A Unesco distinguiu a 11 de Dezembro de 2015 Óbidos como Cidade Criativa da Literatura. O primeiro aniversário da data foi assinalado com um encontro com o activista luso-angolano Luaty Beirão e foi lançado o primeiro livro com edição da Óbidos Cidade Criativa da Literatura, denominado “O Castelo”, feito pelos alunos do pré-escolar e primeiro ciclo.
A programação irá continuar durante 2017, com um festival de literatura de viagens – Latitudes -, encontros com escritores e residências artísticas.
Mas a estratégia da Vila Literária está já a atrair privados e também entidades ligadas à edição, que querem fixar-se em Óbidos e ali desenvolver os seus produtos.
“Óbidos afirma-se cada vez mais como um pólo cultural”. As palavras são da vereadora Celeste Afonso, destacando que há cada vez mais editoras a procurá-los para lançamentos de livros, autores interessados em ali fazer residências literárias, parceiros que se querem fixar na vila e privados que estão a aproveitar a estratégia da Vila Literária para adaptar os seus espaços.
A “cereja no topo do bolo” foi o reconhecimento internacional da Unesco, que veio validar todo este trabalho. O primeiro ano de classificação de Óbidos como Cidade Criativa na área da Literatura foi assinalado com um encontro com o activista Luaty Beirão, que teve por tema a Liberdade de Expressão. As conversas com personalidades terão continuidade durante o próximo ano, mensalmente, e partindo da temática da liberdade.
Os temas serão trabalhados nas escolas e depois haverá um encontro, sempre ao domingo, até Abril, mês da liberdade. Já em Janeiro, Ricardo Araújo Pereira irá abordar a ligação da Liberdade ao Humor.
Em 2017 irá realizar-se o “Latitudes”, um festival de literatura de viagens. Trata-se de um sonho antigo do livreiro José Pinho, que este ano deverá ter início, provavelmente no mês de Maio. O Fólio terá continuidade também tendo como grande chapéu a temática das revoluções, e haverá um incremento de lançamentos de livros, mas sempre associados a performances e espectáculos.
O objectivo é que a Vila Literária possa ter uma dinâmica ao longo de todo o ano, explica a vereadora, acrescentando que isso irá também passar pela realização de encontros ligados à literatura, nos intervalos dos grandes eventos. A ideia é realizarem fins-de-semana prolongados sobre determinados temas, como a poesia e erotismo, ou a ilustração e banda desenhada para o público infantil.
A suscitar interesse estão também as residências literárias. O primeiro a instalar-se em Óbidos para trabalhar numa obra foi o brasileiro João Paulo Cuenca, em 2015. Este ano a jovem escritora, também brasileira, Marcela Dantés, esteve na vila, entre Agosto e Dezembro. Veio para acabar de escrever o livro que tinha em mãos, mas acabou por o re-escrever, conta a vereadora Celeste Afonso, que espera agora ter Marcela Dantés a apresentar a obra na próxima edição do Folio.
A 2 de Janeiro chega à vila o ilustrador brasileiro José Santos, para ali residir durante os meses seguintes, assistir a algumas aulas leccionadas nas escolas de Óbidos e trabalhar com as crianças. Há também vários autores portugueses que têm procurado o sossego da vila para escrever os seus livros, como é o caso de Valério Romão que ali terminou o seu último romance “Autismo”.
Livros atraem privados
De acordo com José Pinho há um alfarrabista que está interessado em instalar-se em Óbidos, estando agora à procura das condições ideais para o fazer. Um exemplo do que o livreiro considera ser a atractividade da estratégia Vila Literária, que está a começar a interessar os privados. O caso mais visível é o The Literary Man, um hotel temático, dedicado aos livros, mas também já existem um salão de chá (Óbidos Lounge) e uma tabacaria (de Luís Cajão) que tem livraria.
Há ainda espaços, como a Quinta da Azenha, no Olho Marinho que possuía uma biblioteca com títulos únicos e que apostou nela para se promover.
“São experiências ainda embrionárias, mas que mostram que os privados já estão a adaptar a estratégia de Óbidos Vila Literária”, remata.
O livreiro conta que quando chegou à vila, para implementar as suas livrarias, comprometeu-se a colaborar com toda a gente na instalação dos seus próprios espaços. “Eu gostava de chegar a um ano em que só tivesse uma e que todas as outras [livrarias] fossem de pessoas interessadas em tê-las”, refere, acrescentando que a adesão vai crescendo progressivamente.
José Pinho acrescenta que para as coisas funcionarem, por vezes, é necessária uma locomotiva e que em Óbidos existem duas, a Câmara e o próprio livreiro.
Para além dos privados a investir nesta área, têm também contado com novos parceiros que querem instalar-se em Óbidos, como é o caso do Teatro Nacional D. Maria, que quer ter os seus livros à venda na vila. A Óbidos Vila Literária vai também passar a ter algumas edições de institutos e fundações, como a Fundação Saramago e o Inatel. “Também a Tinta da China está com um projecto de se instalar por cá”, disse a vereadora Celeste Afonso, acrescentando que, agora que as “pessoas já perceberam que isto é mais do que um conjunto de livrarias abertas ao público, que é um projecto cultural, já é fácil acreditarem em nós”.
Lançado primeiro livro com o selo “Óbidos Cidade Criativa da Literatura”
“O Castelo” foi o primeiro livro editado com o selo da Cidade Criativa da Literatura. Resulta de uma parceria entre a Óbidos Vila Literária e a Blue Book e é o primeiro de uma colecção, feita com os trabalhos dos alunos das escolas de Óbidos, no âmbito da Fábrica da Criatividade. Esta primeira obra foi criada pelos meninos do pré-escolar e primeiro ciclo e trata-se de uma narrativa inacabada, ou seja, possui páginas em branco para que cada criança as possa completar de acordo com a sua imaginação.
O livro, com um custo de 10 euros, pode ser encontrado nas livrarias. Os alunos do pré-escolar e primeiro ciclo das Escolas d’Óbidos receberam-no também como prenda de Natal.
Para além da relação com as escolas serão também publicados, com esta chancela, obras de investigação ou que cheguem da comunidade.
A parceria da Vila Literária com a editora Blue Book (da gráfica Norpint) nasceu com a primeira edição do Folio e entretanto já foi publicado um livro sobre as Utopias, que reúne uma compilação de textos sobre a temática.
Livrarias previstas para 2016 só abrirão em 2017
Anunciadas no início deste ano, as livrarias previstas para os edifícios centrais do Parque Tecnológico (especializada em banda desenhada e ficção cientifica) e para as instalações da EPAC, à entrada da vila, só abrirão em 2017.
A Labirinto, nome dado à livraria situada nos antigos armazéns de abastecimento de cereais, já “está pronta, faltando apenas a colocação da electricidade”, explicou José Pinho, que espera que esta possa começar a funcionar em Janeiro. Já a do Parque Tecnológico tem o espaço disponível e deverá abrir em 2017, embora ainda sem data prevista.
A primeira livraria, de Santiago, foi aberta há três anos e meio e desde então mais de uma dezena se seguiram. Em termos de vendas, José Pinho informa que são os estrangeiros, especialmente brasileiros e europeus quem adquirem mais obras. No entanto, durante os grandes eventos, como a Vila Natal, o Mercado Medieval ou o Folio, são os portugueses os melhores clientes. “Recentemente, aos fins-de-semana têm-nos aparecido uns clientes fieis da região”, diz, acrescentando que, embora ainda não tenha atingido o ponto de equilíbrio financeiro, as vendas têm vindo a aumentar progressivamente.