Sessenta especialistas de várias nacionalidades reuniram no Museu de José Malhoa entre os dias 3 e de 7 de Julho para debater temas de Organologia, relacionados com a evolução, a história e a construção de instrumentos musicais. O museu ganhou dinamismo, não só com recitais, mas também com a realização de conferências, workshops e exposições daquela área.
Caldas da Rainha foi a cidade escolhida para a 7ª edição deste congresso, depois de Aveiro, Évora, Braga e Tavira terem recebido as primeiras edições. A 6ª edição foi tripartida entre Tomar, Constância e Abrantes.
Apesar de ser um tema muito especializado, o evento contou com 60 músicos e construtores de instrumentos vindos da Austrália, Japão, e também da Europa, América e África.
O caldense Orlando Trindade, construtor de instrumentos musicais, foi um dos convidados do sétimo encontro científico internacional para os estudos sobre o som e instrumentos musicais. Trouxe seis instrumentos para a exposição: uma harpa medieval, uma guitarra mourisca, uma lira e uma cítola medieval.
O luthier constrói estes instrumentos antigos com base em originais encontrados em escavações arqueológicas.
À Gazeta das Caldas, contou que já tinha participado nestes encontros em 2015 em Tavira. “Não estava à espera que acontecesse nas Caldas e é pena que não haja mais divulgação”, disse o construtor de instrumentos, que acha o evento muito pertinente, dado que permite a discussão entre especialistas de todo o mundo sobre questões relacionadas com a música e com os instrumentos musicais. Presente na exposição estiveram também exemplares de violino de Eusébio Instruments Maker – Luthier D’Óbidos.
Patrícia Lopes Bastos, da Animusic, é uma das responsáveis pela organização desta iniciativa e refere que o seu objectivo é também “dar a conhecer a nossa gastronomia, paisagem e património”.
Apesar do destaque deste ano estar relacionado com os instrumentos de sopro de metal, “há tendência para apresentar o que se pode fazer unindo estes instrumentos com outros”, referiu, acrescentando que a música “é uma área onde se une a arte e a ciência”.
Patrícia Bastos recordou que o organologia permite juntar as áreas da etnomusicologia, da acústica, da engenharia, da conservação e da musicologia. “Queremos que as pessoas se possam aproximar do universo do som e do instrumentos musicais”, rematou.
Neste sétimo encontro estiveram em destaque os instrumentos de sopro de metal, que inclui os trompetes, trompas, trombones e tubas. O evento teve como director um dos maiores especialistas na área, o britânico Arnold Myers. À Gazeta das Caldas este docente universitário afirmou que há muita gente a investigar e a produzir trabalhos académicos sobre esta área musical e “é preciso partilhar esses saberes”, disse.
O músico gostou do facto do encontro se realizar nas Caldas dado que os participantes foram bem recebidos, tento tido a oportunidade de visitar os seus espaços patrimoniais e museológicos. Além do mais, o Museu Malhoa também apresenta óptimas condições para as realizações musicais. “A cidade é encantadora e o tempo ameno também é muito agradável”, salientou Arnold Myers.
Preservar a tradição
Ovidiou Papana é romeno e constrói instrumentos típicos do seu país. Possui uma grande coleccção destes exemplares e está preocupado com o desaparecimento de alguns dos mais antigos como, por exemplo, as flautas tradicionais romenas. “Tenho uma importante coleccção privada de instrumentos e estou a escrever livros sobres os mesmos. Há todo um mundo que se não for preservado vai desaparecer…”, disse o investigador, que está em Portugal pela terceira vez para participar neste congresso.
Por seu lado, Mariana Miguel veio da Companhia de Música Teatral para realizar um workshop sobre música e comunidade. “Trouxe vários instrumentos que criámos e que as pessoas podem tocar, mesmo não sendo músicos”, disse a pianista, que veio munida com taças de porcelana e cristal, flores sonoras, peças de bambu, taças e campainhas tendo feito várias demonstrações no exterior do Museu Malhoa. Foi a segunda vez que a pianista e percussionista participou nesta iniciativa.
Um dos momentos altos do evento foi o concerto Crossing Vocals Frontiers conduzido por Graham Hair, maestro e compositor. Cinco cantoras irlandesas, que integram o grupo Scottish Voices, entoaram temas do compositor australiano. Este criou canções em ritmo microtonal, isto é, com o desdobramento de algumas notas musicais, algo típico das interpretações da Ásia, mas menos comuns na cultura musical ocidental.
Cantoras e compositor disseram que gostaram de conhecer as Caldas da Rainha e elogiaram as boas condições que o Museu Malhoa ofereceu para a realização de concertos. Todos se interessaram por conhecer um pouco melhor a história da cidade e questionaram a designação das Caldas da Rainha.