Filme e homenagens com nome nas ruas marcaram o aniversário da manifestação
“O Sino Contra o Nuclear” é o título de um novo documentário, da autoria de Raquel Hermínio, que conta a história da luta contra o nuclear em Ferrel em 1976 com imagens da época e testemunhos de quem viveu os acontecimentos. A obra foi inaugurada na noite do passado sábado, dia 16 de março, com mais de uma centena de pessoas no Jardim Infantil da localidade.
O documentário começa por explicar o surgimento do nuclear no mundo e a sua chegada a Portugal para depois entrar na história de Ferrel. Em 75 minutos apresenta um rol de testemunhos de diversos participantes na ação do dia 15 de março de 1976, mas também na luta que prosseguiu nos anos seguintes. O lançamento do filme fez parte das comemorações do 48º aniversário da manifestação, cujo programa contemplou ainda a inauguração de duas novas ruas, com nomes que prestam homenagens, cívica, a Crealmina da Silva Belo, que a 15 de março de 76 tocou o sino a rebate, e cultural, a José dos Santos Afonso, pelo papel desempenhado no rancho.
O presidente da Junta de Freguesia de Ferrel, Pedro Barata, explicou que o filme representou um investimento de 27 mil euros e que integra uma candidatura de 176 mil euros feita aos fundos do PDR2020. “Visa a promoção cultural, da nossa história e identidade”, frisou o autarca.
Agora o objetivo é levar este documentário à televisão portuguesa, mas não só. “Queremos ir até onde pudermos”, afirma, notando a atualidade do tema e a importância de afirmar e dar a conhecer cada vez mais os acontecimentos de Ferrel.
António José Correia, que esteve na manifestação e, mais tarde, foi autarca, disse que o 15 de março de 1976 “foi uma coisa plural” e salientou a importância do conhecimento. “Por mais vontade que tenhamos, o que dá legitimidade à defesa das nossas ideias é o conhecimento”, apontou. Recorda-se da população, dos tratores, burros e bicicletas e diz que ainda hoje se sente arrepiado quando lembra “a sensação de ver a força toda da população”. Não esquece também o tocar do sino a rebate. “A D. Crealmina a tocar o sino a rebate e a corda do badalo partiu-se. Ela pega no badalo e continua a bater no sino a rebate”, contou.
Já Joaquim Jorge, que foi um dos grandes mentores da manifestação, fez agora um trabalho de recolha de informação, com 317 páginas, que ofereceu à Junta para que possa ser consultado por interessados, especialmente a juventude.
Dividido em duas partes, este trabalho começa com um resumo histórico e depois recorda os 10 anos após o dia 15 de março até terem a certeza de que a central não seria construída (esta segunda parte da autoria do diretor da Gazeta das Caldas, José Luiz Almeida Silva). “A Gazeta das Caldas foi um jornal que nos ajudou muito”, afirmou Joaquim Jorge.
O diretor da Gazeta também salientou a importância da comunicação social nesta ação. “Colocou o problema às pessoas e difundiu a ideia dos perigos”, destacou.
Joaquim Jorge contou ainda como fez cartazes de cartolina e os espalhou pela vila e como foi ao baile, pedir para subir ao palco e para usar do microfone para anunciar a manifestação do dia seguinte. Depois, pediu à sua mãe para tocar o sino a rebate às 7h00. “Fomos todos, armados com enxadas e forquilhas”, lembrou. “Dirigimo-nos ao capataz, falei com ele e disse que a população estava ali para parar os trabalhos”. Já depois foi necessário garantir que as obras não eram retomadas. “Arranjámos um grupo para ir lá todos os dias”. No final, a autora deixou o seu agradecimento especial a António Eloy, ambientalista que colaborou no filme e com quem criou uma relação de amizade. ■