Foi com o pequeno auditório do CCC a abarrotar de gente, que estreou Perto de Nós, a peça dos alunos finalistas de Teatro da ESAD. A peça foi representada nas Caldas a 26 e 28 de Janeiro e nos próximos dias 3 e 4 de Fevereiro passará pela Comuna Teatro de Pesquisa, em Lisboa.
Gazeta das Caldas assistiu à peça e conheceu alguns dos futuros actores, que se preparam para uma nova fase das suas vidas.

O pequeno auditório estava a média luz e na zona de palco estavam 21 jovens, que agora terminam o curso de teatro da ESAD. O público sentou-se e começou “Perto de nós”. A peça conta a história de um rapaz que desaparece nos bosques durante 27 anos para questionar o que é realmente essencial, quando tudo o resto se acaba, ou está longe, ou ficou para trás.
Os alunos deram corpo e alma às várias personagens que contam a história verídica de Chris Knight, o eremita de North Pond, no Maine (EUA). Interpretaram a peça e, em muitos momentos, representam-se a si próprios, falando na primeira pessoa, questionando quem são, o que fazem e para onde estão a seguir. Entre os actores há também músicos e, por isso, a representação foi pontuada por momentos musicais.
O texto original da peça foi escrito pela docente Joana Craveiro, a partir do livro Fora do Mundo, de Michael Finkel. A docente ensina na ESAD desde 2007 e não podia estar mais feliz com a estreia dos seus alunos no CCC. “A dramaturgia ocidental não tem peças que dêem igual oportunidade a 21 pessoas em cena e por isso a minha opção foi escrever uma peça que permitisse isso”, disse.
Joana Craveiro começou por guardar um recorte de jornal que dava a conhecer a história do eremita de North Pond. Depois trocou e-mails com o jornalista e escritor Michael Finkle que entrevistou o jovem que esteve nos bosques durante 27 anos. E foram essas entrevistas que acabaram por dar origem ao livro “Fora do Mundo”.
“Trabalhámos com diversas camadas: o autor não explica porque é que Christopher Kinight fez aquela opção de ir viver para os bosques”, disse Joana Craveiro que conhece bem os seus alunos e quis passar para a peça “se eles podiam ser esta pessoa, se é algo que nos poderia acontecer”.
Sobre esta apresentação de estreia nas Caldas, a docente referiu como é importante haver uma ligação da escola à comunidade, sobretudo numa altura em que os alunos “se dão a conhecer ao público e ao meio teatral em Lisboa”. Já para os estudantes foi importante “dar este salto e fazer a apresentação da peça numa sala profissional, perante 140 pessoas”. A docente espera que a ligação entre a escola e a cidade seja para continuar.
Patrícia Lopes, 20 anos, Montereal (Leiria)
“Este foi o nosso momento”
Foi surpreendente estudar estes três anos nas Caldas. Inicialmente não era aqui que eu queria ficar, mas ao fim de três semanas mudei de ideias. A cidade é um local acolhedor e damo-nos todos bem.
Esta peça foi o nosso projecto final, que já dura desde Setembro do ano passado. Este é o nosso momento, que nos permite dar um passo importante no início da nossa vida profissional. Está a ser uma óptima experiência que ainda vamos apresentar em Lisboa. Depois do estágio, gostava de ficar a trabalhar em Portugal e passar por experiências teatrais, de TV e de cinema.
No CCC ainda só tinha sido público e gostei muito de passar para o lado da representação. Tenciono voltar às Caldas, claro. É um lugar que fica guardado. Acho que vou voltar para conhecer os novos alunos de Teatro para ver se eles dão continuidade ao trabalho que nós fomos semeando ao longo destes três ultimos anos.
Beatriz Filomeno, 22 anos, Castelo de Vide
“Quero especializar-me em figurinos”
Viver nas Caldas foi giro e senti-me bem, como se estivesse em casa. Primeiro queria ir para o Porto, mas depois aconselharam-me a ESAD pois a escola tinha uma forte relação com a cidade e eventos como o Caldas Late Night ou o Festival Ofélia. Ambos trazem sempre muita gente de fora da cidade.
Com o curso acabado e com o estágio profissional terminado, além de actriz também gostava de me especializar em figurinos. Recomendo a escola pois está num sítio inspirador, dentro do pinhal. Sabe bem estudar num local assim.
É só uma turma por curso e, por isso, estabelecemos uma ligação forte. Espero voltar e vir cá ter com os meus colegas.
João Ferreira, 20 anos, Lisboa
“Hoje somos 21 pessoas diferentes”
Estudar nas Caldas foi uma aventura pois saí de casa pela primeira vez. Fez-me perceber que eu ia mudar. As Caldas mudaram-me!
O curso de Teatro é bom, mas há coisas a melhorar, como em tudo.
Fiz novos amigos e creio que todos mudámos para melhor. Hoje somos 21 pessoas diferentes.
Quero ser actor e o meu último objectivo profissional é ensinar.
Para já gostava de trabalhar em teatro. Gosto de poder trabalhar ao vivo. Gostei imenso de representar aqui a peça, numa sala totalmente profissional.
Em Perto de Nós representámos a história do eremita, dando vida às personagens e a nós próprios também.
Bruno Batista, 20 anos, Caldas da Rainha
“Sou o único cá das Caldas”
Sou o único das Caldas deste ano do curso de Teatro. Foi uma experiência muito boa. Em relação à construção desta peça, foi interessante pois começámos do zero. Trabalhámos com a professora Joana Craveiro e com base no livro fizemos esta peça, que foi uma experiência diferente. Vou fazer o estágio em Leiria na companhia Leirena.
Eu sou cantor e também tive aulas de bateria. A minha prioridade é cantar, além de que também escrevo as minhas próprias músicas. Gostava de poder combinar a vertente musical com o teatro.
Eu acho que se não houvesse ESAD nas Caldas, a cidade seria muito diferente. A escola dá aquela plataforma para as pessoas poderem explorar a sua criatividade. O curso precisa de melhorias mas ajudou-nos a crescer, mesmo para mim que acabei por ficar em casa. O curso deu-nos ferramentas para começarmos a perseguir os nossos sonhos.