Autora lança livro sobre a sua localidade no próximo domingo, dia 11 de fevereiro
Nascida e criada em Tornada, Mena Santos, de 71 anos, decidiu escrever um livro sobre os modos de vida de antigamente na sua localidade.
A obra vai ser lançada no próximo dia 11, pelas 16h00, nas instalações do Grupo Desportivo e Recreativo de Tornada.
Como eram as idas à praia antigamente? Esta é uma das memórias que Mena Santos conta, referindo-se ao tempo em que não havia fatos de banho e que era preciso costurar peças para levar para a praia.
“Lembro-me de irmos para as dunas de Salir de carroça e lá chegados cozermos batatas com bacalhau para o almoço!”, disse a autora referindo-se aos finais dos anos 50 do século passado. Era também pela altura dos santos que os jovens “iam apanhar rosmaninho para os pinhais de Salir”, acrescentou.
Parte das memórias recolhidas basearam-se nos testemunhos de pais e tios e outros tornadenses e permitem a Mena Santos descrever práticas antigas relacionadas com o cultivo e com as festas e romarias da sua terra.
“Não é uma história aprofundada, mas reproduz memórias e conta eventos mais recentes que tiveram lugar na localidade como peças de teatro do grupo local Andarot”, disse Mena Santos, que aliás também integra o grupo.
A lenda da Rainha D. Leonor, o facto de ter um porto de mar são algumas das referências que a autora conta, após pesquisas na Biblioteca das Caldas e ter pedido esclarecimentos aos historiadores Nicolau Borges e João Serra (recentemente falecido). Também aborda a ação do padre António Emílio que viveu em Tornada e foi o responsável pelo associativismo que se formou na terra. A forma como vivia a juventude tornadense, antes e pós revolução também é tema neste “Tornada e suas gentes”.
Muito do território tornadense agora “é quase todo casario” e “tem pouco terreno de amanho”. Antigamente, disse a autora, havia muitas várzeas, arneiros e vinhas”.
Mena Santos lembrou que, no início do século XX, a escola “não era obrigatória” e que desde cedo era necessário “ajudar os pais no trabalho do campo e com os animais”. E também se lembra que vinham trabalhadores das terras próximas para poder trabalhar nos terrenos agrícolas. Na obra conta como era o Paul de Tornada, que hoje é uma zona protegida, mas que pertencia a José Casimiro, nos anos 60, e era um local onde “se cultivava arroz, feijão e vinha”. Era um terreno fértil e “ainda me lembro que havia nenúfares”, acrescentou. Era também pelo Paul que passava o carreiro para a missa e para a camioneta. Isto para as pessoas do Reguengo da Parada, muito antes de terem veículos próprios.
“Junto o que eu vivenciei às memórias do que os antigos me contaram”, resumiu Mena Santos que ainda se lembra dos tempos idos em que as mulheres , infelizmente, tinham poucas oportunidades profissionais: “ou vinham ser criadas de servir para as cidades ou iam trabalhar para o campo, na sacha, na vindima ou nas sementeiras”. Refere-se também à emigração e os marítimos que embarcavam nos anos 50 e 60. “Emigraram muito para Brasil e África e, nos anos mais recentes, para países da Europa”, disse fazendo notar que a maioria já retornou à sua terra natal.
A autora, que trabalhou na área da cerâmica, é proprietária de um café situado em Tornada e espera com o livro contribuir para que a identidade da localidade não se perca.
“Hoje há muita gente que veio morar para cá e que não conhece as suas tradições”, referiu a autora de “Tornada e suas Gentes”, das edições Vieira da Silva. Mena Santos é também autora dos livros “Bailando com o Mar” e Filigranas de Palavras” (poesia) e já participou em cinco antologias. A autora, que sofreu fortemente devido ao Covid-19, sentiu agora maior urgência em colocar as suas memórias e dos seus familiares em livro. ■