Ovni trouxe artistas nepaleses às Caldas

0
1157

A iniciativa OVNI, objectos visuais do Nepal e da Índia, trouxe na semana passada dois artistas nepaleses às Caldas da Rainha. Trata-se de Ashmina Ranjit e Koshal Hamal que deram masterclasses na ESAD e vão voltar a 28 de Novembro para eventos no Museu Malhoa.
Na sexta-feira, 15 de Novembro, foi inaugurada a exposição de fotografia da polaca Agata Wiórko, na Casa Antero, imagens que foram captadas pela autora em Kathmandu e em Varanasi. As duas cidades unem-se às Caldas e a Lisboa, num intercâmbio que quer ter continuidade e ligar artistas e comunidades escolares.

As quatro imagens em grandes formatos vão ser substituídas por outras para dar a conhecer ao público caldense mais olhares sobre a identidade das cidades. “Capto sobretudo coisas que me espantam, além de gostar de fotografar contrastes”, disse a autora que possui mestrado em Estudos Culturais e de Crítica de Arte e que é actualmente doutoranda de Universidade da Católica em Lisboa, além de ser bolseira da FCT. Agata Wiórko é polaca, vive em Portugal há seis anos e há meio ano nas Caldas.
Gosta de aqui morar pois “é uma cidade pequena mas que tem tudo”, referiu a autora. Na sua opinião um projecto como o OVNI deveria acontecer mais vezes pois são intercâmbios como este que “permitem aprender e partilhar outras formas de trabalhar, além de ser uma óptima oportunidade para voltar a viajar”.
Por outro lado, dezenas de alunos da ESAD tiveram a oportunidade de trabalhar com os artistas nepaleses. Ashmina Ranjit trabalhou a performance com o curso de Artes Plásticas enquanto que Koshal Hamal organizou um workshop de pintura que teve como objectivo reflectir sobre as cidades.
Este exercício de arte abstracta será repetido na universidade nepalesa onde Koshal Hamal lecciona. Nas Caldas foi usada uma imagem base de Kathmandu, enquanto que para o exercício base no Nepal vai ser usada uma imagem relativa às Caldas da Rainha. “Será uma forma de unir os estudantes de dois países através deste exercício artístico”, contou Koshal à Gazeta das Caldas.
“A ideia principal da arte é de conectar a sociedade e não provocar distanciamento”, disse o artista que, após uma viagem a Berlim, vai regressar para participar na exposição que terá lugar no Museu Malhoa no final de Novembro.

Arte como activismo

Com Ashmina Ranjit, cada aluno era convidado a apresentar-se através da performance. Segundo a autora que se considera uma artivista “foi muito comovente pois houve uma grande entrega dos alunos com quem quero voltar para trabalhar mais uma vez”, disse a autora. Ashmina Ranjit é artista e ativista, reflectindo nas suas criações sobre o facto de ainda se viver numa sociedade patriarcal dominante, questionando sempre a questão do status, para procurar uma sociedade igualitária. Trabalha também o papel da mulher na actualidade, tendo feito uma performance em Lisboa, no âmbito do Ovni que reflectia sobre o facto do corpo da mulher ser visto como objecto sexual ao longo dos séculos. Esta artista gostaria de se ter encontrado com nepaleses emigrados em Portugal para “que eles contassem como tem sido a sua experiência de migrantes e criar algo sobre o assunto”.
A docente de Performance no curso de Artes Plásticas da ESAD Teresa Luzio, acha que iniciativas de intercâmbio deveriam multiplicar-se dado que “contactar com culturas e modos de fazer diferentes do nosso é sempre profundamente enriquecedor”. Em contexto académico, estes contactos permitem criar ligações multiculturais, criando condições para que todos possam aprender num mesmo contexto artístico.
O curador Filipe Garcia também faz parte do Ovni. Viaja por todo o Oriente e expõe o seu trabalho em vários países. Actualmente possui uma mostra em Timor e sublinhou a presença da espiritualidade em iniciativas como o Ovni e onde o autor vai também participar com yoga.
O coordenador da iniciativa Mário Caeiro afirmou que o país precisa de estabelecer mais redes com artistas de outros países e garante que Ovni terá continuidade com o intercâmbio de participantes dos três países. O projecto terá continuidade a 28 de Novembro, no Museu Malhoa, com exposições deste evento onde vão participar os artistas portugueses Cristina Ataíde, Pedro Bernardo, Filipe Garcia, Filipe Garcia e Pauliana Valente Pimentel.
O programa vai estender-se até 25 de Janeiro, incluindo exposições, conferências, palestras, masterclasses, acções de arte urbana, aulas abertas e um workshop transdisciplinar. Encerrará a iniciativa uma aula aberta de yoga, pelo Centro do Yoga Áshrama das Caldas da Rainha, no espaço do Museu José Malhoa.