A quarta edição do Fólio, que termina no próximo domingo, faz-se com “escritores da modernidade, que conseguem antever o futuro”, disse o presidente da Câmara, Humberto Marques, durante a inauguração do festival, a 27 de Setembro. O “equilíbrio” entre o ócio e negócio orienta a programação do evento que quer “criar pensamento crítico, atrair e reconstruir talentos” locais.
O público tem correspondido, com salas compostas, ou completamente cheias quando se trata de escritores consagrados, como Pepetela, ou dos humoristas Gregório Duvivier e Ricardo Araújo Pereira.
“Você está a tornar-se tão popular que, não teme que quando o professor Marcelo [Rebelo de Sousa] terminar o segundo mandato, seja uma hipótese para a presidência?” A pergunta veio de um admirador entre a vasta plateia que ouvia o humorista Ricardo Araújo Pereira. E a resposta não se fez esperar: “É muito raro termos a demonstração de que Óbidos é a vila da ginjinha”, gracejou o humorista, para concretizar que não há nenhuma hipótese disso acontecer, primeiro porque não há nenhuma vaga e depois porque o seu trabalho é “fazer pouco” do Presidente da República. “Nunca aceitaria ser despromovido”, disse, acrescentando que a sua popularidade não serve para muito mais do que conseguir entrar na maternidade para ver a sobrinha com o bebé antes dos restantes familiares, ou passar à frente na fila num restaurante que está cheio.
O humorista esteve em Óbidos no passado domingo para apresentar o seu novo livro “Estar vivo aleija”, que compila as crónicas publicadas durante o último ano e meio no jornal Folha de São Paulo, no Brasil. Durante cerca de hora e meia falou sobre a obra e, sobretudo, respondeu a muitas e variadas perguntas, como qual o seu top três de interjeições preferidas, se há temas universais no humor e quais as suas referências nessa área. Houve quem lhe perguntasse se vai escrever sobre o candidato à presidência do Brasil, Jair Bolsonaro, e Araújo Pereira respondeu que actualmente, naquele país, o Carnaval é mais respeitável que a Câmara dos Deputados. Isto porque “uns energúmenos quaisquer” inscreveram-se para sambar, em celebração da ditadura militar e das torturas da polícia política e foram proibidos de participar no desfile, mas o Bolsonaro pôde dizer, na Câmara dos Deputados, “eu voto pela destituição da Dilma em homenagem ao homem que a torturou”, exemplificou.
Ricardo Araújo Pereira, que já deu nome a uma biblioteca na Sertã, falou para muitos professores na sala e defendeu que se deve falar de literatura de uma maneira mais apelativa. “Acho que a maneira como se dá os Lusíadas repele os miúdos até de lerem a Playboy”, disse o humorista, para quem o melhor da sua profissão é “não ter responsabilidade nenhuma”.
Por Óbidos também já passou o escritor angolano Pepetela, que esteve à conversa com o seu jovem conterrâneo Ondjaki sobre o seu mais recente livro “Sua Excelência, de corpo presente” e sobre a realidade africana. Perante uma sala repleta, o autor de mais de 20 obras, disse que este poderá ter sido o seu último livro sobre a realidade histórica angolana pois acredita que o país possa ter entrado num novo ciclo, apesar da corrupção ainda ser um problema. “Este livro é, talvez, uma forma de ajudar a fechar o ciclo”, disse o autor, que acredita que África ainda poderá dar um exemplo à Europa em termos de mais tranquilidade e melhor relacionamento.
Pepetela entende que Angola está diferente e que desde há um ano para cá a esperança renasceu. “Claramente há mudanças”, disse o escritor, exemplificando com uma maior proximidade do governo às pessoas e com uma maior pluralidade nos órgãos de informação. “Dá a ideia de que há uma vontade de mudança, de luta contra a corrupção”, acrescentou, dando conta das recentes detenções de “um antigo ministro, do antigo governador do Banco Nacional de Angola e até de um filho de um ex-presidente”, referindo-se a José Filomeno dos Santos.
Embora optimista por natureza, o vencedor do Prémio Camões em 1997, reconheceu que Angola está pior do ponto de vista económico, com redução das pensões, falta de criação de empregos e de investimento.
