O pianista Daniel Bernardes vai criar a banda sonora para o filme O Ano da Morte de Ricardo Reis

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O pianista e compositor alcobacense Daniel Bernardes vai criar a banda sonora do filme O Ano da Morte de Ricardo Reis, uma adaptação do romance de Saramago, por João Botelho. Em entrevista, dada por escrito, à Gazeta das Caldas, o músico, que vive em Salir do Porto, vai também lançar um novo que será apresentado no CCC.

GAZETA DAS CALDAS: Como surgiu a oportunidade de compor a banda sonora para o filme O Ano da Morte de Ricardo Reis?
DANIEL BERNARDES: Já tinha trabalhado no filme Peregrinação naquela que foi a minha estreia em cinema, com a responsabilidade acrescida de transfigurar a música do disco Por Este Rio Acima do Fausto.
O João Botelho tinha incluído no guião os momentos musicais e o maior desafio foi mesmo encontrar o ponto de equilíbrio entre recriar a música de Fausto, de forma a que se enquadrasse num filme de época, mantendo, apesar de tudo, a essência da música original.
Neste novo filme o desafio é completamente diferente: temos mais personagens e um drama que mistura a dimensão pessoal com as circunstâncias políticas do ano de 1936, a emergência dos fascismos na Europa, com a dupla responsabilidade perante as personagens de Fernando Pessoa, num romance de Saramago. Já tive vários desafios ao longo da minha carreira, mas este é muito especial…
GC: Já iniciou o projecto? É fã de Saramago?
DB: Sou muito rotineiro nos meus hábitos de leitura e tenho por prática ler livros do mesmo autor durante um largo período de tempo.
Felizmente, durante a estadia de três anos em Paris, o meu amigo Humberto Ladeira deu-me a conhecer o Ensaio Sobre a Cegueira e foi tudo o que precisei para não largar o Saramago até voltar para Portugal! A escrita de Saramago é muito visceral, e no meu disco de estreia Nascem da Terra aludo à ligação profunda à Terra, omnipresente na obra de Saramago a quem dedico um dos temas.
Este romance é fabuloso pelo jogo entre a dimensão pessoal da personagem Ricardo Reis, que regressa a Lisboa e cria diferentes relacionamentos com os diferentes personagens e o panorama político português e internacional com os fascismos a ascenderem ao poder. A tudo isto Saramago acrescenta uma pitada de fantástico, implausível até! Fernando Pessoa é um fantasma que tem nove meses com Ricardo Reis antes do seu desaparecimento. Uma teia densa como a que se quer num grande romance.

CCC TEM CONDIÇÕES PERFEITAS PARA GRAVAÇÕES

GC: Como é o seu relacionamento com as Caldas e com o CCC?
DB: Tenho um relacionamento com o CCC iniciado em 2012, altura em que lá estrearam obras minhas no âmbito da residência artística do tubista Sérgio Carolino. Desde então, todos os meus discos foram gravados no CCC, onde temos um dos melhores pianos de concerto de Portugal e as modernas instalações são perfeitas para as gravações.
GC: Quando decorrerá o lançamento do seu novo álbum?
DB: A Liturgia dos Pássaros será lançado em breve pela Clean Feed. A tour de apresentação passará por Lisboa, Sintra e Évora. O encerramento da digressão, em Março 2020, será no nosso CCC de Caldas da Rainha.

Finalista de prémios nos EUA

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GC: Em que novos projectos se encontra a trabalhar?
DB: Há dias recebi a notificação que a minha obra Ostinato, Interlúdio e Canção VI está entre as três peças finalistas do Prémio Harvey Philips nos EUA.
A Orquestra Jazz de Matosinhos vai apresentar no dia 12 de Junho, na Casa da Música (Porto), um concerto do ciclo O Estado da Nação num programa feito exclusivamente de música portuguesa. Dirigiram-me o convite para escrever uma nova obra que se chama Fragmentos, Interlúdio e Canção IX dedicada à memória do escritor David Foster Wallace.
No dia 22 de Junho, os Drumming GP sobem ao palco do O’Culto da Ajuda num concerto intitulado Quartetos, e estrearam uma nova obra para quarteto de marimbas, que ainda não tem nome.

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