Durante quatro dias, a companhia residente das Caldas da Rainha apresentou uma peça do século XVI ao ar livre. Iniciativa decorre há cinco anos
O teatro regressou ao Largo da Copa e foi na entrada da antiga Casa da Cultura que foi representada a peça “Mandrágora”, pelo Teatro da Rainha. A fachada do antigo casino foi completamente transformada e recordou um pouco como era Florença do século XVI. E isto porque a peça representada é desse tempo e da autoria de Nicolau Maquiavel, mais conhecido por ter escrito o ensaio de filosofia política, “O Príncipe”.
Esta produção ao ar livre contou ainda com uma plateia de 250 lugares que foi colocada no Largo do Hospital Termal, voltada para Casa da Cultura. Só que os assentos não foram suficientes para todos os que quiseram assistir a esta comédia e alguns tiveram de se sentar nas escadas da plateia, enquanto outros assistiram em pé.
Um jovem completamente perdido de amores pela mais bela rapariga de Florença teve de enfrentar o velho notário, o Dr. Nícia, com quem a rapariga era casada. Mas com ardil e engenho, Calímaco acabou colocado no leito da honrada, casada, honesta e incorruptível Lucrécia, pois à conta de uma inesperada combinação de interesses – que envolveram o frei e mãe de Lucrécia – garantiu-se um final “proveitoso” para várias personagens. A divertida intriga, com diálogos vivos e humorísticos conquistaram os caldenses que, ao longo dos quatro dias, encheram por completo a plateia. As opiniões foram unânimes: “que bons momentos de teatro”, “excelentes interpretações”, comentários muito positivos “misturados” com palmas que duraram vários minutos e que “forçaram” o regresso ao palco do grupo de atores desta produção da companhia de teatro das Caldas que há cinco anos e, em parceria com a autarquia, traz o teatro para o espaço público.
José Carlos Faria, um dos responsáveis pelo Teatro da Rainha, estava satisfeito com esta produção de ar livre que, durante os quatro dias, contou com cerca de 300 pessoas na assistência. Na sexta-feira, 15 de julho, ainda eram 21h00 e a plateia já estava quase toda preenchida, com gente nas escadas e nas laterais. A noite esteve amena, mas não tão agradável como nos dias anteriores, 13 e 14 de julho e, por isso, parte dos elementos do público não dispensaram o agasalho, tão típico dos serões oestinos.
O palco foi montado mesmo em frente da Casa da Cultura e houve um grande cuidado com tudo o que diz respeito à iluminação e ao som. Foi montado um sistema que permitiu uma correta e interessante audição ao longo da representação.
Curioso foi também o facto de, na própria trama, fazer parte uma ida para as termas. As principais personagens iriam decidir entre as termas de “San Filippo, Porretta e Villa”.
“É muito reconfortante os comentários tão positivos”, disse o caldense José Carlos Faria, que representa o Dr. Nícia, uma das personagens principais desta trama. “É um grande consolo o espetáculo ter estado esgotado todas as noites e verificar como as pessoas reagiam, de forma semelhante, reagindo às cenas cómicas e também nos aplausos finais”, salienta o também cenógrafo, que pretende que, para a próxima iniciativa ao ar livre, “seja possível mais um dia de representação”.
José Carlos Faria referiu ainda que há a possibilidade de adaptar esta peça a espaços interiores e deixou ainda um profundo lamento pelo facto da Casa da Cultura estar degradada, pois foi a sede do grupo de teatro no início do percurso.
“Mandrágora”, encenado por Mora Ramos, contou com Cibele Maçãs (Lucrécia), Fábio Costa (Calímaco), Fernando Mora Ramos (Maquiavel), Isabel Lopes (Sóstrata), João Melo (Ligúrio), José Carlos Faria (Dr. Nícia), Nuno Machado (Frei Timóteo), Ricardo Soares (Siro, o criado), acompanhados pelo músico Tiago da Neta e um coro de atores. A cenografia foi de José Serrão, os figurinos de José Carlos Faria, iluminação de António Anunciação e som de Francisco Leal. ■