Há 30 anos foi assinalado o centenário da chegada do comboio às Caldas. O investigador Mário Tavares escreveu um texto na altura que foi agora reeditado e apresentado, a 28 de Julho, no Museu do Ciclismo. O problema , segundo o autor é que, apesar das garantias do governo que deveriam conduzir à modernização da Linha do Oeste, “esta está na mesma (se não pior) e as promessas, também continuam”. Por isso espera-se “que a memória não feneça e o comboio – já modernizado – possa, um dia tornar a chegar às Caldas”.
Em 1856 foi inaugurado o primeiro troço de 36 quilómetros de caminho-de-ferro entre Lisboa e o Carregado. “Durante três décadas, o país fez o mais extraordinário esforço de que há memória na construção da ferrovia”, disse o investigador João Serra – convidado que apresentou o livro de Mário Tavares – explicando que foram feitos 2153 quilómetros de linhas de caminho-de-ferro (60% da totalidade da rede construída em 100 anos). A ferrovia teve um grande efeito na vida económica do país. Segundo o historiador aquele transporte permitiu o desenvolvimento das áreas da siderurgia, as indústrias subsidiárias da construção civil, a agricultura e o comércio. Melhorou a mobilidade de bens e pessoas e da circulação das ideias. João Serra ainda referiu, citando Eça de Queirós, que “as próprias ideias chegavam de comboio, vindas de Paris”.
Na segunda metade do séc. XIX emergiu a necessidade de uma ligação rápida com a capital para facilitar o escoamento dos produtos. “Era fundamental chegar a Lisboa”, disse o historiador.
Os produtores queriam colocar o vinho rapidamente em Lisboa para daí seguir para os mercados internacionais, sobretudo africanos. É também da capital que vêm os necessários adubos e os enxofres. E é também o caminho-de-ferro que vai permitir que o lisboeta Abel Pereira da Fonseca compre no Bombarral as quintas das Cerejeiras, de S. Francisco e do Sanguinhal, desenvolvendo a produção de vinho.
O projecto da linha Oeste foi alvo de acesa disputa na Câmara Parlamentar. O país na altura optou por fazer uma linha para Badajoz, de onde sairia, no Entroncamento, um ramal para o Porto. O objectivo era chegar a Espanha.
Por isso, aquela que mais tarde seria a coluna vertebral da rede ferroviária portuguesa – a linha do Norte – foi construída pelo interior do país.
Caldas da Rainha, Torres Vedras, Peniche, Alcobaça e Leiria tentaram contrariar o governo e “puxar” o traçado da linha mais para o litoral, mas em vão.
Daí que começasse a emergir a necessidade de uma linha paralela à Lisboa – Porto, que ficasse mais a oeste: a linha do Oeste, cujas primeiras notícias começam a aparecer em 1880.
Em 1 de Agosto de 1887 o Diário de Notícias publicava uma extensa reportagem, intitulada “Linha de Torres Vedras às Caldas da Rainha e a Leiria” que dizia: “Mais uma centena de quilómetros de via férrea se abre hoje no nosso país à exploração do público, mais uma larga zona das mais alegres, das mais pitorescas terras, vai ser servida por este poderoso agente do progresso humano”.
À espera da melhoria da linha
Há 30 anos, e para assinalar o centenário da chegada do comboio às Caldas, Mário Tavares escreveu um texto e organizou uma exposição sobre o tema. Na altura foram feitos mil exemplares do livro que foi impresso nas oficinas gráficas da CP (hoje inexistentes). É esta a obra que agora se reedita quando passam 130 anos que o comboio apitou pela primeira vez na cidade.
O autor recordou que, apesar das garantias do governo que deveriam conduzir à modernização da Linha do Oeste, “esta está na mesma e as promessas, também continuam”. Por isso, esta reedição pretende “que a memória não feneça e o comboio – já modernizado – possa, um dia tornar a chegar”.
O presidente da Câmara, Tinta Ferreira, disse que estava cansado das promessas adiadas sobre a modernização da linha e que só acredita quando as coisas se concretizarem, referindo-se à adjudicação do projecto de electrificação da linha de Meleças às Caldas da Rainha anunciado pelas Infraestruturas de Portugal para o último trimestre de 2017.