“Estou-me agora a lembrar da figura originalíssima de José Malhoa, […] com a sua grande gravata e o inconfundível chapéu escuro às três pancadas, que marcou entre os chapéus exóticos que davam nas vistas aos lisboetas do Chiado. Foi operoso pintor; legou à Nação obra fecunda, enraizada a sua pintura na sã escola paisagística de Silva Porto e cantou a terra portuguesa, nórmente a estremenha, como prodigioso mago da cor.
Linha, cor e luz harmonizam-se em amplexos de fulgurante sinfonia nos óleos de Malhoa, posta em relevo a beleza da paizagem, que sabia contemplar estáticamente. O crepúsculo, o por do sol, os dias de chuva, o nascer da lua cheia e o encanto das manhãs – quer de verão, quer de inverno – tudo isso no deu o artista em dezenas de telas. Mas, além de grande paisagista, que o foi incontestavelmente, Malhoa pintou figuras, com ela animando a paisagem e construindo cenas e episódios da labuta humana. A sesta, a romaria, o barbeiro da aldeia, a chegada do Zé-Pereira, a desgarrada, o azeite novo, a ceifa, a vindima, são algumas facetas da vida simples que fez Malhoa embeber os pincéis num mar de tintas. O sentimento religioso do povo não é estranho à obra do artista e lá vemos a missa, a promessa, a extra-unção, a procissão, o toque das trindades…
Foi retratista também – e ainda há pouco tempo me foi dado rever os retratos da família Relvas, nos Patudos – e realizou ainda composições históricas de grande folego e responsabilidade como «Último interrigatório do Marques de Pombal», que se exibe no Museu Provincial das Caldas da Rainha, devotamente dirigido por António Montês […].
Mas Malhoa foi, sobretudo, o primeiro pintor do povo português, nas horas alegres, nas festas de aldeia e nos momentos preocupantes do labutar diário e das fainas agrícolas.”
Hoje dedicamos a nossa crónica ao pintor José Malhoa, caldense de nascimento (1855-1933), utilizando as palavras de Faria de Castro, transcritas do Boletim da Junta da Província da Estremadura de 1946, lembrando que numa visita ao Museu José Malhoa, podemos ficar a conhecer grande parte da sua obra.