudou a minha mãe para me ter”, disse o artista que criou uma peça medalha onde presta homenagem a esta mulher que viveu no período da ditadura. “Ela usava uma grande trança postiça”, revelou o autor que criou então um colar-medalha com uma trança enrolada que é fechada com um gancho em prata.
Também no Museu do Tesouro Real vai estar uma segunda mostra, dedicada à Tiara Contemporânea e que tem curadoria de Catarina Silva. Luís Torres estará presente com uma tiara feita em cobre.
Apesar de ser um símbolo de estatuto, poder e riqueza, a tiara é uma peça de joalharia que foi quase esquecida no século XXI. Esta obra de Luís Torres já esteve numa exposição que assinalou os 40 anos do departamento de joalharia do Arco, pois foi um dos antigos alunos convidado a expôr. A nova mostra ficará patente até 30 de junho. Luís Torres ainda terá uma terceira peça no MUDE- Fora de Portas sobre o tema “Madrugada”. A exposição terá diferentes seções temáticas e vai permitir conexões, inspiradas nas obras e nos diálogos que se estabelecem entre as diferentes propostas, bem como pela dimensão política expressa pelos artistas.
Luís Torres irá participar com “Mein Kampf”, colares feitos a partir de tripa de porco e que contêm o triângulo cor de rosa, o símbolo que era usado pelos homossexuais nos campos de concentração nazis. Esta será a mostra internacional da Bienal e que vai estar patente até 22 de setembro.
Luís Torres já tinha participado e produzido a 1.ª Bienal de Joalharia Contemporânea de Lisboa em 2021, numa altura em que fez parte da direção da Associação Portuguesa de Joalharia Contemporânea.
Nesta bienal houve a exposição antológica do trabalho de joalharia do escultor José Aurélio.
O joalheiro, interessado em trabalhar em alguns projetos conceptuais de joalharia por ano, mudou-se para as Caldas por razões pessoais e não troca a qualidade de vida da cidade média pela azáfama das grandes cidades. ■
Luís Torres
Artista joalheiro
É de Lisboa, tem 45 anos e frequentou a Escola António Arroio, a Faculdade de Arquitetura de Lisboa. Terminou o curso de joalharia no Ar.co e fez Mestrado de Joalharia da London Metropolitan University em Londres. Fez workshops nacionais e internacionais e participa em exposições em Portugal e no estrangeiro de Joalharia Contemporânea. Produziu a I Bienal de Joalharia de Lisboa. Atualmente trabalha no Centro de Artes caldense.