“Acontecimento obrigatório”
Momentos antes desta conversa, o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, inaugurava a PIM – Mostra de Ilustração para Imaginar o Mundo, na novaOgiva, e entregava o Prémio Nacional de Ilustração, que distinguiu o livro “Não é nada difícil”, de Madalena Matoso.
Coordenada por Mafalda Milhões, a mostra centra-se na invenção do futuro, com a apresentação, pelos três pisos do edifício, de ilustrações que nunca foram editadas. No mesmo local podem ser vistos ilustrações de homenagem a Sophia de Mello Breyner.
Para o governante, esta exposição é um “acontecimento obrigatório” no mundo da ilustração portuguesa e que está integrada num festival “que é muito importante que se mantenha e continue”. De visita ao evento pela terceira vez, Luís Filipe Castro Mendes disse que é uma iniciativa “altamente louvável” e que só tem “pena de não passar aqui muitos dias, no convívio com autores, editores e o mundo do livro”.
Também a secretária de Estado da Habitação, Ana Pinho, veio ao Folio, marcando presença na inauguração, depois de já lá ter estado, a título pessoal, numa edição anterior. A governante disse tratar-se de “um evento que está também ligado à habitação”, uma vez que o tema “Ócio, Negócio” está subjacente “às razões que levam alguém a permanecer nos seus territórios ou a ser atraídos para outros”. É que a oferta cultural existente é um factor muito importante de fixação de população.
DOZE EXPOSIÇÕES
A par da mostra de ilustração, existem mais 12 exposições que podem ser vistas em diversos espaços da vila. Do Brasil veio a mostra “Hilda Hilst – Fotografias de Fernando Lemos”, enquanto que o Instituto Cervantes, de Espanha, cedeu “Palabra de Honor – Retratos a Lápis dos Poetas da coleção”, que se encontra patente na Casa da Música.
Da produção local podem ser vistas duas mostras de alunos da ESAD, uma com os trabalhos realizados pelos finalistas dos cursos de licenciatura e mestrado em Artes Plásticas, nos antigos armazéns da EPAC, e outra dos alunos da licenciatura em Design de Produto Cerâmica e Vidro no Centro de Design de Interiores (CDI).
Na Biblioteca Municipal esta patente a exposição “Depois do Folio – Livro livre 2017”, elaborada pelos alunos do Complexo Escolar do Furadouro, do Agrupamento de Escolas Josefa de Óbidos.
Esta edição destaca os 20 anos sobre a atribuição do prémio Nobel da Literatura a José Saramago. A viúva, Pilar del Rio, esteve à conversa com Anabela Mota Ribeiro sobre o dia em que recebeu a notícia, mas também para recordar o “serralheiro mecânico que quis ser escritor e conseguiu sê-lo”, disse em relação a Saramago.
Mas o Folio faz-se também de música e animação. “Cada um é para o que nasce e eu nasci para o fado”, começou por cantar Ricardo Ribeiro (na primeira noite do festival), demonstrando-o durante todo o espectáculo. Pela cerca já passaram também Fábia Rebordão, JP Simões e Mafalda Veiga, entre outros, em noites que terminam já de madrugada na Boémia, animada por cantores e DJs, muitos deles da região, como os Fat&Slim. Ao todo são mais de 830 horas de programação.
Este website utiliza cookies para que possamos proporcionar ao utilizador a melhor experiência possível. As informações dos cookies são armazenadas no seu browser e desempenham funções como reconhecê-lo quando regressa ao nosso website e ajudar a nossa equipa a compreender quais as secções do website que considera mais interessantes e úteis.
Cookies Necessárias
As Cookies Necessárias devem estar sempre ativadas para que possamos guardar as preferências do utilizador relativamente às definições de cookies.
Se desativar este cookie, não poderemos guardar as suas preferências. Isto significa que, sempre que visitar este sítio Web, terá de ativar ou desativar novamente os cookies.
Cookies de Terceiros
Este website utiliza o Google Analytics e o Echobox para recolher informações anónimas, como o número de visitantes do sítio e as páginas mais populares.
Manter este cookie ativado ajuda-nos a melhorar o nosso sítio Web.
Por favor, active primeiro os cookies estritamente necessários para que possamos guardar as suas preferências!
Cookies de Marketing
Este site usa as seguintes cookies para analisar como é que utiliza o site para o podermos melhorar:
Microsoft Clarity
Por favor, active primeiro os cookies estritamente necessários para que possamos guardar as suas preferências!