Após ficarmos a saber o que Eduardo Schwalbach pensa de Rafael, aceitamos o seu convite e entramos na fábrica. Acompanharemos as palavras de Eduardo, sem que antes não demos uma vista de olhos pela caricatura que Rafael dedicou ao seu amigo, apelidando-o de “bebé grande, alegre criança”.
Escreve o Jornalista: “Vê-lo trabalhar prendia-nos: – na Fábrica das Caldas da Rainha, donde saiam os portuguesíssimos exemplares da arte cerâmica, donde surgiram o imorredouro Zé Povinho e as tão notáveis figuras para o Bussaco, enfronhado num roupão de linho sarapintado de tintas, com uma boina atrevida a defender-lhe a cabeleira, afincado ao trabalho como o seu mais modesto operário; no seu gabinete de Lisboa, a juntar a juntar à criação humana de Deus a caricatura do Homem para a iluminar com o riso, que é saúde do espírito, acompanhada dos mais graciosos ou picantes comentários saídos da sua boca ao desafio com os seus dedos. Em certo período, quando fizemos, juntos, os Pontos nos ii, pude verificar a elasticidade da sua fantasia e a espontaneidade – enorme força do seu lápis! – na execução. A ideia é que, se em geral vinha pronta, algumas vezes se negava a princípio. Isto a dar-lhe, logo me pedia que desse um pulo sobre o divã. Eu explico: no preparo de certo número a chamuscarmos em vão os miolos à cata de um assunto de primeira página, disse-lhe de repente a rir e batendo com a mão na testa. «Aqui o que falta é ser chocalhado», e dei um salto aparatoso a três quartos sobre um divã que esta a meio da casa, ao mesmo tempo que gritava: «Achei! Achei!». E teve graça: realmente acudira-me A velhinha da ponte para a Rainha Vitória a propósito de certo incidente com a Inglaterra, o que deu belo resultado. Daí em diante o Rafael, a contar maior número de superstições do que D. Fuas contava de conquistas, era uma ideia a demorar-se em alvorecer e ele a gritar-me «Dê o pulo! Dê o pulo!». E eu dava-o quási sempre com a curiosa coincidência de êxito seguro.”
Foi-nos dada a possibilidade de aprendermos um novo método de trabalhar com êxito. Não imaginam os pulos que eu tenho dado ultimamente, na esperança que este fantástico processo me permita ter sucesso.